Hyeyeun Lim, Susan S. Devesa, Julie A. Sosa, David
Check, Cari M. Kitahara.
JAMA
2017, 317: 1338-1348.
Trata-se de estudo retrospectivo que avaliou incidência e mortalidade
por câncer de tireoide nos Estados Unidos. O estudo teve como objetivo comparar
a tendência da incidência e da mortalidade por câncer de tireoide de acordo com
as características do tumor (tamanho, estadiamento) e características
demográficas (idade, sexo, raça) dos pacientes, buscando avaliar se houve real aumento
na incidência de câncer de tireoide ou excesso de diagnósticos e se o aumento
da mortalidade observada por esse tumor seria consequência do diagnóstico em
estágios mais avançados. Foi realizada revisão do banco de dados SEER-9 (Surveillance, Epidemiology and End
Results-9),
incluindo todos os pacientes com câncer de tireoide diagnosticado entre 1974 e
2013. Com intuito de garantir melhores informações e prevenir a superestimação de
óbitos nos primeiros anos do acompanhamento, na análise de mortalidade foram
incluídos óbitos por câncer de tireoide ocorrido de 1994 e 2013. Diagnósticos
em necropsia ou atestado de óbito foram excluídos da análise.
Dos 77.276 pacientes com câncer de tireoide diagnosticados entre
1974 e 2013, 75% eram mulheres, idade média ao diagnostico foi 48 anos e 64.625
apresentavam o subtipo papilar. Entre 1994 e 2013 ocorreram 2.371 mortes pela
doença. A incidência de câncer de tireoide aumentou em média 3,6%/ano (IC95%
3,2 – 3,9%), relacionada a aumento expressivo do carcinoma papilar (percentual
de variação anual de 4,4% [IC95% 4,0 – 4,7%]). Houve aumento da incidência de
câncer papilar de tireoide em todos os estágios (localizado, 4,6% ao ano;
regional, 4,3% ao ano; metástases à distância, 2,4% ao ano; desconhecido, 1,8%
ao ano). A incidência de mortalidade aumentou 1,1% ao ano (IC95% 0,6 – 1,6%) no
período estudado, sendo 2,9% ao ano (IC95% 1,1 – 4,7%) se considerados somente
os pacientes com câncer papilar e metástases à distância. Durante o Clube de Revista
foram discutidos os seguintes aspectos:
·
O percentual de mudança anual da
incidência do câncer de tireoide foi maior entre os anos de 1997 e 2009,
chegando a 6,7% ao ano, provavelmente em decorrência do aumento da
disponibilidade de exames de imagem neste período. Nos anos subsequentes houve
tendência à redução da incidência, que pode ser explicada pela conduta mais
conservadora preconizada, tendo em vista os efeitos adversos de tratamentos
excessivos em pacientes de baixo risco;
·
O estudo reforça a ideia de que o
aumento da incidência do câncer de tireoide é real e não apenas secundário ao
excesso de diagnósticos, uma vez que houve aumento de tumores < 2 cm e
também de tumores entre 2 e 4 cm e estágio TNM IV;
·
Embora o estudo cite a epidemia de
obesidade e a diminuição do tabagismo como possíveis fatores contribuintes para
o aumento da incidência de câncer de tireoide, esta relação causal é
especulação;
·
O fato de o estudo incluir as
mortes apenas a partir de 1994 pode ter determinado viés, ao subestimar a
mortalidade no início do acompanhamento;
·
Como não foi avaliado o tipo de
tratamento realizado pelos pacientes, bem como exposições ambientais e fatores
relacionados ao estilo de vida, fatores de confusão podem etr influenciando os
resultados.
Pílula do clube: Parece haver uma tendência real
de aumento da incidência de câncer de tireoide entre 1974 e 2013 nos Estados
Unidos, assim como aumento da mortalidade por carcinoma papilar avançado. Entretanto,
o estudo possui algumas limitações, sendo necessário observar se esta tendência
se manterá ao longo do tempo.
Discutido no Clube de
Revista de 29/5/2017