Paresh Dandona, Chantal Mathieu, Moshe Phillip, Lars
Hansen, Steven C Griffen, Diethelm Tschöpe, Fredrik Thorén, John Xu, Anna Maria
Langkilde, on behalf of the DEPICT-1 Investigators
Lancet
Diabetes Endocrinol 2017, 5(11):864-876.
A
dapagliflozina é um inibidor do cotransportador de sódio/glicose-2 (i-SGLT2) que
inibe a reabsorção da glicose no túbulo contorcido proximal, aumentando sua
excreção urinária e reduzindo HbA1c. Neste ECR, duplo-cego, multicêntrico, o
desfecho primário foi melhora do controle glicêmico (HbA1c) com adição da
dapagliflozina ao esquema de insulina de pacientes com DM1. Dentre os desfechos
secundários estavam redução na necessidade total de insulina, redução de peso, e
mudança na média glicêmica diária (CGM). Foram randomizados 834 pacientes para
uso de dapagliflozina 5mg ou 10mg ou placebo. Os três grupos recebiam insulina
conforme prescrição de médico assistente. Os critérios de inclusão foram idade
18-75 anos, DM1 mal controlado (HbA1c 7,5%-10,5% na randomização), uso de
insulina por pelo menos 12 meses, peptídeo C ≤ 0,7, IMC ≥ 18,5. Os critérios de
exclusão foram apresentar outras formas de diabetes, diabetes insipidus, cetoacidose
no mês que precede o rastreamento, doença renal instável ou rapidamente
progressiva, insuficiência hepática, neoplasia nos últimos 5 anos, história de hipoglicemias
de difícil controle, já ter recebido i-SGLT2. O cálculo de amostra foi de 243 pacientes em cada braço para
detectar uma diferença de 0,35% na HbA1c
entre os grupos de dapagliflozina e placebo.
Um
paciente não-elegível foi randomizado incorretamente e excluído da análise e os
primeiros 55 pacientes foram alocados não randomicamente para os grupos
intervenção por erro no sistema de randomização. Foram excluídos da análise
final, mas incluídos na análise de segurança.
Assim, 778 desses pacientes
foram incluídos na análise completa das análises de eficácia (dapagliflozina 5 mg:
259 vs. dapagliflozina 10mg: 259 vs. placebo: 260). Na semana 24, ambas
as doses de dapagliflozina reduziram a HbA1c vs. placebo [diferença média entre o basal e a semana 24 para a
dapagliflozina 5 mg vs. placebo foi
-0,42% (P<0,0001) e para dapagliflozina 10 mg vs. placebo foi -0,45% (P<0,
0001). Hipoglicemia ocorreu em 220 (79%), 235 (79%) e 207 (80%) pacientes na
dapagliflozina 5 mg, dapagliflozina 10 mg e placebo, respectivamente e hipoglicemia
grave ocorreu em 21 (8%), 19 (6%) e 19 (7%) pacientes, respectivamente.
Cetoacidose diabética confirmada ocorreu em 4 (1%) pacientes no grupo 5 mg de
dapagliflozina, 5 (2%) no grupo de dapagliflozina 10 mg e 3 (1%) no grupo
placebo. Os seguintes pontos foram discutidos no Clube:
- A dapagliflozina mostrou melhora da HbA1c de forma discreta e com discutível relevância clínica. Além disso, houve perda de peso e baixo risco de hipoglicemia;
- Eventos classificados como possível CAD foram mais frequentes nos grupos dapagliflozina, porém segundo os autores, esses casos não foram confirmados com exames laboratoriais e a maioria foi por presença de cetonas positivas na medição domiciliar. A incidência de cetoacidose não foi adequadamente descrita e pelos valores parece maior nos grupos dapagliflozina, porém não foi descrito ‘p’ deste desfecho;
- O estudo apresenta algumas limitações: tempo do estudo (24 semanas); analises com dados imputados; exclusão de comorbidades comuns nos critérios de exclusão; não adoção de protocolo de titulação de insulina (controverso); pacientes com interesse maior (contagem de CHO), podem ter outras respostas a droga.
Pílula do Clube: Apesar de haver discreta redução de HbA1c em
pacientes com DM1 em uso de insulina e dapagliflozina, sem aumento de
hipoglicemias, ainda são necessários estudos que comprovem a segurança em longo
prazo deste medicamento nesta população.
Discutido no Clube de Revista de 02/10/2017.