sexta-feira, 7 de abril de 2023

Intermittently Scanned Continuous Glucose Monitoring for Type 1 Diabetes

 L. Leelarathna, M.L. Evans, S. Neupane, G. Rayman, S. Lumley, I. Cranston, P. Narendran, K. Barnard-Kelly, C.J. Sutton, R.A. Elliott, V.P. Taxiarchi, G. Gkountouras, M. Burns, W. Mubita, N. Kanumilli, M. Camm, H. Thabit, and E.G. Wilmot, for the FLASH-UK Trial Study Group*

N Engl J Med 2022; 387:1477-87.

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2205650


 O advento de tecnologias associadas ao diabetes, o desenvolvimento de sistemas de monitoramento contínuo de glicose (sistemas de varredura intermitente ou sistemas em tempo real) facilitou a avaliação do controle glicêmico, foco principal do tratamento do diabetes tipo 1 (DM1).

Foi conduzido um estudo randomizado, multicêntrico (Reino Unido), aberto e controlado para determinar se o uso do monitoramento contínuo da glicose com varredura intermitente com alarmes opcionais, em comparação com o monitoramento tradicional da glicemia com o teste da picada no dedo, reduz a glicemia e aumenta a satisfação com o tratamento de pacientes com DM1. 

Foram incluídos pacientes com DM1 por pelo menos um ano, em tratamento com sistema de infusão contínua de insulina ou múltiplas doses diárias por pelo menos 12 semanas, idade > 16 anos e  hemoglobina glicada (HbA1c) > 7,5 e < 11%. Os principais critérios de exclusão foram o uso atual de monitores contínuos de glicose em tempo real ou por varredura intermitente por mais de 4 semanas nas 12 semanas anteriores, gravidez e hipoglicemia com perda completa de consciência. 

Os participantes foram aleatoriamente designados em dois grupos (1:1): intervenção (monitoramento contínuo de glicose com varredura intermitente e alertas opcionais – FreeStyle Libre 2) vs cuidados habituais (monitorar a glicemia com o uso do teste de punção digital). A randomização foi realizada com um sistema baseado na Web. O fabricante do dispositivo não esteve envolvido no estudo. 

O desfecho primário foi a HbA1c 24 semanas após a randomização (avaliado por modelo linear). Os desfechos secundários incluíram HbA1c em 12 semanas, porcentagem de participantes com HbA1c < 7,0% e < 7,5% e redução da HbA1c 0,5% ou 1,0% em 12 semanas e 24 semanas. Os resultados baseados nos dados do sensor (últimas 2 semanas de acompanhamento) incluíram a porcentagem de tempo no alvo, duração da hipoglicemia e hiperglicemia, bem como glicemia média e sua variabilidade. Foram preenchidos questionários no início e no final do estudo para avaliar satisfação com o tratamento. 

Uma amostra de 128 participantes seria necessária para fornecer 80% de poder ao estudo e efeito alvo de 0.4% de HbA1c em 24 semanas; para isso, 150 participantes seriam necessários na randomização para permitir atrito de 15%. De dezembro de 2019 a março de 2021, 156 participantes foram aleatoriamente designados para a  intervenção (78 participantes) ou controle (78 participantes); destes, 72 (92%) no grupo de intervenção e 69 (88%) no grupo de cuidados habituais foram incluídos na análise do desfecho primário. A média de idade dos pacientes foi 44 anos (± 15 anos); duração do diabetes foi de 21 anos (± 13 anos); média de HbA1c foi de 8.7% (± 0.9%) no grupo intervenção e 8.5% (± 0.8%) no grupo controle.

