Tamhane
S, Sfeir JG, Kittah NEN, Jasim S, Chemaitilly W, Cohen LE, Murad MH.
J Clin
Endocrinol Metab 2018, 103(8):2794-2801.
Trata-se de revisão sistemática
com metanálise que teve como objetivo avaliar os efeitos do tratamento com GH
em sobreviventes de câncer infantil (SCI) com tumores/cirurgia na região
hipotalâmica-hipofisária ou submetidos à irradiação craniana, espinhal ou corporal
total em idade jovem sobre os desfechos de altura na idade adulta, risco de
diabetes, dislipidemia, síndrome metabólica, qualidade de vida, incidência de tumores
secundários e recidiva da neoplasia. Foi realizada busca nas bases de dados Ovid Medline In-Process & Other
Non-Indexed Citations, EMBASE, Web of Science e Scopus até janeiro de 2016
e consulta adicional com especialistas (até maio de 2017). Também foram buscadas
referências dos estudos encontrados e no Google Scholar. Eram elegíveis estudos
de coorte, séries de casos, ensaios clínicos e metanálises que avaliaram os
desfechos de interesse em SCI tratados com GH vs. não tratados, sem restrição
de idioma. Avaliou-se o risco de viés pela escala modificada de
Newcastle-Ottawa para estudos observacionais e a qualidade da evidência pelo
GRADE.
De
um total de 341 citações identificadas na busca, foram selecionados 29 estudos
observacionais, sendo 16 incluídos na metanálise (apresentavam grupo controle
de SCI), com um total de 512 pacientes. A
dose média de GH variou de 0,3-0,9 UI/kg/semana. A metanálise de altura na
idade adulta (6 estudos) mostrou maior ganho de altura no grupo tratado com GH
(WMD 0,61 e DP 0,95), mas com heterogeneidade elevada (I2=90%). Não se encontrou aumento do risco de recidiva
de neoplasia (8 estudos, I2=62%)
ou de tumores secundários (6 estudos, I2=0%).
Poucos estudos reportaram desfechos de glicemia, perfil lipídico, síndrome
metabólica ou qualidade de vida, apresentado efeito neutro ou melhor no grupo
tratado com GH.
Identificaram-se
fatores que se correlacionaram positivamente com a altura final: maior idade no
final do tratamento para o câncer, maior altura no início do tratamento com GH,
ganho de altura no 1º ano de tratamento, maior idade ao diagnóstico, idade que
fez radioterapia, altura alvo, dose de GH, menor dose de radiação e cotratamento
com agonista GnRH. Por outro lado, irradiação espinhal ou crânio-espinhal, quimioterapia
e presença de outras endocrinopatias se correlacionaram negativamente com a
altura final.
De
modo geral, os estudos incluídos nas metanálises apresentavam risco moderado de
viés, principalmente pela impossibilidade de controlar fatores confundidores
(análises não ajustadas), com baixa qualidade de evidência (estudos
observacionais, com poucos eventos). Outras limitações da metanálise são o
acompanhamento curto na maioria dos estudos, prejudicando a avaliação da
incidência de neoplasias secundárias, além da heterogeneidade elevada. Durante
o Clube de Revista, foram discutidos os seguintes pontos:
·
A busca inicial identificou pequeno número de
artigos, o que pode indicar a escassa literatura presente ou uma estratégia de
busca muito restrita;
·
Os estudos incluídos apresentam grande
heterogeneidade clínica, com amostras variando de 7 a 646 pacientes no grupo
tratado com GH, e tempos de seguimento médio de 2 a 14 anos;
·
A questão sobre o risco de neoplasia secundária
ainda não parece ter sido respondida. A maioria dos estudos que não mostrou
aumento do risco tem número pequeno de pacientes usando GH, enquanto que as
coortes maiores que demonstraram maior incidência de tumor não apresentam grupo
controle adequado, impossibilitando a inclusão na metanálise (ex: The SAGhE European Cohort Study).
Pílula
do clube: Sobreviventes de câncer infantil apresentaram maior ganho
de altura quando tratados com GH em comparação aos não tratados, mas com grande
heterogeneidade na análise. Esta metanálise não mostrou aumento do risco de
recidiva do câncer ou de incidência de neoplasias secundárias, porém estudos
adicionais ainda são necessários tendo em vista a baixa qualidade da evidência
disponível e a incerteza principalmente quando ao risco de tumores secundários.
Discutido no Clube de Revista de
20/08/2018.
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