quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Lorcaserin and Renal Outcomes in Obese and Overweight Patients in the CAMELLIA-TIMI 61 Trial


Scirica BM, Bohula EA, Dwyer JP, Qamar A, Inzucchi SE, McGuire DK, Keech AC, Smith SR, Murphy SA, Im K, Leiter LA, Gupta M, Patel T, Miao W, Perdomo C, Bonaca MP, Ruff CT, Sabatine MS, Wiviott SD; CAMELLIA-TIMI 61 Steering Committee and Investigators.

Circulation 2019, 139(3):366-375.

Em pacientes com sobrepeso ou obesidade já foi demonstrado que a Lorcaserina, um agonista do receptor de serotonina 5-HT2C, associa-se à perda sustentada de peso, melhora do controle glicêmico com redução do risco de progressão para diabetes, sem aumento de eventos adversos cardiovasculares em comparação ao placebo. O CAMELLIA-TIMI 61 foi um estudo randomizado, duplo-cego, multinacional, em pacientes com índice de massa corporal ≥ 27, com doença cardiovascular estabelecida (> 40 anos de idade) ou múltiplos fatores de risco (homens ≥ 50 anos ou mulheres ≥ 55 anos com diabetes mellitus e no mínimo um fator de risco cardiovascular). No atual estudo, foram avaliados desfechos renais associados ao uso da Lorcaserina (10 mg duas vezes ao dia) em comparação ao placebo. Ambos grupos recebiam orientação nutricional e de atividade física. Foram excluídos pacientes com taxa de filtração glomerular < 30 ou doença renal terminal. O desfecho renal primário foi um composto renal de agravo ou surgimento de albuminúria, agravo ou surgimento de doença renal (TFG), dobrar creatinina sérica, doença renal terminal (TFG < 15 ou hemodiálise), transplante renal ou morte renal.
Foram randomizados 12000 pacientes entre fevereiro de 2014 a novembro de 2015 e acompanhados por uma mediana de 3,3 anos. No baseline, em ambos grupos, a mediana de TFG era 76 ml (63-89) e a excreção urinária de albumina (EUA) 7 mg/g (3,9-20), sendo que 23,8% tinham TFG < 60 e 19% albuminúria. A Lorcaserina reduziu dois componentes do desfecho renal primário: agravo ou surgimento de albuminúria (2,7% vs. 3,1%; HR 0,86 IC95% 0,76–0,97; P=0,017) e agravo ou surgimento de doença renal estratificada pela TFG (2,4% vs. 2,9%; HR 0,81 IC95% 0,72–0,93; P=0,0018). Houve melhora em ambos parâmetros no primeiro ano após randomização, sendo a TFG 1,2 ml maior e a EUA 9 mg/g menor nos pacientes alocados para o grupo tratamento. Esses resultados foram consistentes entre subgrupos com peso, função renal e perfis glicêmicos variados. Eventos adversos renais graves foram infrequentes e semelhantes entre os grupos. Foi evidenciado também, após ajuste para características basais, que pacientes com doença renal estavam sob risco aumentado de eventos cardiovasculares maiores. No Clube os seguintes pontos foram discutidos:
·      O estudo possui como grande limitação o desfecho composto renal, epecialmente em relação aos desfechos positivos serem em relação a parâmetros laboratoriais (com tamanho de efeito pequeno) e não a desfechos clínicos, como evitar evolução para doença renal terminal ou morte de causa renal;
·      Não se sabe o exato mecanismo pelo qual a Lorcaserina melhora parâmetros renais, se pela perda ponderal per se ou por melhora de parâmetros cardiometabólicos. No atual estudo, houve benefício maior entre pacientes não hipertensos e não houve diferença entre perfis glicêmicos, sugerindo não haver relação direta com o controle desses fatores.

Pílula do Clube: A Lorcaserina, juntamente com dieta e modificação de estilo de vida, reduziu o desenvolvimento ou progressão de doença renal em comparação ao placebo em pacientes com sobrepeso ou obesidade com doença cardiovascular estabelecida ou fatores de risco.

Discutido no Clube de Revista de 16/09/2019.

Efficacy and Safety of Fast-Acting Insulin Aspart Compared with Insulin Aspart, Both in Combination with Insulin Degludec, in Children and Adolescents with Type 1 Diabetes: The onset 7 Trial


Bode BW, Iotova V, Kovarenko M, Laffel LM, Rao PV, Deenadayalan S, Ekelund M, Larsen SF, Danne T.

Diabetes Care 2019, 42(7):1255-1262.