Em relação ao desfecho primário, foi encontrada uma média de diferença entre os grupos de -0,5% (IC 95% -0.7 a -0.3, p <0,001), ou seja, ao final de 24 semanas a HbA1c no grupo intervenção foi de 7,9% (±0,8%) e 8,3% (±0,9%) no grupo controle. Sobre o desfecho secundário, uma porcentagem maior de pacientes no grupo intervenção atingiu valor de HbA1c < 7,5% (OR 2.47; IC 95% 1.08 a 5.68), bem como redução de HbA1c em > 0,5% (OR 4.74; IC 95% 2.10 a 10.71) e > 1% (OR 4.30; IC 95% 1.67 a 11.09). Sobre os dados coletados do sensor, observou-se que o grupo intervenção atingiu tempo no alvo (70-180mg/dL) 9% maior (equivale a 130min ao dia) quando comparado ao grupo controle; foi observada redução de 3% (IC 95% 1.4 a 4.5) em hipoglicemia (<70mg/dL) e 6% (IC 95% 0.9-11) em hiperglicemia (>180mg/dL) quando comparados o uso de monitores com o teste tradicional de ponta de dedo.   Houve uma pequena diferença de -0.5 unidades (IC 95% -5.6 a 4.0) na dose de insulina diária no grupo intervenção vs controle. Os resultados dos questionários que avaliaram a satisfação com o tratamento favorecem o grupo intervenção.

A incidência de eventos adversos foi baixa ao longo do estudo: dois participantes do grupo controle com hipoglicemia grave; um participante do grupo intervenção com cetoacidose diabética e dois participantes no grupo controle com cetose sem necessidade de hospitalização; houve apenas um relato de evento adverso associado com uso do sensor. 

Foram limitações apontadas: estudo aberto; perfil dos pacientes, questionando a possibilidade de generalização dos achados; pacientes com hipoglicemia grave foram excluídos (grupo de potencial alto risco); custo-efetividade da intervenção. No Clube de Revista foram discutidos os seguintes pontos:

  • Efeito alvo de 0.4% em redução da HbA1c no período de 24 semanas – efeito muito próximo que medidas comportamentais ou apenas seguimento frequente geram;

  • Custo-efetividade da intervenção, ou seja, qual perfil de paciente com potencial benefício, considerando que um grupo de alto risco não foi incluído (hipoglicemia grave com perda de consciência);

  • Achados de melhora nos parâmetros do sensor no grupo intervenção, mas menos que preconizado como controle adequado; 

  • Embora descrito, a análise não ocorreu por intenção de tratar. 


Pílula do Clube: No DM1 com controle glicêmico inadequado, o uso do monitoramento contínuo da glicose com varredura intermitente com alarmes opcionais, quando comparado com o monitoramento tradicional dos níveis de glicose com o uso do teste da picada no dedo, pode reduzir sutilmente a HbA1c, aumentando a satisfação com o tratamento, porém considerando o custo da intervenção no Brasil, falta entender qual perfil de paciente teria ‘mais’ benefício. 


Discutido no Clube de Revista de 27/03/2023.

Effect of Verapamil on Pancreatic Beta Cell Function in Newly Diagnosed Pediatric Type 1 Diabetes A Randomized Clinical Trial

 Gregory P Forlenza, Jennifer McVean, Roy W Beck, Colleen Bauza, Ryan Bailey, Bruce Buckingham, Linda A DiMeglio, Jennifer L Sherr, Mark Clements, Anna Neyman, Carmella Evans-Molina, Emily K Sims, Laurel H Messer, Laya Ekhlaspour, Ryan McDonough, Michelle Van Name, Diana Rojas, Shannon Beasley, Stephanie DuBose, Craig Kollman, Antoinette Moran; CLVer Study Group


JAMA 2023, 329(12):990-999.

https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2801974 


O diabetes tipo 1, ocorre por destruição autoimune das células beta pancreáticas produtoras de insulina. A preservação da função residual das células beta, é portanto meta desejável, potencialmente reduzindo complicações crônicas e hipoglicemia em longo prazo. Estudos pré-clínicos apontam que a superexpressão de proteínas que interagem com tioredoxina induz apoptose de células beta pancreáticas e está envolvida na morte de células beta induzida por glicotoxicidade. Os bloqueadores dos canais de cálcio reduzem esses efeitos e podem ser benéficos para a preservação das células beta nestes pacientes.

