Okosieme
OE, Taylor PN, Evans C, Thayer D, Chai A, Khan I, Draman MS, Tennant B, Geen J,
Sayers A, French R, Lazarus JH, Premawardhana LD, Dayan CM
Lancet Diabetes Endocrinol 2019, 7(4):278-287.
O hipertireoidismo descompensado promove aumento da
morbidade cardiovascular e da mortalidade. A doença de Graves é rotineiramente
tratada com drogas antitireoidianas, radioiodo ou cirurgia, mas permanece
incerto se a escolha da terapia primária inicial influencia os desfechos a
longo prazo. Este estudo de coorte retrospectivo tem como objetivo avaliar a
morbidade cardiovascular e a mortalidade de acordo com o método e a efetividade
do tratamento primário na doença de Graves. Foram utilizados bancos de dados de
saúde e assistência social do país de Gales (UK), sendo o grupo de pacientes
aqueles com registro eletrônico de TRAB positivo e evidência de
hipertireoidismo (baixas concentrações de TSH em registro laboratorial,
registro de hipertireoidismo em consulta/dados hospitalares ou registro de
prescrição de tionamidas) diagnosticados entre 1 de janeiro de 1998 a 31 de
dezembro de 2013. Não havia critérios de exclusão para este grupo. O grupo
controle foi constituído de uma amostra do banco pareada à amostra dos pacientes
na semana de nascimento e sexo, em uma proporção de 4 controles: 1 paciente,
tendo como critério de exclusão o hipertireoidismo por qualquer causa. O
desfecho primário foi mortalidade por todas as causas e o desfecho secundário
foi evento cardiovascular maior (composto de IAM, AVCi, IC ou morte por
qualquer causa). Foi realizada análise de Kaplan-Meier e modelos de regressão
de Cox com uma abordagem de avaliação da resposta ao tratamento após 1 ano do
diagnóstico para evitar viés de imortalidade. Os pacientes foram divididos em 3
grupos de tratamento primário: grupo do uso de fármacos, grupo iodo A (aqueles
que atingiram controle do hipertireoidismo) e grupo iodo B (aqueles que não
atingiram controle do hipertireoidismo). O grupo da tireoidectomia foi excluído
devido a um número pequeno de pacientes.
Foram incluídos 4019 pacientes com doença de Graves
na análise, sendo 3587 do grupo fármaco, 250 do grupo iodo A e 182 do grupo
iodo B. A coorte contava com 16756 pacientes no grupo controle e o tempo de
seguimento variou de 6 meses a 16 anos. Os pacientes com doença de Graves
apresentaram aumento no risco de mortalidade (HR 1.23, 95% CI 1.06 - 1.42) e no
risco de evento cardiovascular (HR 2.47, 95% CI 2.16 - 2.81) em relação à
população controle. O tratamento precoce e bem-sucedido (iodo grupo A)
apresentou uma redução no risco de mortalidade (HR 0.50, 95% CI 0.29 – 0.85) e
no risco de evento cardiovascular (HR 0.59, 95% CI 0.38 – 0.92) quando
comparado com o tratamento primário com drogas antitireoidianas. As vantagens
de sobrevida não foram observadas em pacientes tratados com radioiodo que não
alcançaram controle de seu hipertireoidismo (grupo B) (HR 1.51, 95% CI 0.96 –
2.37). Os pacientes com concentrações persistentemente baixas de TSH após 1 ano
de tratamento tiveram um aumento no risco de mortalidade (HR 1.55, 95% CI 1.08
- 2.24) e no risco de evento cardiovascular (HR 1.54, 95% CI 1.07 – 2.22),
independentemente do método de tratamento. Durante o Clube, foram ponderados os
seguintes pontos:
·
O
fato de do estudo ter utilizado o o TRAB para diagnóstico em todos os pacientes
é um fator que aumenta a sua qualidade, por ter conseguido assim excluir pacientes
com hipertireoidismo por outras causas;
·
É
um estudo retrospectivo, com seus possíveis vieses confundidores;
·
Não
haviam dados de provas de função tireoidianas em 29% dos pacientes. Apesar de
ter sido utilizado método de imputação, é um percentual bastante elevado;
·
A
estratégia adotada de avaliação de desfecho após 1 ano do tratamento inicial
pode ter excluído os pacientes com doença mais grave e desfechos mais precoces.
Pílula do
clube: O controle precoce e intensivo do hipertireoidismo na doença de Graves
está associado a menor morbidade cardiovascular e mortalidade por todas as
causas, independentemente do método de tratamento. A ênfase do tratamento deve
ser em promover a resolução do hipertireoidismo e a manutenção de um status
normal da função tireoidiana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário