Leonie H.A. Broersen, Alberto M. Pereira, Jens Otto L. Jorgensen, Olaf
M. Dekkers.
The
Journal of Clinical Endocrinoly & Metabolism
2015, 100: 1-10
Esta revisão sistemática
com metanálise teve como objetivo verificar o percentual de pacientes que
desenvolvem insuficiência adrenal (IA) após a suspensão do uso de
corticosteroides e, secundariamente, estratificar resultados por via de
administração, doença subjacente, dose e duração do tratamento. Foram
selecionados estudos originais avaliando IA em adultos usuários de
corticosteroides, confirmado com pelo menos um dos seguintes testes: hipoglicemia
insulínica, estimulação com ACTH, CRH ou metirapona. Não houve restrição quanto
à dose, duração ou tipo de corticoterapia. Foram buscados ensaios clínicos
randomizados, estudos de coorte e estudos transversais redigidos em inglês, por
dois revisores diferentes nas bases PubMed, MEDLINE, EMBASE, COCHRANE, CENTRAL,
Web of Science e CINAHL, publicados a partir de 1975. Foi realizada análise estratificada
de IA por forma de administração, dose (baixa, moderada e alta), doença de base
(asma -incluindo DPOC, rinite alérgica, distúrbios dermatológicos, doenças reumatologias,
transplante renal, neoplasias hematológicas, fibrose cística e doença de Crohn)
e duração (<1 mês: curto prazo, >1 mês até 1 ano: médio prazo, > 1
ano: longo prazo). Foram selecionados 74 artigos, totalizando 3.753
participantes. Destes, 1.190 (31%) foram diagnosticados com IA. Baseado na
forma de administração, desenvolveram IA 4,2% dos que utilizaram administração
nasal (IC95% 0,5 – 28,9), e até 52,2% dos que utilizaram administração
intra-articular (IC95% 40,5 – 63,6). Baseado nas doenças, a ocorrência de IA
foi de 6,8% na asma com apenas corticosteroide inalatório (IC95% 3,8 – 12,0), e
até 60% nas neoplasias hematológicas (IC95% 38,0 – 78,6). O risco também variou
de acordo com a dose recebida, 2,4% (IC95% 0,6 – 9,3) para doses baixas até
21,5% (IC95% 12,0 –35,5) para doses altas. Quanto à duração do tratamento, IA
ocorreu em 1,4% (IC95% 0,3 – 7,4) em até 28 dias, até 27,4% (IC95% 17,7 – 39,8)
nos asmáticos que usaram mais de 1 ano de terapia. Foram discutidos alguns
tópicos no clube de revista:
- Como há poucos trabalhos desenhados para análise de IA após uso de corticoide, muitos artigos com diversos vieses foram selecionados para a análise;
- A maioria dos estudos utilizados não tinha como objetivo avaliar a incidência de IA, o que prejudicou a obtenção de dados, como os sintomas relacionados com IA, que foram relatados separadamente em apenas 10 dos estudos selecionados;
- Por ser uma metanálise que incluiu estudos com característica muito diferentes (diferentes doenças, durações, vias de administração e tipo de corticoterapia utilizadas), algumas variáveis não puderam ser analisadas;
- Como já era esperado, uso de doses maiores de corticosteroides e por períodos mais prolongados se associaram com maior risco absoluto de IA que as demais formas. Chama a atenção o alto risco de IA com o uso de corticosteroides via intramuscular devido a mecanismo de depósito e também a existência de risco de IA em utilizações inalatórias, tópicas e nasais, classicamente consideradas inofensivas do ponto de vista de supressão da suprarrenal.
Pílula do clube: Não há nenhuma forma,
dose, doença ou duração de tratamento em que a IA possa ser completamente
descartada. Todos os pacientes usando corticoterapia estão sob risco para IA,
sendo necessário informá-los sobre os sintomas e até mesmo considerar testes
para investigação de IA após suspensão de doses altas ou períodos prolongados
de uso.
Discutido no Clube de
Revista de 20/04/2015.
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