Trata-se de ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, que incluiu crianças e adolescentes de 7 a 17 anos com diabetes tipo 1 recém-diagnosticado (até 31 dias antes da randomização), com a doença se apresentando em estágio 3 (clinicamente aparente) e com pelo menos um anticorpo detectado contra ilhotas pancreáticas,  multicêntrico nos EUA, sendo os pacientes randomizados entre 2020 e 2021, e com seguimento concluído em setembro de 2022.  Foram randomizados 88 pacientes - um número discretamente menor que os calculado para o tamanho amostral para um poder de 90% devido à pandemia de Covid19, mas ainda assim gerando um poder de 88% neste estudo - sendo aleatoriamente designados (1:1) para verapamil oral uma vez ao dia (n = 47) ou placebo (n = 41) como parte de um delineamento fatorial no qual os participantes também foram designados para receber tratamento intensivo do diabetes (sistema de infusão contínua) ou tratamento padrão do diabetes (múltiplas doses de insulinas). O objetivo principal foi determinar o efeito do verapamil na preservação de função das células pancreáticas através da mensuração de área sob a curva de peptídeo C após teste de estimulação com refeição mista na semana 52. Os objetivos secundários foram outras medidas como pico máximo de peptídeo C; proporção com um nível máximo de peptídeo C de 0,2 pmol/mL ou maior; HbA1c e métricas de glicose da monitorização contínua da glicose durante os 28 dias que antecediam as visitas. 

No grupo verapamil, a área média do peptídeo C sob a curva foi de 0,66 pmol/mL no início do estudo e 0,65 pmol/ml às 52 semanas, em comparação com 0,60 pmol/ml no início do estudo e 0,44 pmol/ml às 52 semanas no grupo placebo (diferença ajustada entre os grupos, 0,14 pmol/mL [IC 95%, 0,01 a 0,27 pmol/mL]; P = 0,04). Isso equivale a um aumento de 30% no nível de peptídeo C em 52 semanas com uso de verapamil. Essa diferença se manteve estatisticamente significativa mesmo após correções e análises de sensibilidade por protocolo, com métodos de imputação de Rubin e modelo de mistura de padrões. Além disso, não houve diferença em relação ao tratamento intensivo x tratamento padrão quanto ao desfecho primário. A média da dose total de insulina/kg/dia foi semelhante entre os grupos. A prevalência de efeitos adversos graves foi baixa e semelhante entre os grupos.

Em conclusão, em crianças e adolescentes com DM1 recém diagnosticado, o uso via oral de verapamil retardou o declínio das células beta ao longo de 52 semanas e demonstrou uma maior preservação na secreção de peptídeo C estimulado, através da análise de área sob a curva. No entanto, apesar de promissora, esse desdobramento teve uma significância estatística limítrofe.  Principais pontos discutidos no clube

  • Apesar do verapamil ter aumentado a secreção de peptídeo C, este aumento foi discreto, e os desfechos secundários não foram afetados pelo fármaco;

  • Uma vez que a área sob a curva é um marcador indireto da produção de insulina, pode ser difícil traduzir essa medida para a prática clínica;

  • A intervenção parece segura de modo geral.


Pílula do Clube: Verapamil por via oral para crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 recém diagnosticado foi capaz de retardar o declínio das células beta ao longo de 52 semanas com um aumento de cerca de 30% na área sob a curva em relação ao grupo controle, efeito considerado sutil e talvez sem resultado clínico de impacto em longo prazo.


Discutido no Clube de Revista de 13/03/2023.

