sábado, 19 de novembro de 2022

Non-inferiority of liquid thyroxine in comparison to tablets formulation in the treatment of children with congenital hypothyroidism

 Flora Tzifi, Alexandra Iliadi, Antonis Voutetakis, Dimitris Platis, Panagiotis Girginoudis and Christina Kanaka-Gantenbein

 

J Pediatr Endocrinol Metab 2022; 35(2): 239–247

https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/jpem-2021-0458/html

 

O hipotireoidismo congênito é uma condição com incidência aproximada de 1 para cada 2000 nascidos vivos e é a maior causa previnível de deficiência intelectual na infância. O tratamento preconizado é o uso de levotiroxina em comprimido macerados, sendo que formulações líquidas com frequência não são disponíveis ou não apresentam registro de uso na população pediátrica - o diluente mais comum é o etanol, que não apresenta dados de segurança em lactentes e crianças. A necessidade da manipulação dos comprimidos em domicílio tem o potencial de levar a erros na administração e dificulta o ajuste do tratamento, uma vez que a levotiroxina necessita de adequação conforme o ganho de peso e a dose ideal pode não ser reprodutível com os comprimidos disponíveis. O objetivo deste estudo foi avaliar eficácia e segurança de levotiroxina gotas (T4® drops) - solução de água e glicerol - versus levotiroxina comprimido (T4® tabs) no controle do hipotireoidismo congênito através de controle laboratorial. 

Trata-se de um ensaio clínico, multicêntrico (pacientes atendidos em duas instituições gregas), randomizado, não cegado e com duração de 12 meses. Foram incluídos pacientes entre 3 e 12 anos a fim de minimizar o risco de sequelas neurológicas que podem decorrer do mau controle do hipotireoidismo nos 3 primeiros anos de vida. Foram excluídos pacientes com diagnóstico que não o de hipotireoidismo na forma congênita - incluindo hipertireoidismo, TSH acima de 5 ou inferior a 0,5, participantes com cardiopatia congênita ou insuficiência adrenal e pacientes que utilizavam outro comprimido que não o T4® tabs no início do estudo. Foram selecionados 39 pacientes, 3 deles perdidos após o primeiro exame físico e não incluídos na análise. Não foram descritas as não inclusões. Os grupos foram comparáveis em todos os aspectos, exceto idade - o grupo que recebeu levotiroxina gotas era significativamente mais velho (8,9 vs. 6,8 anos P=0,007). Os pacientes foram divididos em grupo A (comprimidos por 12 meses) e grupo B (gotas nos primeiros 6 meses e comprimidos nos 6 meses finais). Foram realizadas visitas para ajuste de tratamento em tempos pré-definidos (2, 4, 6 e 12 meses) e todos os ajustes de tratamento foram feitos pelo mesmo examinador não cegado. O estudo foi prejudicado por recusa a coletas, que foi maior no grupo que recebeu comprimidos. Foi observado em relação às coletas: aos 2 meses: 47% recusa no grupo A e adesão total grupo B; aos 4 meses: aproximadamente 52% de recusa em ambos os grupos; aos 6 meses: adesão total. 

Os pesquisadores relataram que não houve diferença estatisticamente significativa nos níveis de T4 livre entre os grupos. Quanto ao TSH, foi observado que o grupo B teve níveis mais baixos aos 6 meses quando comparados ao grupo A (P=0,017), porém ambos estavam dentro do limite de referência. Foi observada também menor necessidade de ajuste de dose aos 6 meses no grupo B, porém este grupo também teve melhor adesão às coletas anteriores. Os pesquisadores concluíram que a administração de levotiroxina gotas é não inferior ao uso de levotiroxina comprimidos. Durante o Clube os seguintes pontos foram observados, como limitações importantes do estudo:

  • Ausência de cegamento;

  • Não-análise de parâmetros clínicos importantes como Z score de estatura nos dois tratamentos;

  • Não-inclusões não descritas;

  • Análise não foi por intenção de tratar;

  • Conflitos de interesse - estudo patrocinado pela indústria farmacêutica;

  • Incongruência de registro do estudo com estudo realizado;

  • Ausência de cálculo amostral - estimativa de cálculo amostral necessário para conclusões descritas pelos pesquisadores de aproximadamente n=100. 

Como forças do estudo destaca-se o cuidado com a escolha da população em estudo (crianças mais velhas com menor risco de dano neurológico por mau controle do hipotireoidismo) e a discussão de um tema com poucos ensaios clínicos realizados e cuja aplicabilidade é relevante - uso de levotiroxina líquida seria preferida para pacientes que não engolem comprimidos. 

 

Pílula do Clube: uma vez que o estudo apresentou limitações importantes, não é possível inferir que o tratamento com levotiroxina líquidas é não inferior ao uso de comprimidos conforme os dados relatados e, portanto, o estudo não responde à pergunta clínica proposta.  

 

Discutido no Clube de Revista de 29/08/2022.

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