Karl Michaëlsson, Alicja Wolk, Sophie Langenskiöld, Samar Basu, Eva
Warensjö Lemming, Håkan Melhus, Liisa Byberg
BMJ. 2014 Oct 28, 349:g6015
O objetivo
deste estudo foi avaliar se o consumo
de leite está associado com mortalidade e fraturas em homens e mulheres,
através do seguimento de duas coortes suecas: Swedish Mammography Cohort (1987-1990),
composta por mulheres, 39-74 anos, e Cohort of Swedish Men
(1997), composta por homens, 45-79 anos. Os pacientes eram convidados a
responder questionário sobre frequência alimentar (por correspondência) que
avaliava o consumo de leite e outros nutrientes. Foram incluídos 61.433 mulheres
e 45.339 homens. As mulheres responderam um segundo questionário de frequência
alimentar em 1997. A partir da resposta ao questionário, foram monitorizados os
óbitos, através dos registros da Suécia, classificados em todas as causas,
cardiovascular e câncer. Registros de admissões hospitalares e consultas
ambulatoriais foram a fonte do dado de incidência de fraturas (CID-10),
excluindo-se as reconsultas e fraturas patológicas por câncer. Também foram
avaliados biomarcadores de estresse oxidativo e de inflamação em amostra auto
selecionada das coortes (5.022 mulheres, idade média 70 anos; 1.138 homens,
idade média 71 anos). Através de modelos de análise multivariada foram
determinadas as associações entre leite, mortalidade e fraturas. Entre as
mulheres, foi observada uma associação positiva entre ingestão de leite e
mortalidade geral e fraturas, principalmente fraturas de quadril. Essa
associação é mais forte quanto maior a ingestão diária de leite: o consumo
correspondente a 3 ou mais copos ao dia quando comparado a menos de 1 copo foi
associado a risco 1,93 vezes maior de mortalidade por todas as causas (IC 95%
1,80-2,06) e 1,60 vezes maior de fratura do quadril (IC 95% 1,39-1,84). Para
cada copo de leite, o hazard ratio para mortalidade por todas as causas foi
1,15 (IC 95% 1,13-1,17). Entre os homens, houve também associação entre consumo
de leite e mortalidade (para mortalidade geral, HR 1,10; IC 95% 1,03-1,17). O
consumo de leite não afetou a ocorrência de fraturas na coorte masculina. A análise
dos biomarcadores mostrou associação entre o consumo de leite, estresse
oxidativo e inflamação. A hipótese aventada para as associações encontradas é a
formação da D-galactose durante a digestão do leite. Esse açúcar gera espécies
reativas de oxigênio, podendo induzir inflamação, envelhecimento precoce e
morte. Contudo, atualmente, essas evidências só foram demonstradas em estudos
de modelos animais. Durante o Clube de Revista os seguintes pontos foram
discutidos:
·
Por tratar-se de um estudo observacional está sujeito a todos os tipos
de vieses que advém desse delineamento. Além disso, não pode ser comprovada
causalidade entre o fator estudado (consumo de leite) e os desfechos, somente a
presença de uma associação;
·
O consumo de leite foi aferido por questionário alimentar, que também é
um método sujeito a vieses;
·
Apesar de contar com um número muito grande de sujeitos, a pesquisa foi
conduzida em apenas um país, o que diminui a sua aplicabilidade e validade
externa.
Pílula do Clube: os resultados deste estudo sugerem que seja revista a recomendação de
consumir grande quantidade de leite para prevenir fraturas por fragilidade,
porém a causalidade entre consumo de leite e os desfechos observados necessita
ser confirmada em outros estudos.
Discutido no Clube de Revista de
10/11/2014.
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