Diagnostic Accuracy of Female Pelvic Ultrasonography in Differentiating Precocious Puberty From Premature Thelarche: A Systematic Review and Meta-analysis

 Nam Nhat Nguyen, Linh Ba Phuong Huynh,  Minh Duc Do, Tien Yun Yang4, Meng-Che Tsai and Yang-Ching Chen


Front Endocrinol (Lausanne) 2021, Sep 1;12:735875.

https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fendo.2021.735875/full


A puberdade precoce (PP) deve ser adequadamente diferenciada das variações não patológicas da puberdade, como por exemplo, a telarca precoce isolada (TP). A distinção entre puberdade precoce inicial e telarca precoce isolada pode ser difícil, e, comumente, é necessária a utilização de teste funcional de estímulo com GnRH (padrão-ouro para o diagnóstico de PP central), mas este não é de fácil acesso, é invasivo e é caro.  A ultrassonografia (US) pélvica visa avaliar se há sinais de estímulo hormonal de útero e anexos e é comumente utilizada como ferramenta diagnóstica auxiliar. Entretanto, até a publicação do presente estudo, não havia uma revisãos sistemática com metanálise avaliando pontos de corte e acurácia diagnóstica da US pélvica em meninas com suspeita de puberdade precoce. Portanto, o objetivo primário desta revisão sistemática foi a avaliação de parâmetros ultrassonogáficos de útero e ovários nas condições de PP e TP quando comparados ao padrão-ouro (teste do GnRH com LH acima de 5 UI/L). O objetivo secundário foi definir a acurácia diagnóstica da US pélvica também comparado ao padrão-ouro.

As buscas foram realizadas nas bases de dados PubMed/MEDLINE, EMBASE, Scopus e Cochrane. Foram excluídos relatos de casos e revisões. Foram analisados dados de volume ovariano, volume uterino, razão fundo-cérvice, comprimento uterino e área de secção transversal. A extração de dados foi realizada diretamente de artigos, por meio de cálculos ou com contato com pesquisadores. Dos 3.273 artigos encontrados nas bases de dados, 13 foram utilizados em metanálise comparativa e 7 para avaliação de acurácia diagnóstica.  A metanálise analizou dados de 1.977 pacientes oriundas de atendimentos ambulatoriais que participaram de estudos retrospectivos, prospectivos e longitudinais. Os artigos incluídos foram classificados como tendo risco aceitável de viés. Os estudos apresentaram grande heterogeneidade entre si (i2 acima de 50% em todas as análises).

Houve significância estatísica na standardized mean difference (SMD) de volume ovariano 1,12 (IC95% 0,78 a 1,45; i2=88%), comprimento uterino 1,38 (IC95% 0,99 a 1,78; i2 90%),  volume ovariano 1,21 (IC95% 0,84 a 1,58; i2 85%). Também foi observado que probes com frequências acima de 5 hz produziam SMDs menores, havendo diferença estatística entre os dois grupos. A acurácia diagnóstica só pode ser calculada para o comprimento uterino - definido o ponto de corte de 3,2 cm por análise de múltiplos limiares, conferindo sensibilidade de 81,8% e especificidade de 82,0% quando comparados ao padrão-ouro. O valor preditivo positivo da medida foi de 4,56 (IC95% 2,15 a 9,69), o valor preditivo negativo foi de 0,26 (IC95% 0,17 a 0,39) e o diagnostic odd ratio foi de 19,62 (IC95% 6,45 a 59,68). No artigo é apresentado um nomograma de Fagan que estima como probabilidade pré teste de PP 0,41% (prevalência populacional de puberdade precoce na população coreana). A probabilidade pós teste é estimada em 1,9% se o comprimento uterino é maior do que 3,2 cm e 0,1% se menor do que 3,2 cm. No Clube de Revista foram discutidos os seguintes pontos:

  • A metanálise de estudos muito heterogêneos deve ser avaliada com cuidado pelo leitor, mas tem validade principalmente quando a informação da literatura é escassa;

  • A utilização da prevalência populacional de PP como probabilidade pré-teste foi inadequada, uma vez que o estudo tem por objetivo avaliar o exame de ultrassonografia no contexto de desenvolvimento mamário antes dos 8 anos de idade, o que, por si só, aumentaria a probabilidade pré teste. Seria ideal a utilização da prevalência de PP em meninas com telarca antes dos 8 anos, caso o dado estivesse disponível. Portanto, a prevalência pós teste apresentada deve ser interpretada com cautela;

  • Em revisões sistemáticas, a citação dos termos-chave - como realizado no artigo - não é suficiente para garantir a transparência do método de busca na literatura. A descrição deve ser o mais detalhada possível incluindo o uso de ferramentas como mesh terms e filtros-  para que os mesmos resultados da busca sejam reprodutíveis por qualquer pessoa que leia o artigo.


