Yftach Gepner, Rachel Golan, Ilana Harman-Boehm, Yaakov
Henkin, Dan Schwarzfuchs, Ilan Shelef, Ronen Durst, Julia Kovsan, Arkady
Bolotin
Ann Intern Med 2015,163:569-579
Trata-se
de um ensaio clínico randomizado com o objetivo de avaliar o efeito do início
do consumo moderado de vinho no risco metabólico em pacientes com diabetes tipo
2 previamente abstêmios. Os pacientes foram randomizados em três grupos para consumo ao jantar de 150
ml de vinho tinto, vinho branco ou água, respectivamente. Todos os
participantes do estudo recebiam orientação de seguir a dieta mediterrânea sem
restrição de calorias. A aderência era controlada pelas garrafas vazias
devolvidas. Eram incluídos os pacientes
diabéticos tipo 2 com idade entre 40 e 75 anos. Eram excluídos aqueles que
ingerissem mais de 1 drink por semana, história familiar ou pessoal de adição,
AVC, IAM e tabagismo, uso de esquema intensivo ou bomba de insulina, valores de
HbA1c abaixo de 6,4% ou acima de 10%, pacientes com hipertrigliceridemia e
gestantes. Perfil lipídico
(HDL e triglicerídeos) e controle glicêmico (glicemia de jejum e HOMA-IR) eram os desfechos primários do estudo.
Pressão arterial, circunferência abdominal, interação genética, segurança e
qualidade de vida foram desfechos secundários.
Os
pacientes tinham em média 60 anos, eram em sua maioria homens (69%), tinham uma
hemoglobina glicada de 6,9%, LDL 93 mg/dL e apenas 27% faziam uso de insulina.
Foram incluídos 224 pacientes (83 no grupo controle; 68 no grupo vinho branco e
73 no grupo do vinho tinto), destes 194 completaram o estudo, mas foram
analisados os dados de todos os pacientes randomizados. Houve um aumento de 2 mg/dL nos níveis de HDL no grupo vinho
tinto quando comparado à água (P < 0,01) após 2 anos de seguimento. O vinho
tinto também foi superior ao controle quanto ao aumento na apolipoproteína A
(+0,03 g/L; P = 0,05) ao final do estudo. No entanto, nos primeiros 6 meses de
seguimento, nota-se uma melhora nesses parâmetros nos 3 grupos avaliados.
Quanto à glicemia de jejum, houve uma melhora da glicemia no grupo do vinho
branco (-17,2mg/dL; P = 0,004) e um aumento do HOMA-IR (+1,2 pontos; P = 0,019)
após 2 anos. Neste desfecho, o vinho
tinto obteve resultados semelhantes ao controle no mesmo período de seguimento. No clube de revista
discutimos:
- A melhora dos níveis de HDL ocorreu nos três grupos nos primeiros 6 meses de forma semelhante, o que reforça o papel da dieta mediterrânea (seguida pelos três grupos) e da orientação nutricional, independentemente do consumo do vinho;
- A melhora dos níveis de HDL e apolipoproteína A foi bastante modesta e não é clinicamente significativa;
- O efeito dos fenóis do vinho tinto na melhora do perfil lipídico dos pacientes (sugerido na discussão) não tem base na literatura e não explica a melhora que todos os grupos apresentaram nos primeiros 6 meses de estudo;
- A glicemia de jejum isolada não reflete o controle glicêmico dos pacientes e a melhora vista no grupo do vinho branco pode ser decorrente apenas do efeito hipoglicemiante do álcool. A HbA1C por sua vez, não foi diferente entre os grupos, como já tinha sido demonstrado em um estudo semelhante do mesmo grupo de autores;
- Os resultados do estudo têm validade externa limitada, pois os pacientes tinham diabetes muito bem controlado e estavam em dieta Mediterrânea.
Pílula do Clube: O consumo moderado de vinho no diabetes tipo 2 não se
associa com benefícios clinicamente significativos quanto ao controle
metabólico e lipídico. Os benefícios atribuídos ao vinho foram observados em
todos os três grupos na avaliação após 6 meses, o que indica que devem estar relacionados
à dieta mediterrânea, adotada por todos.
Discutido
no Clube de Revista de 26/10/2015.
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