The ASCEND Study Collaborative Group
N Engl J Med. 2018 Aug 26. doi:
10.1056/NEJMoa1804988. [Epub ahead of print]
Considerando que o diabetes mellitus (DM) é fator de risco
para doenças cardiovasculares (DCV), o uso de aspirina (AAS) na prevenção
primária foi recomendado, mesmo sem evidências para esta indicação. Este é um
ensaio clínico randomizado com objetivo de analisar se o uso de AAS 100 mg ao
dia com cobertura entérica é capaz de prevenir DCV em pacientes com DM sem DCV
prévia. Os pacientes com DM foram selecionados por convite eletrônico
encaminhado aqueles que consultavam em clínicas de saúde do país (UK). Os
critérios de inclusão eram idade acima de 40 anos, ter DM e não ter DCV estabelecida.
Eram excluídos todos os pacientes com indicação clara de uso de
antiplaquetários ou com contraindicação formal ao uso de AAS. Foram convidados 121.254
pacientes, dos quais 26.462 entraram em fase de run in, em que receberam placebo por 8 semanas. Aqueles que
retornaram o questionário e mantinham critérios de inclusão, foram randomizados
a AAS ou placebo (n=15.480). O desfecho primário de eficácia foi o primeiro
evento vascular sério [infarto do miocárdio não fatal, acidente cerebrovascular
não fatal, acidente isquêmico transitório (AIT) e morte de causa vascular]. AIT
foi incluído posteriormente ao recrutamento para aumentar o poder da amostra. O
desfecho primário de segurança foi primeiro evento de sangramento maior
(sangramento intracraniano, sangramento ocular com ameaça à visão, sangramento
gastrointestinal ou outro sangramento com necessidade de hospitalização,
transfusão ou morte). Desfechos secundários foram incidência de neoplasias e
revascularização.
Em análise por intenção de tratar,
após 7,4 anos de seguimento, a redução de eventos vasculares maiores foi de 12%
no grupo intervenção [RR 0,88 IC95% 0,79-0,97; P=0,01], NNT 91, às custas de
aumento de 29% de eventos de sangramento maior neste grupo (RR 1,29 IC95% 1,09-1,52;
P=0,003), com NNH 112. Não houve redução de mortalidade por causa
cardiovascular ou mortalidade por outras causas, nem redução de neoplasias com
uso de AAS. Durante o clube de revista foram discutidos os seguintes aspectos:
·
O desfecho primário foi modificado após o
recrutamento, com inclusão de AIT para aumentar o poder da amostra. Porém, o
diagnóstico de AIT pode ser de diferente interpretação entre os médicos,
especialmente tratando-se de dados reportados pelos pacientes;
·
Quando analisado o desfecho primário de
eficácia retirando-se AIT, o benefício da intervenção não se mantém (RR 0,92
IC95% 0,82-1,03), portanto se fosse mantido o desenho original o estudo seria
negativo;
·
A causa mais comum de sangramento maior foi
gastrointestinal (62,3%), porém sangramento ocular com ameaça à visão (21,1%) e
hemorragia intracraniana (17,1%) foram importantes causas de sangramento;
·
Pertencer ao grupo de maior risco
cardiovascular não demonstrou maior benefício no uso de AAS, porém demonstrou maior
risco de sangramento maior.
Pílula
do Clube: A utilização de AAS na prevenção primária em
pacientes com DM demonstrou redução de 12% de risco de eventos cardiovasculares
(com modificação do desfecho primário), porém às custas de aumento de 29% de
risco de sangramentos maiores. Por essa razão, não deve ser prescrito
indiscriminadamente em níveis populacionais, sendo sua indicação minuciosamente
individualizada e a decisão compartilhada.
Discutido
no Clube de Revista de 03/09/2018.
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