Tanja Dekkers, Aleksander Prejbisz,
Leo J Schultze Kool, Hans J M M Groenewoud, Marieke Velema, Wilko Spiering,
Sylwia Kołodziejczyk-Kruk, Mark Arntz, Jacek Kądziela, Johannes F
Langenhuijsen, Michiel N Kerstens, Anton H van den Meiracker, Bert-Jan van den
Born, Fred C G J Sweep, Ad R M M Hermus, Andrzej Januszewicz, Alike F
Ligthart-Naber, Peter Makai, Gert-Jan van der Wilt, Jacques W M Lenders, Jaap
Deinum, for the SPARTACUS Investigators.
Lancet Diabetes Endocrinol. 2016 Sep;4(9):739-46.
Trata-se de ensaio clinico randomizado, multicêntrico,
controlado e aberto com o objetivo de comparar o manejo dos pacientes com hiperaldosteronismo
primário (HAP) com base nos achados diagnósticos da tomografia computadorizada
(TC) vs. cateterismo de veias
adrenais (CVA). Foram incluídos pacientes com idade ≥ 18 anos e hipertensão
necessitando mais do que 3 drogas, ou
hipertensão acompanhada por hipocalemia. Critérios de exclusão eram recusa do
paciente a ser submetido à TC, CVA ou adrenalectomia, gestação, suspeita de HAP
remediável por glicocorticoides, suspeita de carcinoma adrenocortical,
comorbidade grave potencialmente interferindo com o tratamento ou com a
qualidade de vida ou necessidade de medicamentos que interferissem com o
protocolo do estudo. Todos os pacientes foram submetidos à MAPA de 24h e
avaliada qualidade de vida (questionário RAND-36).
Os pacientes randomizados ao grupo da TC
eram tratados com adrenalectomia em caso de uma adrenal aumentada
unilateralmente. Em casos de adrenais bilateralmente normais ou aumentadas, os
pacientes recebiam antagonistas do receptor de mineralocorticoide (ARM). Os
pacientes randomizados ao CVA realizavam antes uma TC para determinação da
anatomia das veias adrenais. O CVA era realizado sob estimulação contínua com
cosintropina e cateterização sequencial das veias adrenais. Os pacientes com
doença unilateral eram tratados com adrenalectomia, e os demais com ARM. Nos
pacientes com CVA bem-sucedido, a TC realizada previamente não teve efeito nas
decisões de tratamento. No caso de falha do procedimento, os pacientes eram
tratados com base na TC, mas eram analisados no grupo do CVA.
Após a adrenalectomia a medicação
anti-hipertensiva era ajustada pelo médico assistente com objetivo de atingir
alvo pré-determinado. Na avaliação final após 1 ano, outra MAPA era realizada e
os pacientes adrenalectomizados eram novamente submetidos ao teste de
sobrecarga salina. O desfecho primário foi a intensidade de medicação
anti-hipertensiva necessária, expressa em doses diárias definidas (DDD). A
proporção de pacientes atingindo a pressão arterial alvo foi incluída como
desfecho secundário. Outros desfechos secundários incluíram potássio e
aldosterona após teste de sobrecarga salina nos adrenalectomizados. Qualidade
de vida (RAND-36), efeitos adversos e custo-efetividade do tratamento também
foram avaliados.
Foram incluídos na análise 92 pacientes
no grupo TC e 92 no grupo CVA. No grupo da TC, 12% apresentaram aumento
unilateral direito, 40% aumento unilateral esquerdo, 22% aumento bilateral e
26% apresentaram adrenais bilateralmente normais. O CVA foi bem-sucedido em 96%
dos procedimentos. Desses, 22 procedimentos apresentaram lateralização para a
direita e 26 para a esquerda. Nos 4 procedimentos que falharam a TC identificou
doença unilateral em 2 pacientes e doença bilateral nos outros 2. Dos 90
pacientes com ambas TC e CVA conclusivas, 50% tiveram resultados discordantes.
Adrenalectomia foi realizada em 50 pacientes no grupo do CVA e em 49 pacientes
no grupo da TC. Para o desfecho
primário, não houve diferença no uso de medicação entre os dois grupos [dose
definida diária mediana 3,0 (IIQ 1,0-5,0) na TC versus 3,0 (IIQ 1,1-5,9) no
CVA, P=0,52]. A pressão arterial média e o número de pacientes atingindo a meta
também foram similares. O potássio não diferiu entre os dois grupos. Nos
pacientes operados, 61% apresentaram supressão da aldosterona no teste de
sobrecarga salina, 27% apresentaram resultados indeterminados e 11% não
suprimiram. Após a avaliação final, 15% mantinham HAP persistente, sem
diferença no número de pacientes detectados por TC ou CVA. Não houve diferença
na qualidade de vida. Não houve diferença no número de eventos adversos. Os
desfechos foram semelhantes independentemente da faixa etária. Durante o clube
foram discutidos os seguintes aspectos:
·
A taxa de sucesso do procedimento de CVA (96%)
foi inesperadamente alta, o que limita os achados em termos de validade, pois
centros com menor experiência provavelmente não terão taxas semelhantes;
·
A predominância de doença unilateral na
adrenal esquerda no grupo da TC não parece ter plausibilidade biológica
aceitável;
·
A discordância dos resultados em 50% dos
pacientes com ambos CVA e TC conclusivos demonstra que talvez exames diferentes
selecionem pacientes diferentes;
·
Os autores deveriam ter submetido os
pacientes ao rastreamento de Cushing subclínico;
·
A curta duração do estudo não permite avaliar
desfechos importantes como morbimortalidade cardiovascular e recorrência do HAP;
Pílula
do Clube: A intensidade do tratamento medicamentoso do
HAP tratado com base na TC ou no CVA não parece ser diferente neste grupo de
pacientes com curta duração de acompanhamento.
Discutido
no Clube de 01/08/2016.
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