sábado, 17 de outubro de 2020

Sepsis and the Obesity Paradox: Size Matters in More Than One Way

 

Nikhil Jagan, Lee E Morrow, Ryan W Walters, Robert W Plambeck, Tanner J Wallen, Tej M Patel, Mark A Malesker.

 

Crit Care Med 2020, 48(9):e776-e782.

https://journals.lww.com/ccmjournal/Abstract/2020/09000/Sepsis_and_the_Obesity_Paradox__Size_Matters_in.32.aspx

 

Embora pacientes obesos sejam portadores de maior número de comorbidades clínicas, há cenários em que, paradoxalmente, sua mortalidade é reduzida em comparação a pacientes não obesos. O racional é que a inflamação crônica em contexto de obesidade levaria a uma resposta do hospedeiro menos exacerbada em relação à infecção, cursando com menos dano endotelial e disfunção orgânica associada. Este estudo com desenho retrospectivo tinha o objetivo de avaliar se o paradoxo da obesidade realmente existe em pacientes internados por sepse e, caso ele exista, ajustar para a gravidade da doença. Foram incluídos pacientes de seis hospitais em Omaha, EUA, de 2015 a 2018. Do total de 11.859 pacientes identificados no recrutamento, foram incluídos na análise 7.967, sendo os principais motivos para exclusão dados faltantes (principalmente dosagem de lactato) e internação subsequente por sepse. O desfecho principal foi mortalidade avaliada de acordo com a categoria de IMC: abaixo do peso (IMC < 18,5), peso normal (IMC 18,5-24,9), sobrepeso (IMC 25-29,9) e obesidade (IMC > 30). Os pacientes obesos eram mais jovens (média de 64 vs. a 71 anos), tinham maior prevalência de diabetes mellitus (49% vs. 22%) e maior níveis séricos de creatinina.

A mortalidade geral do estudo foi de 12,1%, havendo menor mortalidade nos pacientes obesos (9% vs. 15%). Com relação à estratificação por gravidade, foram escolhidas dosagem de lactato e pressão arterial média (PAM) por serem metas de ressuscitação estabelecidas pelo Surviving Sepsis Campaign. O benefício de menor mortalidade entre os obesos se sustentou apenas nos grupos de pacientes com PAM acima de 65 mmHg, independentemente do nível de lactato (acima ou abaixo de 2). Além disso, quando comparados pacientes com obesidade e outras categorias de IMC, o ponto de corte de lactato acima de 5 mmol/L também mostra ausência de diferença de mortalidade. No subgrupo de pacientes que internou na UTI (63,2% da amostra), a mortalidade foi de 15,5% e o mesmo resultado de menor mortalidade em obesos foi encontrado. Outro critério para avaliação da gravidade foi o escore APACHE III. Esta análise foi possível em 844 pacientes, mostrando ausência de diferença quanto à redução de mortalidade entre as categorias de IMC. No Clube de Revista, foram discutidos os seguintes pontos:

        Entre os pontos fortes do estudo, destacam-se o grande tamanho amostral e estabelecimento de variáveis preditoras de desfecho (lactato, PAM, APACHE III e categorias de IMC) previamente ao início do recrutamento;

        Observa-se ausência de avaliação dos medicamentos em uso pelos pacientes, bem como variabilidade do peso e outros aspectos do estado nutricional prévio;

        A avaliação pelo escore APACHE III parece ser o mais fidedigno para ajuste pela gravidade, considerando que o mesmo inclui múltiplas variáveis. Embora com perda significativa de pacientes por falta de dados, o número de 844 pacientes parece adequado para tal análise, que não mostra redução da mortalidade em pacientes obesos;

        Outro ponto considerado foi o lactato como variável isolada da admissão. Dependendo da agressividade do tratamento da infecção, sabe-se que os valores de lactato nas primeiras 6 horas do manejo são importantes em caráter evolutivo, e não apenas uma medida isolada. Da mesma forma, a medida pontual da PAM na admissão parece não ser adequada para estabelecer de forma tão decisiva o prognóstico. 

 

Pílula do Clube: Embora o IMC seja um preditor de mortalidade em pacientes sépticos, o ajuste pela gravidade da doença faz com que esse efeito de menor mortalidade em obesos desapareça. Nota-se, portanto, que, se o paradoxo da obesidade realmente existe neste cenário, as interações com fatores confundidores são complexas e devem ser consideradas, não sendo possível apenas assumir a existência de simples associação entre IMC e mortalidade.

 

Discutido no Clube de Revista de 14/09/2020.

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