Thizá
Massaia Londero, Luana Seminotti Giaretta, Luisa Penso Farenzena, Roberto
Ceratti Manfro, Luis Henrique Canani, Daniel Lavinsky, Cristiane Bauermann
Leitão, and Andrea Carla Bauer
J Clin Endocrinol
Metab 2019, 104(2):557-567.
Diabetes Mellitus Pós Transplante – DMPT recebe essa denominação para
hiperglicemia persistente pós-transplante desde 2014. Há poucos estudos
avaliando complicações microvasculares neste tipo de diabetes, e o objetivo do
presente estudo foi avaliar o curso clínico das complicações microvasculares
diabéticas em receptores de transplante renal com mais de 5 anos de diagnóstico
de DMPT. Foi feito uma coorte com dados históricos de pacientes do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, transplantados renais de 2000 a 2011; dos 895
pacientes que fizeram transplante de rim, 40 foram avaliados por DMPT por mais
de 5 anos, e 51 selecionados como controles, sem DMPT. Foram avaliadas
complicações microvasculares: retinopatia – por SS-OCT e foto de fundo de olho;
neuropatia periférica – questionário MSNI e monofilamento 10g; neuropatia
autonômica – testes de Ewing e hipotensão postural; nefropatia – creatinina
(TFGe por CKD-EPI) e índice proteína/creatinina na urina (IPC).
Nos resultados, a média de DMPT foi de 8 anos, e de hemoglobina glicada
de 7,4%. Não houve diferença entre pacientes com e sem DMPT em relação a
neuropatia autonômica, nefropatia e retinopatia (nenhum paciente avaliado
apresentou alteração de retinopatia no fundo de olho). Mais de 60% dos
pacientes com DMPT tiveram polineuropatia (OR 1,55; IC95% 1,26 a 1,91; P <
0,001), e mais pacientes com DMPT tiveram a camada retiniana avaliada por
SS-OCT mais fina. Os seguintes pontos foram
discutidos no Clube de Revista:
·
A maioria
dos estudos bem conduzidos sobre DMPT avaliou complicações relacionadas ao
transplante (mortalidade, perda de enxerto, doença cardiovascular) e este seria
um estudo com desenho adequado para avaliar as complicações da hiperglicemia;
·
Um estudo
anterior que avaliou complicações de DMPT era antigo (2007), com terapias
diferentes na época para imunossupressão e infecções, e buscou por dados de
CID-9 as complicações, não sendo dados específicos para diabetes. Na época, por
esse estudo, as complicações seriam prevalentes (mais de 58% dos pacientes
tinham pelo menos uma complicação), e foi avaliado até 3 anos de seguimento, o
que levou ao pensamento de que as complicações se dariam de forma acelerada;
·
O presente
estudo teve complicações microvasculares do DMPT com prevalência menor que a
esperada;
·
Ausência de
retinopatia foi inesperado (esperado de 6 a 23% para DM1 – por exemplo).
Especula-se que afinamento da retina seja um achado inicial;
·
Ausência de
diferença em função renal é semelhante a outros estudos;
·
Neuropatia
autonômica interpretada com ressalvas devido às medicações em uso e a própria
DRC – mais estudos são necessários;
·
O DMPT
parece ser um tipo único de diabetes – não tão insulinopênico como DM1 e não
tão inflamatório quanto tipo 2 – com repercussões mais leves em órgãos alvo em
relação a complicações microvasculares.
Pílula do
Clube: A prevalência de complicações
microvasculares em pacientes com DMPT foi menor que o esperado neste estudo que
avaliou pacientes com média de 8 anos de doença. Sugere-se avaliar neuropatia
periférica após 5 anos do diagnóstico, e mais estudos para avaliar demais
complicações, particularmente as alterações na retina.
Discutido no
Clube de Revista de 16/12/2019.