Na busca de insulinas mais fisiológicas, foi elaborado uma nova formulação de Aspart com dois excipientes adicionais, l-arginina como agente estabilizador e niacinamida que promove a absorção inicial mais acelerada após a administração da droga – conhecida como “FIASP, aspart mais rápida”, que teria seu início e pico de ação mais precoce em relação a Aspart. Este estudo avaliou a eficácia e segurança desta insulina em comparação à Aspart, em combinação com degludeca em crianças e adolescentes com diabetes tipo 1. Foi um ensaio clínico randomizado, de duração de 26 semanas, duplo cego, multicêntrico (em 17 países), que avaliou crianças e adolescentes de 1 a 18 anos de idade, com hemoglobina glicada basal média de 7,6%, randomizadas em 3 grupos de aproximadamente 250 pacientes cada. Um grupo recebeu FIASP pré prandial; outro Aspart pré prandial; e o outro braço, que era aberto, recebeu FIASP 20 minutos APÓS o início da refeição. A administração dos grupos de insulina pré prandial acontecia 0-2min antes da refeição. Todos os pacientes foram submetidos a um período de run-in de 12 semanas, em que todos tinham seu esquema de insulina substituído por Aspart e Degludeca e as doses otimizadas. Após doze semanas, os pacientes iniciavam o período de intervenção.
O desfecho primário era a mudança na hemoglobina glicada após 26 semanas. Em comparação a Aspart, a FIASP pré prandial apresentou uma maior redução de hemoglobina glicada, -0,17% (IC95% -0,30 a -0,03), mostrando-se não inferior e superior com significância estatística. O FIASP pós prandial também mostrou-se estatisticamente não inferior a Aspart, mas com discreto aumento de HbA1c (0,13% IC95% –0,01 a 0,26). Quanto aos desfechos secundários, não houve diferença na porcentagem de pacientes que atingiu o alvo < 7,5% de HbA1c entre os grupos e nos episódios de hipoglicemia geral, porém houve mais hipoglicemia no período noturno no grupo que recebeu FIASP pós-prandial. Os valores de glicemia após 1-h da refeição no café e almoço e “todas as refeições”, favoreceu FIASP pré-prandial em comparação a Aspart. Já os valores de 1-h após almoço e jantar e “todas as refeições” favoreceu a aspart em comparação a FIASP pós refeição. A porcentagem de glicemia no alvo (71–180 mg / dL]) foi de 53% com FIASP e 51% com aspart e o tempo abaixo do alvo (< 70 mg / dL) foi de 6,0% em todos os grupos de tratamento. Foi discutido no Clube:
·      FIASP pré-refeição foi superior a Aspart em termos de mudança na HbA1c após 26 semanas em crianças e adolescentes com DM1, porém com um discreto valor de mudança cuja relevância clínica é questionável;
·      FIASP pós-refeição foi não inferior a Aspart antes das refeições, porém apresentou alguns parâmetros de piora, como por exemplo tendência a elevação de hemoglobina glicada, maiores excursões glicêmicas pós-prandiais, e mais episódios de hipoglicemia noturna. Acreditamos que teria sido ideal um desenho de estudo que incluísse a administração da Aspart também pós-prandial para uma comparação entre ambas;
·      Considerando que sabidamente o início de ação da Aspart ocorre em torno de 10-15min após a administração, o fato do cegamento implicar na aplicação de FIASP e Aspart pré-prandial até 0-2 minutos antes da refeição pode ter influenciado no resultado pior para Aspart, porém, esta é a realidade na prática de grande parte dos pacientes;
·      O controle glicêmico por glicemias capilares e CGM demonstrou uma melhora significativa no incremento de glicemia 1 hora pós-prandial com FIASP pré-refeição em relação a Aspart, mas quando comparado a FIASP APÓS a refeição, geralmente, a aspart foi melhor. Ainda é incerto se este parâmetro de avaliação glicêmica (excursão glicêmica/níveis pós-prandiais) isoladamente é significativo em termos de desfechos duros (complicações do diabetes e mortalidade);
·      O estudo apresenta muito conflito de interesse tendo em vista que todo desenho, elaboração e autores são relacionados à indústria farmacêutica.

Pílula do Clube: FIASP parece superior à Aspart quando aplicadas imediatamente antes da refeição em relação a controle pós-prandial em 01 hora, e hemoglobina glicada, porém tamanho de efeito muito discreto e  impacto clínico discutível.

Discutido no Clube de Revista de 02/09/2019.

Role of Vitamin E for Nonalcoholic Steatohepatitis in Patients with Type 2 Diabetes: A Randomized Controlled Trial


Fernando Bril, Diane M. Biernacki, Srilaxmi Kalavalapalli, Romina Lomonaco, Sreevidya K. Subbarayan, Jinping Lai, Fermin Tio, Amitabh Suman, Beverly K. Orsak, Joan Hecht and Kenneth Cusi

Diabetes Care 2019, 42(8):1481-1488.