Pílula do Clube: A ultrassonografia pélvica não pode ser utilizada como método substitutivo ao teste do GnRH para a detecção de puberdade precoce, porém, pode servir como ferramenta auxiliar em situações em que o teste padrão-ouro é de difícil acesso. 


Discutido no Clube de Revista de 06/03/2023.


Association of a Mediterranean Diet Pattern With Adverse Pregnancy Outcomes Among US Women

 Nour Makarem, Kristi Chau, Eliza C Miller, Cynthia Gyamfi-Bannerman, Isabella Tous, Whitney Booker, Janet M Catov, David M Haas, William A Grobman, Lisa D Levine, Rebecca McNeil, C Noel Bairey Merz, Uma Reddy, Ronald J Wapner, Melissa S Wong, Natalie A Bello


JAMA Netw Open 2022, 5(12):e2248165.

https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2799855


Desfechos gestacionais desfavoráveis estão associados à morbidade e mortalidade materna. Adesão à dieta Mediterrânea tem sido associada a menor risco de doenças crônicas e mortalidade. O objetivo desse estudo foi avaliar a associação do escore de Dieta Mediterrânea Alternativa (aMed) com o desenvolvimento de desfechos gestacionais desfavoráveis (APOs). Trata-se de coorte multicêntrica, que avaliou dados de outubro de 2010 a setembro de 2013. Na primeira avaliação era realizada a coleta de dados sociodemográficos, estilo de vida e informações médicas. Os critérios de exclusão eram dados incompletos da dieta, ingestão calórica implausível, hipertensão ou diabetes. Foi utilizado um questionário de alimentação e frequência na primeira visita do estudo e utilizado o “aMed Score” que adapta a dieta Mediterrânea para a população dos EUA. O aMed score vai de 0 a 9 e quanto maior o escore, mais aproximado da dieta mediterrânea.

O desfecho primário foi qualquer evento desfavorável gestacional [(hipertensão, pré-eclampsia, eclâmpsia, diabetes gestacional, parto pré-termo (< 37 semanas), PIG e prematuro]. As características sociodemográficas e clínicas foram descritas como  média (DP) para variáveis contínuas e frequências para categóricas. Utilizou-se os testes de χ2 e análises com testes de variância. Foram realizados ajustes para potenciais confundidores (idade materna, status civil, nível educacional, raça e etnia, tabagismo, IMC). Os 7.798 pacientes tinham 27,4 ± 5,5 anos; 816 (10,5%) eram negras não hispânicas, 1.294  (16,6%) eram hispânicas e 1.522 (19,5%) tinham obesidade no baseline.  O escore aMed foi de 4,3 ± 2,1 e a prevalência de alto, moderado e baixo para concordância com o padrão de dieta mediterrânea no momento da concepção foi 30,6% (n=2.388), 32,2% (n=2.430) e 38,2% (n=2.980) respectivamente. Em análises multivariadas, um alto versus baixo escore aMed se associou com 21% menos  desfechos gestacionais desfavoráveis (OR ajustado, 0,79 [IC95% 0,68 – 0,92], 28% menos pré-eclâmpsia ou eclâmpsia (OR ajustado de 0,72 [IC95% 0,55 – 0,93] e 37% menos diabetes gestacional (OR ajustado, 0,63 [IC95% 044 – 0,90]). No Clube de Revista foram discutidos os seguintes pontos:

  • Como trata-se de um estudo observacional, não é possível avaliar causalidade entre o tipo de dieta consumida e os desfechos materno-fetais;

  • Não se pode excluir fatores confundidores, especialmente os relacionados à condição socioeconômica.


