Shiber S,
Stiebel-Kalish H, Shimon I, Grossman A, Robenshtok E
Thyroid 2014, 14:515-23.
Trata-se
de revisão
sistemática e metanálise com objetivo de avaliar qual melhor regime de corticoterapia para a profilaxia da progressão ou
ocorrência de oftalmopatia de Graves (OG) secundária à administração de
radioiodo, com ênfase na menor dose possível. Foram incluídos ECRs e
estudos retrospectivos que realizassem comparação
da prevenção com uso de corticoide vs.
controle (placebo, ausência de intervenção ou regime diferente de corticóide).
O desfecho primário estudado foi a instalação ou piora de OG após realização de
radioiodo, estratificada de acordo com status de OG pré-existente, e os
secundários resolução de hipertireoidismo e eventos adversos relacionados ao
corticoide. Após busca em bancos de dados, chegou-se a 8 artigos (5 ECRs e 3
estudos retrospectivos), os quais apresentavam diferentes regimes de dose,
tipo, momento do início e duração do uso de corticoides. Quanto ao desfecho
primário (progressão da OG), quando avaliados os pacientes com OG
pré-existente, houve resultado favorável ao uso de corticoides em relação ao
controle (OR 0,14 IC 95% 0,06-0,35). Quando se avaliou este desfecho
estratificado pela dose de corticoide, se confirmou a eficácia do uso da dose
padrão de 0,4-0,5 mg/Kg (OR 0,16 IC 95% 0,06-0,37), e também para doses mais
baixas de prednisona e prednisolona de 0,2-0,3 mg/kg (OR 0,20 IC 95% 0,07-0,60),
porém esta última análise envolveu somente 2 estudos retrospectivos, cujos
grupos eram incomparáveis, já que a intervenção envolvia pessoas com OG
leve/moderada e o controle pessoas sem OG, e a análise foi realizada de forma
indireta, usando-se controles pareados por sexo, idade e atividade de doença,
dos estudos incluídos na metanálise. Para os pacientes sem OG prévia, não houve
vantagem do uso de corticoide, quando avaliados os ECRs (OR 0,80 IC 95%
0,26-2,46). Já a análise de 3 estudos retrospectivos mostrou até aumento do
risco de progressão da OG (OR 4,48 IC 95% 1,84-10,9) neste subgrupo, mas nestes
os controles não apresentavam fatores de risco, ao contrário do grupo
intervenção, cujos participantes apresentavam pelo menos 1 fator de risco. A
avaliação dos desfechos secundários não mostrou diferença nas taxas de
resolução de hipertireoidismo com uso de corticóides; eventos adversos leves
foram mais frequentes quando utilizadas doses maiores de prednisona (62% para
0,4-0,5 mg/Kg e 43% para 0,2-0,3 mg/Kg). Durante o Clube de Revista, os
seguintes pontos foram discutidos:
- Metanálise que incluiu e analisou em
conjunto estudos retrospectivos e ECRs, quando estes últimos apresentam
grau de evidência superior, parecendo mais adequado apenas a avaliação
isolada destes;
- Os dados deste estudo confirmam a conduta
atual de se administrar corticoide prévio a iodoterapia em pacientes com
OG ativa;
- A dose de corticóide mais adequada deve
ser a já padronizada, visto o grau de evidência superior para o uso da
mesma. Considerar doses mais baixas (sugeridas em estudos retrospectivos)
somente em casos selecionados (risco alto para uso de corticoides, sem
outras opções terapêuticas);
- Para aqueles pacientes sem OG ativa, não
há evidência de benefício do uso de corticóide como profilaxia prévia a
iodo, porém a discussão segue para aqueles com fatores de risco para
progressão da mesma, sendo necessários mais estudos.
Pílula
do Clube: Os dados disponíveis atualmente reforçam a
conduta atual de profilaxia com corticóide na dose de 0,3-0,5 mg/kg da
progressão ou ocorrência de OG ativa. Para aqueles sem OG prévia, não parece
haver benefícios desta prática. O uso de doses menores rotineiras para este fim
ainda necessita de estudos prospectivos, devendo ser considerada apenas em
alguns casos selecionados.
Discutido
no Clube de Revista de 03/11/2014.
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