M.
Hanefeld, M. Cagatay, T. Petrowitdch , D. Neuser, D. Petzinna, M Rupp
European Heart Journal 2004, 25(1):10-16
http://eurheartj.oxfordjournals.org/content/25/1/10.abstract
Trata-se de uma
metanálise de dados individuais que reuniu sete ensaios clínicos randomizados,
duplo-cegos e controlados por placebo. Os estudos analisados foram publicados
entre 1987 e 1999, total de 2.180
pacientes (1.248 receberam acarbose e 932, placebo). O objetivo era investigar
se a terapia com acarbose poderia reduzir os eventos cardiovasculares em
pacientes com DM tipo 2. Foram critérios de inclusão: pacientes com DM tipo 2, duração
mínima de tratamento de 52 semanas e estudos com pelo menos 50 pacientes na
amostra. O desfecho primário era o tempo para desenvolver um evento
cardiovascular. Eram considerados eventos cardiovasculares: morte de causa
cardíaca, eventos cerebrovasculares, doença obstrutiva periférica, angina,
infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e procedimentos de revascularização. Os principais resultados
encontrados demonstraram uma redução de risco relativo de 35% em desenvolver
qualquer evento cardiovascular a favor dos usuários de acarbose. Entre os
pacientes que usaram placebo, 9,4% desenvolveram algum evento cardiovascular,
enquanto no grupo acarbose, 6,1% apresentaram o desfecho (P=0,0057). A
principal diferença foi encontrada quando o estudo comparava ocorrência de
infarto agudo do miocárdio. A redução de risco relativo encontrada foi de 64% a
favor do grupo que recebeu acarbose (P=0,0120). A acarbose também foi superior
ao placebo na melhora do controle glicêmico, redução de triglicerídeos, perda de
peso e redução de níveis pressóricos. Quanto aos eventos adversos relatados,
não foi encontrado nenhum evento grave, sendo os mais prevalentes: flatulência,
diarréia e dor abdominal, com proporções variadas em cada estudo. Durante
o Clube de Revista, os seguintes pontos foram ressaltados:
- Não foi descrita como foi feita e se foi feita revisão sistemática da literatura (ferramentas de busca utilizadas, bem como os estudos incluídos e excluídos na análise), limitando a confiabilidade da seleção dos estudos;
- Entre os sete estudos selecionados, um deles foi patrocinado pela indústria farmacêutica (Bayer AG), sendo um possível conflito de interesse não relatado pelo autor;
- Apesar de utilizar os dados individuais de cada estudo, não houve uma descrição adequada da população de pacientes, principalmente quanto ao tratamento utilizado para o DM, não sendo possível afirmar que o desfecho seria devido de fato ao uso de acarbose;
- Ao descrever os resultados utilizando a curva de Kaplan-Meier, os valores apresentados na ordenada vertical mostram uma diferença entre os grupos menor do que a curva aparenta;
- Entre os desfechos analisados individualmente, apenas a ocorrência de infarto agudo do miocárdio teve significância estatística;
- Não há descrição adequada das taxas de descontinuação do tratamento nem dos eventos adversos ocorridos, sendo esta uma limitação importante da aplicabilidade prática dos resultados do estudo.
Pílula do Clube: O uso de acarbose em pacientes com DM tipo 2 já apresenta
benefícios comprovados principalmente quanto ao controle glicêmico e
metabólico. No entanto, pelas evidências disponíveis até o momento, não é
possível afirmar que exista um benefício cardiovascular neste grupo de
pacientes.
Discutido no Clube de Revista de 05/05/2014.
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