Pilula do Clube: Uma maior aderência ao padrão de dieta mediterrânea pode estar associada a menor risco de desfechos gestacionais, no entanto, são necessários estudos de intervenção para definir esta possível associação. 


Discutido no Clube de Revista de 30/01/2023.

Influence of Vitamin D Supplementation on Growth, Body Composition, and Pubertal Development Among School-aged Children in an Area With a High Prevalence of Vitamin D Deficiency: A Randomized Clinical Trial

 Davaasambuu Ganmaa, Sabri Bromage, Polyna Khudyakov, Sumiya Erdenenbaatar, Baigal Delgererekh, Adrian R. Martineau.


JAMA Pediatr 2023, 177(1):32-41.

https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/article-abstract/2798998 


A vitamina D afeta o crescimento e pode exercer efeitos na composição corporal, além de ser mediador na imunidade. A concentração de vitamina D pode ser um determinante do crescimento, composição corporal e saúde metabólica. Objetivo: Investigar os efeitos da vitamina D no IMC, composição corporal e desenvolvimento puberal. 

Trata-se de ensaio clínico randomizado de fase 3, duplo cego, paralelo, controlado por placebo em escolas públicas na Mongólia, que randomizou crianças para receber vit D3 14.000 UI VO/semana ou placebo por 3 anos (alocação de 1 para 1). Peso, altura, circunferência cintura e composição corporal foram reavaliados aos 12, 24 e 36 meses de acompanhamento; amostra de sangue para vitamina D foi coletada no início e em 3 anos de acompanhamento. Os pais preencheram questionários (dados socioeconômicos, estilo de vida e fatores dietéticos) com dados que poderiam influenciar o status de vitamina D.  Critérios de inclusão: 6 a 13 anos de idade e frequência em uma escola participante. Resultado positivo do ensaio QuantiFERON-TB Gold (QFT - infecção latente tuberculose),  hipersensibilidade à vitamina D, imunocompromento, uso de vitamina D, raquitismo ou intenção de mudar de Ulaanbaatar dentro de 4 anos após a inscrição foram critérios de exclusão. O desfecho primário foi o escore Z médio de altura para idade em 1, 2 e 3 anos de acompanhamento e os desfechos secundários o escore Z médio de IMC para idade e da relação cintura/estatura, porcentagem média gordura corporal, média massa gorda e magra, Tanner para pelos pubianos, genitália externa (meninos) e mamas (meninas), proporção de participantes que atingiram menarca ao final do estudo e idade de início da menarca (atingiram a menarca apenas no final do estudo). 

Das 11.475 crianças convidadas a participar do estudo, 9.814 foram submetidas ao teste QFT e 8.851 com resultados negativos foram incluídas no estudo. A concentração sérica de vitamina D basal média foi de 11,9 ng/mL; 95,5% tinham valores menores que 20 ng/mL e 31,8% menores que 10 ng/mL. A prevalência basal de baixa estatura foi de 3,7%; baixo peso, 1,2%; sobrepeso, 4,5%; e obesidade, 1,1%. As características da linha de base foram equilibradas entre os participantes randomizados para vitamina D e placebo. Os níveis de vitamina D no final do estudo foram de 20 ng/mL ou mais em 3.528 participantes randomizados para vitamina D (89,8%) versus 187 randomizados para placebo (5,6%). Nenhum efeito da intervenção foi observado no escore z médio de altura para idade, escore Z médio IMC, na relação cintura-altura, porcentagem média de gordura corporal, massa gorda média ou massa livre de gordura média. O mesmo foi observado nos 1.356 participantes nos quais o desenvolvimento puberal no final do estudo foi avaliado. A proporção de meninas que atingiram a menarca ao final do estudo foi semelhante entre os grupos. No Cclube foram discutidos os seguintes aspectos:

  • Não observamos justificativa na introdução para ser investigada a influência da suplementação da vitamina D no controle de peso;

  • Não houve avaliação inicial no estudo da puberdade por profissional capacitado, apenas questionário respondido pelos pais, o que dificulta a interpretação destes resultados;

  • Deve-se repensar o uso de vitamina D em pacientes com baixa estatura na qual a única alteração vista nos exames for a deficiência de vitamina D.


