Bruce
A. Perkins, David Z. I. Cherney, Helen Partridge, Nima Soleymanlou, Holly
Tschirhart, Bernard Zinman, Nora M. Fagan, Sfefan Kaspers, Hans-Juergen Woerle,
Uli C. Broedl, Odd-Erik Johansen.
Diabetes
Care 2014; 37: 1480-1483.
Trata-se de um quase experimento de braço
único: um grupo recebeu empagliflozina 25 mg por 8 semanas, após duas semanas
de run-in. Após 8 semanas de
tratamento houve mais 2 semanas de seguimento. Investigadores e pacientes não
eram cegados para a intervenção. Não
havia grupo controle. Trata-se de análise post-hoc
de outro estudo, cujo objetivo era avaliar se o uso de empagliflozina 25 mg em
pacientes com DM 1 teria efeito sobre a taxa de filtração glomerular em
pacientes hiper ou normofiltrantes; no registro do estudo não consta como
objetivo avaliar o controle glicêmico nesses pacientes, que foi o objetivo da
presente análise. Foram incluídos pacientes de ambos os sexos com diagnóstico
de DM1, idade ≥18 anos, HbA1c entre 6,5-11%, IMC 18,5-35,0 kg/m2,
usuários de bomba de insulina com experiência ou em uso de múltiplas injeções
diárias de insulina, habilidade de seguir contagem de carboidratos e titulação
de insulina baseado nas recomendações do investigador, status glicêmico estável
e TFG>60 mL.min.1,73m2. Foram excluídos pacientes com
macroalbuminúria, infecção urinária, medicamento que interferisse no sistema
renina angiotensina aldosterona, hipoglicemia grave recente, história de
transplante de órgãos, câncer, doença hepática, doença macrovascular,
neuropatia autonômica, retinopatia proliferativa, hipoglicemia unawareness,
dose total de insulina diária maior que 1,5 U/kg, cirurgia bariátrica ou outras
cirurgias gastrintestinais, tratamento com drogas anti-obesidade, cirurgia ou
dieta levando a peso instável, tratamento com corticósteróides sistêmicos,
pacientes amamentando, gestantes e que não estavam usando métodos
contraceptivos confiáveis, participantes de outro estudo dentro de 30 dias do
consentimento informado, abuso de álcool ou drogas ilícitas dentro de 3 meses
do consentimento informado. Os desfechos analisados foram controle glicêmico em
8 semanas, taxa de hipoglicemias
(definidas como glicose < 55 mg/dL), dose total de insulina e peso corporal.
Houve redução da HbA1c em 8 semanas quando comparada aos dados
basais (P < 0,0001); o mesmo ocorreu com a glicemia de jejum ao final do
tratamento (P = 0,008), hipoglicemias sintomáticas (P = 0,0004), dose diária de
insulina (P < 0,0001) e peso corporal (P < 0,0001). O principal efeito
adverso relatado foi infecção do trato genito-urinário. Durante o clube de
revista os seguintes pontos foram ressaltados:
- O estudo não é um ensaio clínico randomizado e os autores não citam em nenhum momento o porquê do delineamento escolhido;
- O estudo foi aberto e não tem um grupo de comparação; a redução de Hba1c é semelhante a observada em outros estudos em DM1 em grupos placebo, de forma que não se pode atribui-la a efeito da droga em estudo;
- A amostra de pacientes foi bastante limitada e foi calculada com base em um trabalho com desfecho completamente diferente;
- O trabalho foi patrocinado pela Boehringer Ingelheim e Eli Lilly e os autores receberam honorários de diversas indústrias farmacêuticas;
- Tempo do estudo de apenas 8 semanas;
- A análise do controle glicêmico não foi prevista originalmente e não consta no registro do estudo;
- Pelo menos 3 pacientes entraram em cetoacidose durante o preparo do estudo, o que certamente se relacionou a redução de dose de insulina proposta para poder começar a droga em estudo, o que traz questões éticas importantes que não foram discutidas.
Pílula do Clube: Limitações
metodológicas pronunciadas não permitem valorizar os resultados encontrados.
Não há espaço para o uso de empagliflozina no tratamento do DM1.
Discutido no Clube de Revista de 07/07/2014.