domingo, 13 de novembro de 2022

Egg Consumption and Blood Lipid Parameters According to the Presence of Chronic Metabolic Disorders: The EVIDENT II Study

 Arthur  Eumann  Mesas, Miriam  Garrido-Miguel, Rubén  Fernández-Rodríguez, Sofía  Fernández  Franco, Cristina  Lugones-Sánchez, Luis  García-Ortiz and Vicente Martínez-Vizcaíno.


J Clin Endocrinol Metab 2022, 107(3):e963-e972.

https://academic.oup.com/jcem/article/107/3/e963/6420407?login=false 


Considerando a gema do ovo como uma das principais fonte de colesterol da dieta, muito se discute se o aumento do consumo de ovos está associado a aumento do risco cardiovascular. As evidências disponíveis até o momento são ambíguas no assunto. Ressalta-se, contudo, que o perfil lipídico está intimamente associado a distúrbios cardiometabólicos crônicos, como obesidade, hipertensão ou diabetes tipo 2, sendo que o efeito do consumo de ovos no perfil lipídico depende da presença desses transtornos. Com isso, o presente estudo teve como objetivo avaliar a relação entre consumo de ovos e parâmetros lipídicos no sangue e como essa relação varia de acordo com a presença de doenças metabólicas crônica. 

Foram utilizados dados de baseline do EVIDENT II, um estudo multicêntrico, randomizado e duplo-cego que incluiu pacientes de 18-70 anos de idade na Espanha, sem doença cardiovascular, câncer ou outra desordem física e mental maior; 728 participantes foram incluídos. Para avaliar a medida de exposição – consumo de ovos – foi utilizado um questionário de frequência alimentar e utilizada a medida em g/dia/peso corporal. Foram estabelecidos quartis de consumo, sendo a referência incluiu baixa ingesta (até um ovo/semana). As variáveis dependentes a serem analisadas incluíram colesterol total, HDL-c, LDL-c e triglicerídeos. Outras covariáveis também foram incluídas: características sócio-econômicas, IMC, gasto energético, tabagismo, consumo de álcool, aderência ao dieta do mediterrâneo, tempo de atividade física, presença de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemia e uso de medicações anti-lipemiantes. 

A idade média da população estudada foi de 52 anos e 61,9% eram do sexo feminino. Em relação ao quarto quartil de consumo (>0,39g/kg/dia), 82% eram do sexo feminino, com média de IMC 24,8kg/m2, com um gasto energético maior e menor presença de comorbidades, quando comparado aos outros quartis de consumo. Ainda, o quarto quartil apresentou maiores níveis de HDL-c (média 63,3mg/dL), triglicerídeos (média 90,5mg/dL) e menor relação LDL-c/HDL-c, enquanto o terceiro quartil apresentou maiores valores de colesterol total (212,8 mg/dL) e de LDL (132,3mg/dL). 

Utilizando o método de correlação de Pearson, o consumo de ovos teve uma correlação positiva com os níveis de HDL-c, correlação negativa com razão LDL-c/HDL-c e níveis de triglicerídeos, não apresentando correlação com os valores de colesterol total e LDL-c. Quando utilizou-se os modelos de regressão linenar para análise dos dados, no modelo não ajustado foi observado que o quarto quartil de consumo apresentou melhores níveis de HDL-c. No entanto, nos resultados totalmente ajustados, não foi observada associação entre o consumo de ovos e os níveis de CT, HDL-c e TG. Além disso, o quarto quartil (comparado com o primeiro quartil) foi associado a níveis mais baixos de LDL-c (coeficiente -7,01; IC95% -13,39, -0,62) e uma menor relação LDL-c/HDL-c (coeficiente - 0,24, IC95% -0,41, -0,06).

Já nas análises estratificadas por doenças metabólicas crônicas, o maior consumo de ovos foi associado (quarto vs primeiro quartil) a um melhor perfil lipídico em indivíduos sem doenças metabólicas e não foi associado a parâmetros lipídicos séricos em indivíduos com obesidade, hipertensão, DM2, dislipidemia e/ou tratados com hipolipemiantes. O consumo de ovos pode influenciar de forma benéfica no perfil lipídico de indivíduos saudáveis, mas esse efeito benéfico aparentemente paradoxal ​ pode ser devido a um estilo de vida mais saudável, baseado em uma melhor qualidade da dieta, menor ingestão total de energia ou maior níveis de atividade física. Além disso, um ovo grande de 60g contém ~230mg de colesterol + outros componentes bioativos e ainda não se tem com clareza qual a importância clínica desses outros componentes no perfil lipídico e no risco cardiometabólico. No Clube de Revista foram discutidos os seguintes pontos:

  • Possíveis viéses que possam ter influenciado nos resultados, considerando que uma série de outros fatores confundidores podem estar presentes e impactar no no perfil lipídico;

  • Grande heterogeneidade de resultados no assunto devido as diferentes formas de avaliação e análise das variáveis;

  • Sobre as limitações do estudo apresentando, cita-se: desenho transversal, em que a causalidade reversa não pode ser excluída; informações sobre alimentação foram coletadas por meio de questionário, que está sujeito a viés de memória e viés de informação; forma de preparo dos ovos consumidos e consumo de gorduras saturadas (adesão dieta do mediterrâneo) não foram avaliados e, por fim, as análises foram ajustadas para os principais confundidores sociodemográficos, antropométricos e de estilo de vida, mas há possibilidade de outros confundidores específicos. 


Pílula do Clube: o consumo de ovos pode, possivelmente, influenciar de forma benéfica no perfil lipídico de indivíduos saudáveis. Esse efeito benéfico aparentemente paradoxal observado em pessoas saudáveis ​ pode ser devido a um estilo de vida mais saudável, baseado em uma melhor qualidade da dieta, menor ingestão total de energia ou maior níveis de atividade física.


Discutido no Clube de Revista de 30/05/2022.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity without Diabetes

  A. Michael Lincoff, Kirstine Brown‐Frandsen, Helen M. Colhoun, John Deanfield, Scott S. Emerson, Sille Esbjerg, Søren Hardt‐Lindberg, G. K...