Mette Vestergaard Jensen, Kathrine
Rugbjerg, Sofie de Fine Licht, Christoffer Johansen, Kjeld Schmiegelow, Klaus
Kaae Andersen, Jeanette Falck Winther
JAMA
Network Open 2018, 1(2):e180349.
Trata-se de um estudo de coorte de base populacional realizado na Dinamarca
que se propôs a estudar os efeitos endocrinológicos tardios em pacientes
adolescentes e adultos-jovem sobreviventes de câncer. Sabe-se que o câncer
nesta faixa etária comporta-se diferente do que na faixa etária infantil e de
adultos-idosos, porém há menos estudos avaliando essa população específica e
suas particularidades tendem a ser menos exploradas.
Foram
estudados sobreviventes de câncer diagnosticado na faixa etária entre 15 – 39
anos provenientes do banco de dados do Danish
Cancer Registry de 1976 a 2009. Foram randomizados para o grupo de
comparação 5 pessoas “livres de câncer” do sistema de registro civil do mesmo
sexo e ano de nascimento para cada paciente, e foram excluídos pacientes que
morreram ou emigraram no primeiro ano após diagnóstico de câncer. Foram avaliadas as admissões
hospitalares desde 1977 e as visitas ambulatoriais desde 1995 e os CIDs
endocrinológicos, tendo sido excluídas doenças metabólicas/nutricionais;
desordens congênitas; doenças do timo e da puberdade; diagnóstico de doença
endócrina prévio; alterações cromossômicas ou pacientes com tumor
hipofisário. O seguimento ocorreu até a morte, emigração ou
diagnóstico do segundo câncer primário nos sobreviventes ou primeiro
diagnóstico de câncer nos participantes ou até 31 de dezembro de 2010.
No
total, foram avaliados 32.548 sobreviventes e 188.728 participantes para
comparação. Do primeiro grupo, 6,5% tiveram pelo menos 1 contato hospitalar por
doença endocrinológica, enquanto 3,8% dos comparativos (RR 1,73). Foi calculado
um excesso absoluto de risco de 236,6 casos de doença endocrinológica por
100.000 pessoas/ano. O aumento de risco em relação à população geral foi maior
no sexo masculino e uma idade menor ao diagnóstico foi associada a maior risco.
Além disso, o risco parece reduzir com o tempo após diagnóstico (RR 2,6 entre
1-4 anos após o diagnóstico, e RR de 1,45 de 10-19 anos após o
diagnóstico). Os maiores aumentos de risco foram evidenciados para
hipofunção testicular e ovariana e hipopituitarismo. As maiores causas de
contato hospitalar foram problemas na tireoide, diabetes (também as causas mais
frequentes na população em geral) e disfunção testicular. Os
tipos de câncer com maior risco relativo para alguma doença endocrinológica
foram leucemia, linfoma de Hodgkin e câncer cerebral. A grande maioria dos
casos de hipopituitarismo foi diagnosticado antes dos 30 anos de idade. Foi
evidenciado um
aumento de risco de diabetes em câncer testicular, ovariano e colo uterino, o
que poderia estar relacionado à deficiências hormonais. Durante o Clube de
Revista os seguintes pontos foram discutidos:
·
O estudo possui algumas limitações importantes, a principal delas
é a ausência de informações quanto ao tratamento prévio (se foram submetidos à
radioterapia ou não, se sim, quais doses, administração de quimioterápicos e
uso de medicações atuais..), assim como informações sobre o perfil dos
pacientes (peso, dados socioeconômicos, etnia...);
·
O viés de vigilância que pode superestimar os riscos, assim como,
o fato de as consultas ambulatoriais terem sido registradas apenas a partir de
1995, e a ausência de avaliação dos registros de atenção básica/clínico geral,
o que poderia subestimar os diagnósticos;
·
Os pontos fortes são o fato de ser o primeiro estudo a avaliar o
risco de doenças endocrinológicas em sobreviventes de câncer com diagnóstico
quando adolescentes e adulto jovens, dados de longo período de follow-up,
registros de alta qualidade e grande amostra de pacientes.
·
Este estudo indica a necessidade de identificação de
perfis de pacientes de maior risco para efeitos endocrinológicos tardios para
que o aconselhamento e seguimento possam ser individualizados e suas
informações podem orientar futuras medidas preventivas e estratégias de
vigilância. Estudos adicionais são necessários para determinar associações
exatas entre regimes de tratamento e doenças endócrinas.
Pílula do Clube: a população de adolescentes e adultos jovens sobreviventes de câncer, sobretudo leucemia, linfoma de Hodgkin e câncer cerebral, têm maior risco de desenvolver doenças endocrinológicas e devem ser acompanhados com maior intensidade nos primeiros anos após o diagnóstico e ter o seu seguimento customizado.
Discutido no Clube de Revista de 23/07/2018
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