Hollander
P, Bays HE, Rosenstock J, Frustaci ME, Fung A, Vercruysse F, Erondu N.
Diabetes Care 2017, 40(5):632-639.
Trata-se de ensaio clínico randomizado, placebo-controlado,
multicêntrico, conduzido em 18 centros nos Estados Unidos, que avaliou a
eficácia e a segurança da coadministração de canagliflozina com fentermina em
indivíduos com sobrepeso ou obesos e sem diabetes. Foram incluídos pacientes
com sobrepeso ou obesidade sem diabetes mellitus com IMC ≥30 e ≤50 kg/m2
ou um IMC ≥27 e ≤50 kg/m2 com hipertensão e/ou dislipidemia. Os
critérios de exclusão foram história de obesidade de causa secundária,
hemoglobina glicada ≥ 6,5, diagnóstico de diabetes, doença cardiovascular nos
últimos 3 meses antes do rastreamento, história de transtorno alimentar,
glaucoma, taxa de filtração glomerular estimada < 70 ml/min/1,73m2,
hipertrigliceridemia ≥ 600 mg/dL, lipoaspiração ou tratamento com medicamentos
emagrecedores, antipsicóticos, corticosteróides, agentes antihiperglicêmicos,
inibidores seletivos da recaptação de serotonina ou inibidores da recaptação de
serotonina-noradrenalina nos últimos 3 meses ou uso de inibidores da MAO nos
últimos 14 dias. Inicialmente os pacientes foram submetidos a um período de run-in de 4 semanas, em que receberam
instruções padronizadas para implementar um programa de perda de peso não
farmacológico que incluía uma dieta individualizada com restrição calórica de
600 kcal e 150 minutos de exercício físico por semana. Os pacientes foram
randomizados para receber placebo, canagliflozina, fentermina ou a
coadministração de canagliflozina com fentermina (cana/fen) e o estudo teve
duração de 26 semanas. O desfecho primário foi o percentual de mudança no peso
em relação ao início do estudo com cana/fen versus placebo na semana 26.
Desfechos secundários foram a proporção de pacientes que perderam ≥5% do peso e
a mudança absoluta em relação ao início do estudo do peso e da pressão
sistólica.
Foram randomizados 82 pacientes no grupo placebo, 84
pacientes no grupo da canagliflozina, 85 pacientes no grupo da fentermina e 83
pacientes no grupo da cana/fen, sendo que 69% destes terminaram o estudo. A
maioria dos pacientes eram brancos e do sexo feminino. A idade média foi de
45,7 anos, o peso médio foi de 102,9 kg e o IMC médio de 37,3 kg/m2.
A mudança percentual de peso foi expressa através da média dos quadrados
mínimos e atingiu -0,6, -1,9, -4,1 e -7,5% nos grupos placebo, canagliflozina,
fentermina e cana/fen, respectivamente. A mudança absoluta no peso foi de -0,6,
-1,9, -4,1 e -7,3 kg, respectivamente. A perda percentual de peso com cana/fen
foi estatisticamente superior em relação ao placebo, sendo de -6,9%. A redução
absoluta foi de -6,7 kg. A perda de peso com a associação continuou até a
semana 26 sem apresentar um platô. Uma proporção maior de participantes atingiu
a perda de ≥5% com cana/fen versus placebo (66,7 vs 17,5%; odds ratio 10,2,
P<0,0001). Aproximadamente 18% da perda de peso com cana/fen foi atribuída à
canagliflozina, ~50% à fentermina e 32% à interação da canagliflozina com a
fentermina. Houve redução estatisticamente significativa da pressão arterial
sistólica com a cana/fen versus placebo (-4,2 mmHg, P=0,015). Houve um aumento
de 3,5 batimentos cardíacos por minuto no grupo da cana/fen. Não houve
alteração significativa nos níveis de lipídeos. A incidência global de efeitos
adversos foi de 57,3, 59,5, 54,1 e 66,3% com placebo, canagliflozina,
fentermina e cana/fen, respectivamente. Houve uma maior incidência de efeitos
adversos que levaram à saída do estudo no grupo da canagliflozina. A incidência
de infecções genitais micóticas femininas foi de 10,3 e 7,2% nos grupos
canagliflozina e cana/fen, respectivamente, versus nenhum evento nos grupos
placebo e fentermina. A incidência de infecções do trato urinário em geral foi
baixa, sendo numericamente maior nos grupos da canagliflozina e cana/fen. Durante o clube foram discutidos os
seguintes aspectos:
·
Os
autores não caracterizam no corpo do texto quais as doses administradas de cada
medicação. Apesar de serem citadas no resumo do artigo, é essencial descrever
com clareza a intervenção proposta;
·
Apesar
de fentermina estar contraindicada em bula para pacientes com doença
cardiovascular e hipertensão (mesmo que leve), os autores limitaram os critérios
de exclusão aos pacientes que tiveram doença cardiovascular nos últimos 3 meses
antes do rastreamento, o que deixa espaço para que pacientes com doença
cardiovascular estável possam ter sido randomizados. Além disso, hipertensão
era permitida como critério de inclusão;
·
O
período de run-in pode ter filtrado
para fora do estudo aqueles pacientes predispostos a uma menor adesão
terapêutica, permanecendo, portanto, apenas aqueles com maior potencial de
resposta à intervenção;
·
O
tempo de tratamento foi curto, não se podendo avaliar se houve reganho de peso
nos grupos;
·
O
uso da canagliflozina isoladamente teve uma perda desprezível de peso;
·
Chama
atenção a redução estatisticamente significativa da pressão arterial sistólica
nos grupos que receberam fentermina, sendo que geralmente o aumento dos níveis
pressóricos é esperada com o uso dessa medicação;
·
Os
autores aventam que possa existir um efeito sinérgico para a perda de peso com
a combinação cana/fen, sem, no entanto, especular com profundidade quais podem
ser os mecanismos implicados nesse sinergismo.
Pílula do clube: o uso a curto prazo da combinação
cana/fen esteve associada a uma perda de peso significativa em relação ao
placebo, sem haver dados disponíveis a longo prazo para avaliar se há reganho
de peso. No momento, não existem evidências para o uso de canagliflozina em
monoterapia com o objetivo de emagrecimento.
Discutido no Clube de Revista de
22/05/2017.
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