Charmian A. Quigley, Xiaohai Wan,
Sipi Garg, Karen Kowal, Gordon B. Cutler Jr, Judith L. Ross
J Clin
Endocrinol Metab. 2014 [Epub ahead of print]
Trata-se
de uma subanálise de ensaio clínico randomizado controlado por placebo
conduzido de 1987 a 2003, que avaliou o efeito da reposição de baixas doses de
estrogênio associada ou não à reposição de hormônio do crescimento em 149
meninas com síndrome de Turner, cujo desfecho primário foi estatura na idade
adulta. No presente estudo, o objetivo foi avaliar se a reposição de doses
baixas e escalonadas de estrogênio (formulação líquida de etinilestradiol
1mcg/mL), a partir dos 5 até os 12 anos, alterava a idade média de ocorrência
da telarca e da menarca e a duração da puberdade, bem como avaliar o impacto da
reposição estrogênica pré-puberal nos níveis de gonadotrofinas. Para tanto,
foram incluídas 123 meninas pré-puberes e menores de 12 anos, distribuídas em
grupo intervenção (etinilestradiol 25 ng/kg/dia dos 5 aos 8 anos incompletos ou
50 ng/kg/dia dos 8 aos 12 anos incompletos) e placebo. Em ambos os grupos as
pacientes poderiam receber reposição de GH e, após os 12 anos completos, era
iniciada reposição estrogênica para indução da puberdade em todas pacientes. A
análise foi feita por intention-to-treat
e per protocol. A reposição de baixas
doses de estrógeno no período pré-puberal resultou em ocorrência de telarca
mais cedo que no grupo controle (idade média 11,6 vs. 12,6 anos, P<0,001), aproximando-se da idade média de
surgimento do broto mamário na população de meninas sem Síndrome de Turner, sem
avanço da idade óssea. Como não houve diferença na idade média da menarca (15
anos, P=0,986), a duração da puberdade foi maior no grupo intervenção (2,26 vs. 3,33 anos, P<0,003). Não houve
diferença significativa em relação aos níveis de gonadotrofinas. Durante o
Clube de Revista, os seguintes pontos foram discutidos:
- A introdução do artigo cita como potenciais benefícios da reposição estrogênica pré-puberal melhora do desempenho cognitivo e da memória encontrados em estudo prévio do mesmo grupo, porém não avalia a manutenção desse benefício no período puberal ou em longo prazo;
- O benefício em relação ao comportamento e à qualidade de vida pela normalização do momento de ocorrência da puberdade não foi avaliado no estudo;
- Houve um grande número de perdas que não foram adequadamente descritas, comprometendo a valorização dos resultados pelo baixo poder estatístico;
- O estudo foi financiado pela indústria farmacêutica, que pode induzir ao viés de publicação.
Pílula
do clube: A reposição de doses muito baixas de etinilestradiol em
meninas pré-púberes com Síndrome de Turner promoveu a ocorrência de telarca em
época mais próxima ao início da puberdade fisiológica, sem causar avanço da
idade óssea ou efeitos adversos maiores, porém não se sabe se esta intervenção impactaria
na qualidade de vida e na autoestima das pacientes. Estes resultados não
suportam o uso rotineiro desta terapia, que poderia ser considerada, no
entanto, em nível individual nas pacientes em que o atraso puberal for uma
queixa proeminente.
Discutido no Clube de Revista de 26/05/2014.
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