Pílula do Clube: a suplementação de vitamina D não se mostrou benéfica em nenhum resultado antropométrico ou de desenvolvimento estudado em crianças saudáveis.


Discutido no Clube de Revista de 23/01/2023.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Novel Human Artificial Intelligence Hybrid Framework Pinpoints Thyroid Nodule Malignancy and Identifies Overlooked Second-Order Ultrasonographic Features

 Xiaohong Jia, Zehao Ma, Dexing Kong, Yaming Li, Hairong Hu, Ling Guan, Jiping Yan, Ruifang Zhang, Ying Gu, Xia Chen, Liying Shi, Xiaomao Luo, Qiaoying Li, Baoyan Bai, Xinhua Ye, Hong Zhai, Hua Zhang, Yijie Dong, Lei Xu, Jianqiao Zhou 


Cancers (Basel) 2022, 14(18):4440.

https://www.mdpi.com/2072-6694/14/18/4440 


A ultrassonografia é o exame de escolha na investigação de nódulos de tireoide, com a classificação TIRADS sendo a mais utilizada para estratificar o risco de malignidade, mas esta classificação inclui importante componente de subjetividade do especialista. O desenvolvimento de Convolutional Neural Networks (CNNs) permite aos radiologistas realizarem diagnóstico assistido por computador, mas o processo de decisão destes modelos é considerado opaco, sem possibilidade de seres humanos verificarem como foi chega à esta conclusão. 

Na tentativa de sanar este problema, os autores desenvolveram um modelo de classificação de nódulos por inteligência artificial, utilizando o método de Factorization Machine, com algumas modificações, para analisar interações de segunda ordem em características sonográficas. Os autores também propõe que a avaliação da inteligência artificial seja incluída como critério de pontuação em uma nova classificação TIRADS, com pesos recalculados baseados em um banco de dados de 3.000 nódulos para treinamento e validados externamente em outro banco de 500 nódulos. 

Os resultados apresentados demonstram que o uso de diferentes algoritmos de inteligência artificial melhora a acurácia diagnóstica de radiologistas e que, caso fosse recalculado o critério de pontuação do TIRADS para levar em consideração a análise por computador das imagens ecográficas, este seria o parâmetro de maior pontuação. Limitações citadas no artigo incluíram o fato de o modelo ter utilizado dados da população chinesa, que não necessariamente generalizaram para outras populações, além do da validação dos dados ter sido feita por radiologistas de referência, com possíveis resultados diferentes se a validação tivesse sido feita por radiologistas menos experientes. Pontos discutidos no Clube incluíram:

  • O conflito de interesse dos autores, que patentearam o algoritmo;

  • A improbabilidade de todos os radiologistas serem experientes, dado o caráter multicêntrico do estudo e a grande quantidade de imagens no banco de dados;

  • A baixa ênfase dada aos critérios e particularidades do diagnóstico anátomo-patológico, que poderia ser uma fonte de viés no banco de dados de treinamento;

  • A dificuldade de implementação de modelos semelhantes no Brasil, dado que há limitação de número de radiologistas e o algoritmo do artigo apenas fornece assistência ao diagnóstico.


Pílula do Clube: apesar de promissora, a tecnologia de diagnóstico por imagem assistida por IA ainda está fase inicial, e são necessários mais estudos, sobretudo com melhora de desfechos clínicos, antes da adoção destes métodos.


Discutido no Clube de Revista de 16/01/2023.

Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity without Diabetes

  A. Michael Lincoff, Kirstine Brown‐Frandsen, Helen M. Colhoun, John Deanfield, Scott S. Emerson, Sille Esbjerg, Søren Hardt‐Lindberg, G. K...