Luciana Verçoza Viana, Jorge Luiz
Gross e Mirela Jobim Azevedo.
Diabetes Care 2014;37:3345–3355.
Esta revisão sistemática com metanálise teve como objetivo avaliar
a eficácia das intervenções dietéticas em pacientes com diabetes mellitus gestacional (DMG) em relação aos desfechos
maternos e neonatais. Foram selecionados ensaios clínicos randomizados (ECRs)
com intervenção dietética em pacientes com DMG, tolerância reduzida à glicose
ou hiperglicemia durante a gestação (excluídos DM tipo 1 e 2), com intervenção
mínima por 4 semanas e até o parto. Foi realizada busca de artigos em bancos de
dados (MEDLINE, Embase, ClinicalTrials.gov, Cochrane
e Scopus) até março de 2014. Houve restrição aos idiomas inglês,
português e espanhol. Os principais desfechos maternos avaliados foram
proporção de pacientes que iniciaram insulina, proporção de partos cesáreos e
ganho de peso total, e os desfechos neonatais foram peso ao nascimento, macrossomia,
número de recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (PIG) e hipoglicemia.
De 1.170 artigos rastreados, 9 foram incluídos na análise, totalizando 884
gestantes. Dividiram-se os estudos em 4 categorias, de acordo com as
características das dietas: índice glicêmico baixo (IG <55; n = 4, 257 pacientes), hipocalórica
(1600 a 1800 calorias ou cerca de 33% de redução de calorias; n = 2, 425 pacientes), restrição de
carboidratos (<45% das calorias diárias; n
= 2, 182 pacientes) e outras (dieta étnica; n
= 1, 20 pacientes). A dieta com IG baixo
reduziu a proporção de pacientes que usaram insulina (RR 0,77; IC 95% 0,60 a 0,98,
P = 0,039; I2 34%) e o peso ao nascer (-161,89g; IC 95% -246,36 a -77,42,
P = 0,001; I2 0%) quando comparada à dieta controle, sem apresentar
diferença em relação à proporção de macrossomia (RR 0,48; IC 95% 0,15 a 1,56, P
= 0,222; I2 0%) e PIG (RR 1,59; IC 95% 0,60 a 4,18, p = 0.349; I2
0%). Esta metanálise foi classificada como de moderada a alta qualidade
pelo GRADE score. A metanálise das dietas hipocalórica e
com restrição de carboidratos não demonstrou diferença entre os grupos
intervenção e controle em relação aos desfechos maternos e neonatais avaliados.
Durante o Clube de Revista, os seguintes pontos foram discutidos:
- Existem diferentes critérios
diagnósticos de DMG, o que dificulta a uniformização das pacientes
estudadas na literatura;
- A restrição do idioma das
publicações incluídas levou à exclusão de 3 artigos chineses;
- As características das dietas de IG
baixo e de restrição de carboidratos muitas vezes se sobrepõem, e a
diferença do IG era muito estreita entre os grupos intervenção e controle;
- A diferença encontrada do peso ao
nascer no grupo da dieta com IG baixo, apesar de estatisticamente
significativa, não se mostrou clinicamente relevante. No entanto, vê-se
que a não redução de macrossomia pode ter sido atribuída a viés de
publicação;
- Houve o cuidado em considerar os
dados de real ingestão da dieta, mas 3 ECRs não reportaram a adesão das
pacientes.
Pílula do clube: Em pacientes com DMG, dieta com IG baixo foi associada com uso menos
frequente de insulina e menor peso ao nascimento (mas sem diferença na
proporção de macrossomia e PIG) quando comparada a dietas controle. As
evidências disponíveis não mostram diferença do uso de dieta hipocalórica e de
dieta com restrição de carboidratos nos desfechos maternos e neonatais
avaliados.
Discutido no Clube de Revista de 01/12/2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário