domingo, 13 de novembro de 2022

Cancer Risk After Radioactive Iodine Treatment for Hyperthyroidism: A Systematic Review and Meta-analysis

 Sung Ryul Shim, Cari M. Kitahara, Eun Shil Cha, Seong-Jang Kim, Ye Jin Bang, Won Jin Lee.


JAMA Network Open 2021, 4(9):e2125072. 

https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2784269#:~:text=This%20systematic%20review%20and%20meta%2Danalysis%20found%20no%20significant%20risks,hyperthyroidism%2C%20except%20for%20thyroid%20cancer.


O iodo radioativo (RAI) tem sido usado para tratar o hipertireoidismo, no entanto, seu uso tem sido associado com potencial efeito carcinogênico e leucemiante. Esta revisão sistemática e metanálise teve o objetivo de estimar o efeito do RAI para tratamento do hipertireoidismo sobre a incidência de câncer e de mortalidade, incluindo análises de possível efeito dose-dependente.

Foram incluídos estudos publicados nas bases de dados da MEDLINE/PubMed, EMBASE e Biblioteca Cochrane, desde o  seu início até outubro de 2020. Foram critérios de inclusão: (1) população do estudo de pacientes com diagnóstico de câncer primário após RAI para doenças benignas da tireoide; (2) intervenções incluíram administração de RAI; (3) as comparações com grupos de tratamento não expostos a RAI, como população geral e/ou pacientes recebendo outra modalidade de tratamento (tireoidectomia ou drogas antitireoidianas), ou pacientes expostos a diferentes doses de RAI; (4) desfechos padronizados em razão de incidência (SIR); razão de mortalidade (RMR); razão de risco (HR) ou risco relativo (RR) para incidência e mortalidade. A análise dos dados agrupados e IC de 95% foram calculados utilizando-se modelo de efeitos aleatórios e as diferenças entre subgrupos foram estimadas usando meta-regressão com o método de probabilidade máxima residual. 

Foram incluídos 12 estudos (479.452 participantes), seguimento médio de  7,27 a 27 anos e a dose média de RAI de 259 MBq (equivalente a 7 mci) a 507 MBq (14 mci). A SIR de câncer no geral foi de 1,02 (IC95%, 0,95 a 1,09) e a RMR agrupada por câncer foi de 0,98 (IC95%, 0,92 a 1,04) para exposição vs. não-expostos a RAI. Não se observou maior risco para cânceres específicos, exceto incidência de câncer de tireoide (SIR 1,86; IC95%, 1,19 a 2,92) e mortalidade por câncer de tireoide (RM 2,22; IC95% 1,37 a 3,59). 

Na análise por metaregressão, o risco de câncer foi aumentado nos estudos com maior seguimento, com maior número de pacientes, e com doses maiores de RAI, sendo doses de 505 MBq (equivalente 13,7 mCi) associadas com incidência 1,09 (IC 95% 1,03 a 1,16) – diferente de doses menores, que não foram associadas com aumento de risco. Já na análise específica de dose-resposta com base em 2 estudos, o RAI foi associado à mortalidade por câncer de mama (por 370 MBq: 1,35; P=0,03) e por câncer sólido no geral (por 370 MBq: 1,14; P=0,01). Não houve viés de publicação. De forma geral, a qualidade dos estudos foi classificada como moderada - conforme UNSCEAR 2017 (ferramenta de avaliação de qualidade para estudos de epidemiologia de radiação). A maioria dos estudos teve um risco moderado ou grave de viés em relação à exposição devido à falta de dose específica, incluiu pacientes que não eram randomizados para os tratamentos que receberam (viés de confusão), e tinham controle nem sempre adequado visto avaliação de população geral vs pacientes tratados para hipertireoidismo com outras terapêuticas que não RAI. Os principais pontos discutidos no Clube foram:

  • O risco geral de câncer agrupado após exposição à terapia RAI não foi maior vs. não expostos, exceto para câncer de tireoide, sobre o qual a risco de mortalidade foi elevado mais de 2. O número de estudos incluídos na síntese quantitativa era relativamente pequeno para agrupar riscos de cânceres relativamente incomuns;

  • TSH e anticorpos contra tireoide, presentes na doença de Graves, podem desempenhar um papel em carcinogênese e crescimento tumoral, e hipertireoidismo pode estar associado a uma incidência aumentada de carcinoma da tireoide, explicando pelo menos em parte os achados;

  • Além disso, foi levantada a hipótese de que o fato do paciente ficar sendo atendido por doença da tireoide (hipertireoidismo) poderia levar a um sobrediagnóstico de câncer de tireoide;

  • Aumentos na dose RAI foram associados com aumentos na mortalidade por câncer sólido e câncer de mama, no entanto, esse resultado foi baseado na análise de apenas 3 estudos.


Pílula do Clube: De uma forma geral, apesar dos vieses incluídos na metanálise, pode-se inferir que os benefícios da terapia com RAI parecem superar os riscos da mesma. Tendo em vista os resultados deste estudo, no qual não demonstrou aumento de risco de câncer (exceto tireoide, o que pode ser explicado por outros fatores), o seu uso como tratamento de hipertireoidismo parece seguro quanto ao potencial carcinogênico. 


Discutido no Clube de Revista de 04/07/2022.

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