Fumiaki Imamura,Laura
O’Connor, Zheng Ye, Jaakko Mursu, Yasuaki Hayashino, Shilpa N Bhupathiraju, Nita
G Forouhi
BMJ 2015, 351:h3576.
http://www.bmj.com/content/351/bmj.h3576
Trata-se de revisão sistemática e metanálise de estudos observacionais prospectivos
cujo principal objetivo era avaliar se o consumo de bebidas
adoçadas, artificialmente ou não, e de suco de frutas associava-se com a ocorrência
de DM2. Além disso, pretendia estimar a fração atribuível populacional do
diabetes ao consumo de bebidas adoçadas nos EUA e Reino Unido. Os estudos
elegíveis eram aqueles prospectivos com adultos sem DM ≥18 anos, de seguimento
superior a 2 anos, que
avaliassem o consumo de bebidas e a incidência de DM2. Para fins de definição, suco
- somente 100% fruta, bebida adoçada - líquido com adição de açúcar e bebida
artificialmente adoçada - líquido de baixa caloria. Os dados extraídos
incluíram IMC, método para aferir consumo de bebidas, tipo de bebidas
consumidas e financiamento do estudo, sendo as variáveis ajustadas para sexo,
idade e adiposidade. O risco de vieses foi estimado através de ferramenta da
Cochrane (ACROBAT-NRSI). Através de metanálise foi estimado o risco relativo de
desenvolver DM2 com o consumo diário de 250 ml da bebida afim. A fração
atribuível populacional foi calculada estimando um consumo constante de bebidas
adoçadas ao longo de 10 anos, extraindo dados de pesquisas recentes sobre
hábitos alimentares de americanos e ingleses.
Foram incluídos na metanálise 21 estudos, arrolando 10.126.754
pessoas-ano e 38.253 casos incidentes de DM2. Foi identificado um aumento de
18% no risco de desenvolver DM2 para cada porção consumida de bebida adoçada
(9-28%, I²=89%) e quando ajustado para adiposidade, um fator de confusão
importante na interpretação desses dados, 13% maior (6-21%, I²=79%). Em relação
às bebidas artificialmente adoçadas, o aumento do risco para DM2 foi de 25% e
8%, antes (18-33%, I²=70%) e após (2-15%, I²=64%) ajuste para adiposidade. Consumo
regular de suco de frutas foi associado a um risco 5% maior de DM2, porém sem
significância estatística (RR 1,05; IC 95% 0,99-1,11, I²=79%). A qualidade da
evidência encontrada nessa metanálise foi considerada moderada para bebidas
adoçadas, havendo relação dose-resposta e robustez contra potenciais vieses de
confusão ou publicação. Já para consumo de bebidas adoçadas artificialmente e
suco de frutas, os achados provavelmente apresentam vieses de publicação e
fatores de confusão residuais, sendo uma evidência de baixa qualidade. Através
do cálculo da fração atribuível populacional, observou-se que 12% e 5% dos
casos de DM2 nos próximos 10 anos podem ser atribuídos ao consumo regular de
bebidas adoçadas, nos EUA e no Reino Unido, respectivamente. No Clube de
Revista, foram destacados os seguintes pontos:
·
O consumo habitual de bebidas adoçadas foi
prospectivamente associado com o desenvolvimento de DM2, independentemente da
adiposidade. A magnitude da associação não foi tão robusta para consumo de
bebidas adoçadas artificialmente e suco de fruta;
·
A metanálise apresenta limitações que são
aquelas relativas ao caráter observacional dos estudos incluídos (possibilidade
de causalidade reversa e necessidade de diversos ajustes estatísticos para
tentar eliminar fatores de confusão);
·
É um tema relevante em saúde pública, dado o elevado
consumo de bebidas adoçadas e artificiais, podendo haver benefício em reduzir o consumo de
bebidas adoçadas como medida de prevenção primária do DM2;
·
O consumo de bebidas adoçadas artificialmente
e suco de frutas não deve ser estimulado como substituto das açucaradas, uma
vez que sua associação com DM2 não está bem estabelecida e, portanto, não são
opções saudáveis.
Pílula do Clube: o
consumo regular (250 ml/dia) de bebidas adoçadas possivelmente está associado
ao aumento da incidência DM2. A redução do consumo dessas bebidas pode ser uma
estratégia para prevenção primária do DM2, porém não se deve estimular o
consumo de bebidas com adoçantes e suco de frutas como substitutos saudáveis.
Discutido no Clube de
Revista de 17/08/2015.
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