Tamborlane WV,
Barrientos-Pérez M, Fainberg U, Frimer-Larsen H, Hafez M, Hale PM, Jalaludin
MY, Kovarenko M, Libman I, Lynch JL, Rao P, Shehadeh N, Turan S, Weghuber D,
Barrett T; Ellipse Trial Investigators.
N Engl J Med 2019, Apr
28.
Trata-se
de ensaio clínico randomizado, multicêntrico, de fase 3b, em paralelo e duplo
cego, que teve como objetivo confirmar a superioridade da liraglutida sobre o
placebo no controle glicêmico de crianças e adolescentes com DM2, quando
adicionada ao tratamento com metformina com ou sem insulina. Foram incluídos
pacientes entre 10 e 17 anos, com DM2 e hemoglobina glicada (HbA1c) entre
7,0-11% (se em tratamento com dieta) e 6,5-11% (se em tratamento farmacológico)
e IMC acima do percentil 85. Os critérios de exclusão foram outros tipos de DM,
peptídeo C baixo, anticorpos anti-GAD ou IA2 positivos, uso de outros
antidiabéticos que não metformina ou insulina basal, história de pancreatite,
calcitonina elevada, história pessoal ou familiar de carcinoma medular de
tireoide ou NEM2, alteração de transaminases ou creatinina, história de
cardiopatia, retinopatia proliferativa ou maculopatia ou hipoglicemias graves
recorrentes ou assintomáticas.
Os pacientes foram submetidos a um run-in de 12 semanas, com ajuste da dose da metformina até 2 g/dia
se tolerada, sendo elegíveis se persistissem com glicemia de jejum entre
126-220 mg/dL. Estes foram então randomizados para receber liraglutida ou
placebo subcutâneos. A dose inicial foi de 0,6 mg/dia, com aumento semanal de 0,6 mg por 2-3 semanas até o máximo 1,8 mg/dia (se tolerado), caso
a média da glicemia de jejum em 3 dias consecutivos permanecesse acima de 110
mg/dL. Na randomização, os pacientes que usavam insulina basal tinham sua dose reduzida em 20%, podendo ser
aumentada após período de ajuste de dose da liraglutida/placebo, mas não mais
que dose prévia. A fase duplo-cega durou 26 semanas, sendo depois feita
extensão aberta por mais 26 semanas, onde o grupo da liraglutida permanecia com
a medicação, e o grupo placebo com o tratamento usual (metformina com ou sem
insulina). O desfecho primário foi HbA1c na 26ª semana. Os desfechos
secundários foram glicemia de jejum, proporção que atingiu HbA1c <7%, IMC,
peso, lipídeos e PA na 26ª e 52ª semanas.
Foram randomizados 66 pacientes para receber liraglutida
e 68 para placebo, com média de 14 anos de idade, 60% meninas, IMC 33 kg/m2,
peso em torno de 90 kg, com 1,9 anos de DM e HbA1c ao redor de 7,7%, sendo que
23% e 15% usavam insulina no grupo liraglutida e placebo, respectivamente. Ao
final de 26 semanas, 86% do grupo
liraglutida e 67% do placebo não necessitaram de medicação de resgate (71% e
51% ao final de 52 semanas, respectivamente). Apenas 56% atingiram a dose plena
de liraglutida (1,8 mg/dia). Após as 26 semanas, houve queda de 0,64% na HbA1c
com liraglutida e aumento de 0,42% com placebo (diferença de 1,06% entre os
grupos, significativa), e ao final de 52 semanas a queda foi de 0,5% com
liraglutida e o aumento de 0,8% com placebo. Na fase duplo-cega, 64% do grupo
liraglutida atingiu HbA1c <7%, contra apenas 36% do placebo. Não
encontrou-se diferença no IMC entre os grupos ao final das 26 semanas. A perda
de peso com liraglutida foi 2,3 kg (semana 26) e 1,9 kg (semana 52), enquanto
que no placebo foi de 0,99 kg (semana 26) e ganho de 0,87 kg (semana 52). Não
detectou-se diferença entre os grupos na pressão arterial, e houve leve redução
dos triglicerídeos com liraglutida. Quanto aos eventos adversos, houve
Incidência maior de náusea e vômitos no grupo da liraglutida (em torno de
25-30% cada), assim como de hipoglicemias (29% vs. 9% com placebo), mas nenhuma grave. Durante o Clube de Revista,
foram discutidos os seguintes pontos:
·
O critério de inclusão englobava pacientes com
HbA1c entre 6,5-7%, o que não configura DM inadequadamente controlado nesta
faixa etária. Logo, não haveria necessidade de acrescentar nova medicação em
parte destes pacientes;
·
O estudo comparou liraglutida contra placebo em
pacientes usuários de metformina (com ou sem insulina basal), podendo-se
acrescentar insulina de resgate se o controle glicêmico não fosse atingido em
cada grupo. Porém, o ajuste da insulina basal não poderia ultrapassar a dose
prévia de quem já era usuário, prejudicando então uma comparação justa entre os
grupos;
·
A dose de liraglutida só foi ajustada nas
primeiras 3 semanas do estudo, sendo esta uma limitação para aqueles pacientes
que necessitam de um aumento mais gradual conforme tolerância, em especial
pelos efeitos adversos gastrintestinais associados à medicação. Logo, ao final
do estudo, apenas metade dos pacientes usavam a dose plena (1,8 mg/dia). Isso
prejudica a avaliação da segurança da droga e limita a avaliação do efeito
sobre o peso;
·
A ausência de diferença no IMC e peso entre os
grupos foi um achado inesperado quando se compara com os estudos em adultos,
porém um terço dos pacientes usou apenas 0,6 mg/dia da medicação.
Pílula
do Clube: O tratamento com liraglutida foi superior ao
placebo no controle glicêmico em crianças e adolescentes com DM tipo 2 em uso
de metformina com ou sem insulina basal. Houve mais eventos adversos
gastrintestinais e hipoglicemia no grupo tratado com liraglutida.
Discutido
no Clube de Revista de 24/06/2019.
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