sábado, 20 de junho de 2020

Five-Year Outcomes of Gastric Bypass in Adolescents as Compared with Adults


Thomas H Inge, Anita P Courcoulas, Todd M Jenkins, Marc P Michalsky, Mary L Brandt, Stavra A Xanthakos, John B Dixon, Carroll M Harmon, Mike K Chen, Changchun Xie, Mary E Evans, Michael A Helmrath, Teen–LABS Consortium

N Engl J Med 2019, 380(22):2136-2145.

A cirurgia bariátrica representa uma alternativa terapêutica efetiva para perda de peso em pacientes com obesidade e também na melhora de doenças crônicas que esses pacientes apresentam no contexto pré-cirúrgico. Diversas evidências sugerem que os pacientes que procuram e são submetidos a procedimentos bariátricos têm maior prevalência de comorbidades como diabetes, hipertensão, dislipidemia, disfunção renal e respiratória, limitações para deambular e edema venoso de membros inferiores quando esses pacientes já se apresentavam obesos desde a sua adolescência. Assim, o presente estudo propõe analisar desfechos em 5 anos após bypass gástrico em Y de Roux em uma coorte de adolescentes comparado a uma coorte de adultos submetidos ao mesmo procedimento e que eram obesos na adolescência. Os autores tinham como hipótese que a realização da cirurgia bariátrica em pacientes com obesidade severa obteria maiores taxas de remissão de comorbidades quando realizada precocemente.
            O estudo incluiu pacientes de dois grandes estudos observacionais, prospectivos, multicêntricos que avaliaram casos consecutivos de cirurgia bariátrica. O estudo Teen-LABS incluiu o total 242 pacientes de idade menor ou igual a 19 anos, em 5 centros diferentes, entre os anos de 2006 e 2012. Cerca de 70% dessa amostra foi submetida ao procedimento de bypass gástrico em Y de Roux, sendo incluídos no estudo apresentado 161 pacientes adolescentes. Já os pacientes adultos foram selecionados do estudo intitulado LABS, que incluiu pacientes obesos com mais de 18 anos, em 10 centros, entre os anos de 2006 e 2009. De um total de 2.458 pacientes, 1.738 realizaram bypass gástrico em Y de Roux e 396 desses fechavam critérios para obesidade quando estavam na idade de 18 anos, o que foi avaliado por meio de aplicação de questionários, e realizaram o procedimento entre as idades de 25 e 50 anos. Em ambos os delineamentos os pacientes foram avaliados na época da cirurgia (até 30 dias antes do procedimento), 6 meses no período pós-operatório, e após anualmente até fechar cinco anos de acompanhamento.
Foram determinados como desfechos primários a variação de peso e IMC em 5 anos, a remissão de diabetes tipo 2 (definida como HbA1c inferior a 6,5% ou glicemia de jejum inferior a 126 mg/dL na ausência do uso de hipoglicemiantes) e de hipertensão arterial (pressão arterial sistólica inferior a 140 mmHg e diastólica inferior a 90 mmHg na ausência do uso de anti-hipertensivos). Foram também analisados como desfechos secundários a hipoferritinemia (definida como ferritina sérica inferior a 10 ug/L em mulheres e inferior a 20 ug/L em homens), hipovitaminose B12 (definida como vitamina B12 sérica inferior a 145 pg/mL) e a ocorrência de novos procedimentos abdominais. Para análise estatística foram utilizados os modelos mistos linear e de Poisson e, para calcular a taxa de novos procedimentos abdominais, foi utilizado a regressão de Poisson sendo a taxa de incidência expressa em número de evento a cada 500 pessoas-ano.
            Não houve diferença na porcentagem de variação de peso entre adolescentes (-26%; intervalo de confiança [IC] 95%, -29 até -23) e adultos (-29%, IC 95%, -31 até -27) em 5 anos após a cirurgia bariátrica (P=0,08). Entretanto, os adolescentes apresentaram maior probabilidade que os adultos de remissão de diabetes tipo 2 (86% vs. 53%; razão de risco de 1,27; IC 95%, 1,03 a 1,57) e de hipertensão (68% vs. 41%; razão de risco de 1,51; IC 95%, 1,21 a 1,88). Três adolescentes (1,9%) e sete adultos (1,8%) morreram no seguimento de 5 anos pós-procedimento. A taxa de incidência de novos procedimentos abdominais foi maior entre adolescentes que em entre adultos (19 vs. 10 reoperações por 500 pessoas-ano, P=0,003). Em relação aos desfechos nutricionais, em dois anos de seguimento os adolescentes apresentaram menores níveis de ferritina que os adultos (72 de 132 pacientes [48%] vs. 54 de 179 pacientes [29%], P=0,004), assim como menores níveis de 25-hidroxivitamina D (38%; IC 95%, 28 a 51, vs. 24%, IC 95%, 18 a 32, P=0,02). Não houve uma incidência expressiva de hipovitaminose B12 ao longo dos dois anos de seguimento analisados (4% dos pacientes em ambas as coortes). Os seguintes pontos foram discutidos no Clube:
·         Estudo com limitações atreladas ao delineamento observacional, mas principalmente pela dificuldade de se ter um grupo controle quando já existe uma proposta de tratamento cirúrgico estabelecido;
·         Os autores não apresentam, no artigo principal e nem no apêndice, qual foi o tempo total das comorbidades, principalmente de diabetes tipo 2;
·         Adolescentes naturalmente apresentam menor tempo de comorbidades, o que poderia influenciar a facilidade em que esses pacientes apresentam para remissão;
·         Adolescentes sustentaram menos a perda de peso do que os adultos ao longo dos 5 anos de seguimento. Essa observação sugere reganho de peso e necessidade de nova abordagem terapêutica na vida adulta, porém em um paciente no contexto pós-cirúrgico, submetido a mudanças anatômicas e nutricionais decorrentes da cirurgia bariátrica;
·         Não se sabe como a cirurgia bariátrica pode influenciar a vida fértil e o efeito na prole dos pacientes que se submetem ao procedimento durante a adolescência;
·         Adolescentes apresentaram maior taxa de reoperação abdominal, o que pode implicar em maior risco de comorbidades cirúrgicas;
·         Uma discussão mais profunda sobre o impacto psicológico e no abuso de substâncias que a cirurgia bariátrica pode impor ao paciente adolescente é necessária, uma vez que essa população vive em processo dinâmico de desenvolvimento psíquico, anatômico, hormonal e fisiológico.

Pílula do Clube: Adolescentes apresentam remissão de diabetes tipo 2 e hipertensão após cinco anos de bypass gástrico em Y de Roux mais frequentemente que adultos, porém esse mesmo grupo esteve envolvido com maior necessidade de novos procedimentos abdominais e deficiências nutricionais.

Discutido no Clube de Revista de 25/05/2020.

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