JAMA Intern Med. 2016;176(6):743-752.
Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, comparando 2 anos de restrição calórica (RC) de 25% à ingestão livre (ad libitum). Testou-se a hipótese de que a restrição calórica de 25% do basal melhoraria humor, sono, função sexual e qualidade de vida. Foram incluídos homens de 20 a 50 anos e mulheres de 20 a 47 anos, com IMC de 22 a 28 kg/m2. Os critérios de exclusão foram história de DCV, diabetes, colelitíase, câncer, anemia, hipercalemia, LDL > 190, ALT > 1,5 vezes o limite, alterações psiquiátricas, história de abuso de álcool de drogas, estar amamentando, BDI > 20 (escore de depressão), prática de atividade física intensa. 220 pacientes foram incluídos e randomizados, 145 para RC e 75 para ad libitum. Todos pacientes receberam orientações iniciais para alimentação saudável e atividade física. O grupo da RC recebeu a alimentação no primeiro mês e realizou encontros semanais com profissional da saúde, visando aderência ao plano. Era realizado recordatório alimentar diário. O peso era utilizado como marcador de aderência. Os desfechos foram aferidos por questionários nos tempos 0, 12 e 24 meses. O humor foi avaliado pelo escore BDI e POMS. Qualidade de vida foi aferida pelo escore SF-36 e PSS. Sono foi aferido pelo escore de Pitsburg e função sexual pelo DISF-SR. Em homens foram coletados testosterona, LH, FSH e SHBG no inicio e ao final do estudo. A análise foi realizada por intenção de tratar. Erro tipo 1 era controlado através de gatekeeping strategy. Método de análise de medidas repetidas foi utilizado. Correlação de Spearman foi usada para medidas não paramétricas.
Ao final do estudo 81% e 97% dos pacientes da RC e do grupo ad libitum, respectivamente, completaram o estudo. O grupo de RC apresentou perda de 15% (8,3 kg) do peso aos 12 meses e 11,4 % (7,6 kg) aos 24 meses e redução de 2,6 pontos no IMC, com IMC médio ao final do estudo de 22,6 kg/m2. O grupo ad libitum não apresentou diferença no peso. O grupo de RC apresentou melhora do escore de depressão (BDI) vs. grupo controle (-0,76 IC95% -1,41 a -,11 P < 0,04]. Apresentou também redução da tensão (escore POMS; -0,79 IC95% -1,38 a -1,19 P < 0,01). Na avaliação da qualidade de vida apenas o quesito saúde geral foi melhor no grupo de restrição calórica quando comparado ao controle (6,45 IC95% 3,93 a 8,98 P < 0,01). O escore de qualidade do sono foi semelhante entre os grupos, porém o grupo RC apresentou duração maior de sono vs. grupo controle (−0,26 IC95% −0,49 a −0,02 P < 0,05). O grupo RC apresentou maior tendência a ter relacionamentos e vida sexual vs. grupo controle (1,06 IC95% 0,11 a 2,01 P < 0,01). Os homens apresentaram discreta diminuição do desejo sexual, além da diminuição da testosterona total e aumento do SHBG. Durante o clube foram discutidos os seguintes aspectos:
- Na avaliação do quesito depressão o basal de humor dos indivíduos selecionados era baixo para depressão e a mudança apesar de ser estatisticamente significativa não reflete mudança clínica importante;
- O grupo selecionado para a realização da restrição calórica foi considerado um grupo ideal, com as melhores condições possíveis para a realização do mesmo, portanto este estudo possui limitada validade externa; a extrapolação para a população em geral deve ser feita com cuidado;
- Houve tendência à diminuição da vontade sexual no homem, com diminuição da testosterona total e aumento da SHBG;
- As mudanças observadas no grupo RC podem se dever a diversos fatores de confusão como perda de peso, acompanhamento médico regular e alimentação saudável.
Pílula do Clube: A restrição calórica em humanos não obesos não demonstrou benefícios claros nos quesitos avaliados quando comparada a grupo que alimentou-se ad libitum. Não foram observados efeitos negativos com a implementação deste tipo de dieta, no entanto.
Discutido no Clube de Revista de 18/07/2016.