Trata-se de um ensaio clínico multicêntrico, duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, realizado de julho de 2010 a setembro de 2016, com objetivo de avaliar a segurança e a eficácia da vitamina E, isoladamente ou em combinação com a pioglitazona, em pacientes com NASH e Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2). Foram incluídos pacientes com DM2 e NASH confirmado com biópsia, e os critérios de exclusão foram os seguintes: uso de drogas capazes de interferir nos resultados do estudo (tiazolidinedionas, agonistas do GLP-1, inibidores do SGLT2, vitamina E, medicamentos sabidamente causadores de esteatose hepática), pacientes portadores de hepatopatia de outra etiologia ou com elevação de transaminares ≥ 3 vezes o limite superior da normalidade, com diabetes tipo 1 e/ou com doença cardíaca, pulmonar ou renal grave. Após avaliação clínica e laboratorial basal, os indivíduos foram randomizados em três grupos (1:1:1) para receber (1) vitamina E 800 mg/dia mais placebo, (2) vitamina E 800 mg/dia mais pioglitazona 45 mg/dia e (3) placebo de ambos. O desfecho primário foi a redução no escore NAS (escore de atividade) em ≥ 2 pontos, em duas categorias diferentes, sem qualquer agravamento da fibrose, após 18 meses de tratamento. Os desfechos secundários avaliados foram resolução do NASH, a melhora individual dos parâmetros contidos nos escores histológicos e a melhora no SAF escore (escore de esteatose, atividade e fibrose). Os desfechos adicionais incluíam avaliação metabólica, a gordura corporal total, a espectroscopia de prótons e o TOTG 75g. Os pacientes foram avaliados mensalmente nos primeiros quatro meses e, então, a cada dois meses; a cada visita, eram revisadas as glicemias capilares, os exames laboratoriais de segurança do tratamento, a presença de eventos adversos e a adesão. Após 18 meses de tratamento, foram repetidas a biópsia hepática, a avaliação da gordura corporal e a espectroscopia de prótons por RNM. Todas as biópsias hepáticas foram analisadas por dois patologistas experientes e cegados. A análise foi por intenção de tratar, sendo realizada imputação múltipla de parâmetros histológicos faltantes ao final do estudo. Como foram realizadas duas comparações primárias, valores de P < 0,025 foram considerados com significância estatística.
Foram incluídos 105 pacientes no estudo: 32 no grupo placebo, 36 no grupo da vitamina E, 37 no grupo da terapia combinada com pioglitazona e vitamina E. As características clínicas basais foram semelhantes nos três grupos, incluindo o perfil glicêmico, o perfil lipídico, as medicações e a gravidade da doença hepática. A proporção de pacientes que alcançou o desfecho primário em 18 meses foi maior no grupo que recebeu a terapia combinada com pioglitazona e vitamina E vs. placebo (54% vs. 19%, P = 0,003), o que não foi observado no grupo que recebeu somente vitamina E (31% vs.19%, P = 0,26). Quanto aos desfechos histológicos, somente o grupo da terapia combinada apresentou resolução do NASH em comparação ao placebo (43% vs. 12%, P = 0,005), sem diferença no grupo da vitamina E (33% vs. 12%, P = 0,04). Ambos os grupos apresentaram melhora da esteatose (P < 0,001 e P = 0,018 na terapia combinada e no grupo da vitamina E, respectivamente); por outro lado, a inflamação, a balonização e o escore SAF apresentaram melhora somente no grupo da terapia combinada (P = 0,018, P = 0,022 e P = 0,011, respectivamente) em relação ao grupo placebo, e nenhuma foi efetiva em relação à melhora da fibrose. No que diz respeito aos desfechos adicionais, os pacientes que receberam vitamina E associada a pioglitazona apresentaram maior ganho de peso (0,8 ± 4,7 kg no grupo placebo vs. 5,7 ± 5,4 kg no grupo da terapia combinada, P < 0,001), além de redução da hemoglobina glicada, o que não foi observado no grupo que recebeu somente vitamina E. Houve discreta melhora no HDL (P = 0,009) nos pacientes do tratamento combinado, sem diferença no restante do perfil lipídico, glicemia de jejum e no controle pressórico. Ambos os braços apresentaram redução significativa das transaminases, assim como redução no conteúdo de triglicerídeos intra-hepáticos na espectroscopia de prótons na RNM após 18 meses de tratamento. Quanto aos efeitos adversos, além do ganho de peso, o grupo em terapia combinada apresentou maior frequência de edema de membros inferiores e de episódios de hipoglicemia. Ocorreram quatro mortes, duas em cada grupo: AVE isquêmico e hemorrágico no da vitamina E isolada, síndrome coronariana aguda e morte súbita no da vitamina E associada à Pioglitazona. No Clube de Revista, foram discutidos os seguintes aspectos:
·      A vitamina E foi associada a benefício histológico somente quando associada à pioglitazona em pacientes com DM2 e NASH;
·      Não foram avaliados desfechos clínicos relacionados a NASH;
·      Os resultados foram semelhantes aos estudos prévios que avaliaram a pioglitazona em pacientes com diabetes ou pré-diabetes, sugerindo uma menor influência da Vitamina E na melhora histológica nesses casos, bem como a necessidade de um grupo comparativo em monoterapia com pioglitazona;
·      Insuficiência cardíaca congestiva não foi listada nos eventos adversos do presente estudo.

Pílula do Clube: a vitamina E em monoterapia não foi associada à melhora da histologia hepática em pacientes com DM2 e NASH. No entanto, a terapia combinada com pioglitazona demonstrou benefício histológico nesse grupo de pacientes.

Discutido no Clube de Revista de 26/08/2019.

Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity without Diabetes

  A. Michael Lincoff, Kirstine Brown‐Frandsen, Helen M. Colhoun, John Deanfield, Scott S. Emerson, Sille Esbjerg, Søren Hardt‐Lindberg, G. K...