domingo, 18 de abril de 2021

Glycemic Index, Glycemic Load, and Cardiovascular Disease and Mortality

 David J.A. Jenkins, Mahshid Dehghan, Andrew Mente, Shrikant I. Bangdiwala, Sumathy Rangarajan, Kristie Srichaikul, Viswanathan Mohan, Alvaro Avezum, Rafael Díaz, Annika Rosengren, Fernando Lanas, Patricio Lopez-Jaramillo, et al., for the PURE Study Investigators*


N Engl J Med 2021, Feb 24.

https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa2007123?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed


Carboidratos de baixa qualidade, ou seja, alimentos com baixo teor de fibras e alto índice glicêmico (quanto 50g de carboidrato eleva na glicemia) são associadas a piores desfechos clínicos. Estudos avaliando dietas com baixo índice glicêmico demonstraram melhora de controle glicêmico em pacientes com diabetes mellitus tipos 1 e 2, redução de triglicerídeos e LDL, melhora do controle da pressão arterial, porém há dúvidas em relação à associação com desfecho cardiovascular, já que estudos têm resultados divergentes e são de baixa qualidade.

Utilizando a coorte prospectiva PURE (Prospective Urban Rural Epidemiology) o estudo apresentado pretende avaliar a associação entre índice glicêmico, doença cardiovascular e mortalidade por todas as causas. O PURE é um estudo observacional, prospectivo, epidemiológico, que incluiu adultos entre 35-70 anos e tem seguimento de até 10 anos. A população estudada abrange uma variedade de condições econômicas e socioculturais, países desenvolvidos (Canadá, Suécia, Emirados Árabes), em desenvolvimento (Argentina, Brasil, Chile, Malásia, Polônia, África do Sul, Turquia, China, Colômbia e Irã) e subdesenvolvidos (Bangladesh, Índia, Paquistão e Zimbabwe), considerando classificação do Banco Mundial em 2006.

Os participantes do estudo foram avaliados por 28 questionários incluindo 3.200 itens alimentares, dados individuais, de consumo alimentar e de saúde. Os eventos cardiovasculares eram auto reportados e, para avaliar qualidade da informação referida pelos participantes, uma amostra de 455 eventos foi analisada com os hospitais locais atingindo 89% de taxa de confirmação. Indivíduos com respostas consideradas implausíveis (<800 ou >4200 kcal/dia para homens ou <500 ou >3500 kcal/dia para mulheres) foram excluídos. A avaliação do índice glicêmico foi realizada por método que considera 7 alimentos e classifica o consumo dos indivíduos de acordo. O desfecho primário foi um composto de eventos cardiovasculares maiores (morte cardiovascular, IAM não fatal, AVC, insuficiência cardíaca) ou morte por qualquer causa. Os desfechos secundários foram cada um dos desfechos primários separadamente e morte por causas não cardiovasculares.

Foram incluídos 119.575 participantes, o seguimento médio foi de 9,5 anos, 53,1% dos participantes eram moradores de áreas urbanas, 20,8% eram tabagistas e 42,5% eram do sexo masculino. O índice glicêmico foi dividido em quintis e, comparando-se o quintil mais alto de índice glicêmico para o mais baixo, houve associação positiva de consumo de altos índices glicêmicos com o desfecho primário. O resultado foi semelhante tanto para pacientes com e sem doença cardiovascular prévia. Em subanálises, o IMC≥25 teve associação mais importante entre índice glicêmico e desfecho primário. Não houve associação com exercício físico, tabagismo ou uso de anti-hipertensivos e estatinas. Os principais pontos discutidos no Clube de Revista foram:

  • Estudo incluiu grande amostra populacional, diversos países e características (rural x urbana; índices de desenvolvimento) o que aumenta validade externa;

  • Como é estudo observacional, tem limitação metodológica intrínseca de possível viés relacionado a confundidores e memória dos participantes no relato das informações;

  • Os quintis de índices glicêmicos são próximos e a forma de análise utilizou o método de divisão em 7 carboidratos;

  • Não é possível corrigir para variáveis da dieta ou modificações no padrão alimentar ao longo dos anos;

  • Não há análises mais detalhadas de outros componentes da dieta que poderiam influenciar eventos cardiovasculares;

  • Os participantes analisados tinham dietas ricas em carboidratos (aproximadamente 60% do consumo diário). Não há como extrapolar os dados para dietas com menor teor de carboidratos.


Pílula do Clube: Entre participantes que consomem dietas ricas em carboidratos, altos índices glicêmicos se associaram a maior risco de doença cardiovascular independentemente de condições socioeconômicas e culturais. 



Discutido no Clube de Revista em 15/03/2021.

Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity without Diabetes

  A. Michael Lincoff, Kirstine Brown‐Frandsen, Helen M. Colhoun, John Deanfield, Scott S. Emerson, Sille Esbjerg, Søren Hardt‐Lindberg, G. K...