Matthew P. Pase, Jayandra
J. Himali, Alexa S. Beiser, Hugo J. Aparicio, Claudia L. Satizabal, Ramachandran
S. Vasan, Sudha Seshadri, Paul F. Jacques.
Stroke 2017,48(5):1139-1146.
Trata-se de estudo de observacional realizado com o
banco de dados do Framinghan Heart Study
Offspring Cohort, com objetivo de avaliar a associação entre o consumo de
bebidas adoçadas com açúcar ou artificialmente e incidência de AVC ou demência em
10 anos. A coorte inicial foi composta por 5.124 voluntários incluídos em 1971;
destes, 3.029 indivíduos foram elegíveis para participar deste estudo por terem
preenchido o questionário de frequência alimentar de Harvard (Harvard FFQ) entre 1998 e 2001. Para a análise
do desfecho AVC (n = 269), foram excluídos participantes com menos de 45 anos e
com AVC ou outra doença neurológica prévia; já para o desfecho demência (n = 1.395)
foram excluídos indivíduos com menos 65 anos e com demência. O Harvard FFQ foi validado previamente vs. registro alimentar. As bebidas
adoçadas foram divididas em: 1) bebidas açucaradas em geral (incluindo
refrigerante normal, suco natural e suco adoçado com açúcar), 2) refrigerante
normal e 3) refrigerante adoçado artificialmente. Utilizou-se modelo de regressão
de Cox proporcionada para avaliar o risco dos desfechos com três modelos de
ajustes: 1. Minimamente ajustado (idade, sexo, total de calorias ingeridas e
escolaridade para avaliação de demência), 2. Modelo 1 + ajustes para fatores de
estilo de vida (qualidade da dieta, atividade física e tabagismo) e 3. Modelo 1
+ ajustes para variáveis cardiometabólicas (HAS, DM, DCV, FA, dislipidemia,
hipertrofia de VE, relação cintura/quadril e heterozigoto para apoproteína E
apenas para demência).
Houve aumento de » 2 vezes no risco de AVC total e isquêmico com
consumo recente de refrigerante adoçado artificialmente, em qualquer quantidade
quando comparado a nenhuma ingestão por semana, em análise ajustada (modelos 2
e 3). Aumento de risco para AVC isquêmico ocorreu relacionado ao consumo
cumulativo de tais bebidas. A análise de sensibilidade mostrou que, quando
ajustado para prevalência de hipertensão, o efeito sobre o risco de AVC foi
atenuado, podendo a hipertensão ser um fator mediador parcial desta associação.
O consumo de refrigerantes adoçados artificialmente também foi associado a aumento
de risco de demência em geral e Alzheimer em aproximadamente duas vezes, tanto
para consumo cumulativo quanto recente, porém apenas para os pacientes que
consumiram > 1 porção/dia. Tal resultado perdeu significância estatística
quando ajustado com o modelo 3. A análise de sensibilidade mostrou atenuação do
risco de demência com o consumo de tais bebidas quando ajustado para a
prevalência de diabetes. Não foi observado aumento de risco de AVC ou demência
com o consumo de bebidas adoçadas em geral ou refrigerante normal isoladamente,
em quaisquer das análises realizadas. O grupo que mais ingeriu bebidas
açucaradas (> 2/dia) apresentava menor prevalência de diabetes, doença
cardiovascular, hipertensão e tinham IMC médio algo menor, quando comparado com
o grupo que mais ingeriu refrigerantes adoçados artificialmente (>1/dia),
sendo, respectivamente, para diabetes 8% vs.
22%, doença cardiovascular 10% vs. 13%,
hipertensão 32% vs. 39% e IMC médio
27 vs. 29. Foram discutidos no clube os seguintes
aspectos:
·
A
ausência de aumento de desfechos com bebidas açucaradas pode ser secundária a
um perfil de pacientes mais saudáveis no basal e que, portanto, não tinham a
preocupação de reduzir o consumo de açúcar;
·
Os
pacientes foram incluídos na coorte inicial em 1971, contudo, a primeira coleta
deste estudo foi em 1991 e a análise dos dados em 2001. Não se pode excluir a
possibilidade de ter ocorrido óbito dos pacientes mais graves antes da coleta e
análise dos dados (viés de sobrevivência);
·
Devido
a ser um estudo observacional, não se pode determinar relação de causa-efeito,
existindo a possibilidade de viés de causalidade reversa. Também não se pode
excluir o viés de memória intrínseco a estudos que utilizam questionários para
quantificação da exposição.
Pílula
do clube: O consumo de
refrigerante adoçado artificialmente pode estar associado a aumento de
incidência de AVC e demência. Contudo, os vieses do estudo, incluindo o de
causalidade reversa, podem ter influenciado a análise/interpretação dos dados.
Discutido no Clube de Revista de
08/05/2017.
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