sábado, 17 de outubro de 2020

Effect of High-Dose vs Standard-Dose Vitamin D Supplementation in Pregnancy on Bone Mineralization in Offspring Until Age 6 Years A Prespecified Secondary Analysis of a Double-Blinded, Randomized Clinical Trial

 

Nicklas Brustad, Juri Garland, Jonathan Thorsen, Astrid Sevelsted, Martin Krakauer, Rebecca K. Vinding, Jakob Stokholm, Klaus Bønnelykke, Hans Bisgaard, Bo L. Chawes.

 

JAMA Pediatrics 2020, published online February 24.

https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/article-abstract/2761808

 

            A deficiência de vitamina D vem aumentado nos últimos tempos devido a mudanças no estilo de vida e hábitos alimentares. Sabe-se da sua importância na mineralização óssea, a qual se inicia no período fetal e atinge seu pico de massa óssea na vida adulta, sendo o status mineral ósseo relacionado com risco de fraturas na infância, além de determinar risco futuro de osteoporose. Vários estudos vêm tentando correlacionar o impacto do status de vitamina D em gestantes com a antropometria e mineralização óssea de sua prole, porém os resultados apresentados são contraditórios. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo investigar se há correlação entre suplementação de vitamina D em altas doses (2800 ui/dia vs. 400 ui/dia)  em gestantes com antropometria e densidade mineral óssea de sua prole.

            O estudo é um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, no qual a suplementação foi feita entre 24a semanas de idade gestacional até 1a semana pós-parto e a amostra selecionada foi obtida da coorte Dinamarquesa COPSAC2010 (Copenhagen Prospective Studies on Asthma in Childhood 2010). Além disso, foi realizado um ensaio de desenho fatorial 2x2 com 2,4 g/dia de LCPUFAS (ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa). O desfecho primário inicial do estudo foi a incidência de asma na prole. A análise de mineralização óssea foi um desfecho secundário pré-especificado. Os dados de peso e nascimento ao nascer foram obtidos através de relato dos pais e validado pelo registro de nascimento. No período fetal foram analisadas as ecografias gestacionais e após o nascimento os dados antropométricos foram colocados nas curvas da OMS. Estas avaliações foram realizadas com 1 semana, 1 mês, 3 meses, 6 meses, semestral até os 3 anos e depois anual até os 6 anos de idade. A densitometria óssea (DXA) foi realizada aos 3 e 6 anos e forneceu dados sobre massa magra, massa gorda e óssea, sendo esta feita de corpo total, cabeça e corpo total exceto cabeça (TBLH). As imagens das DXA foram validadas por radiologista experiente. Em relação às fraturas os dados foram obtidos pela informação dos pais e revisão de prontuário, sendo o risco de fraturas adicionado como análise post hoc.

            As gestantes foram randomizadas na razão 1:1. No grupo intervenção houve um n total de 294 mães com 297 crianças, sendo que todas estas tinham pelo menos 1 avaliação de antropometria e 262 tinham avaliação aos 6 anos; deste total de crianças 119 tinham DXA qualificáveis aos 3 anos e 187 aos 6 anos. No grupo placebo houve um n total de 286 mães com 287 crianças e todas estas também tinham pelo menos 1 avaliação antropométrica e 255 tinham avaliação aos 6 anos; deste total de crianças 125 tinham DXA aos 3 anos e 196 aos 6 anos.

            Ao serem analisados os dados, não se observou diferença estatisticamente significativa entre o grupo intervenção e o placebo em relação aos dados antropométricos ao nascimento e até os 6 anos de idade, nem mesmo houve correlação com o uso de LCPUFAS. Em relação à avaliação com DXA aos 3 anos de idade, o grupo intervenção apresentou maior conteúdo mineral ósseo (BMC) de TBLH (P=0,05) e de corpo total (P=0,04), sendo a maior diferença observada entre crianças nascidas de mães com níveis insuficientes de 25-OH-vitamina D pré-intervenção vs suficientes (P=0,03). Na avaliação de DXA aos 6 anos de idade, as crianças do grupo intervenção tiveram maior BMC de TBLH (P=0,03), de corpo total (P=0,01) e de cabeça (P=0,03); além de maior densidade mineral óssea (BMD) de corpo total (P=0,04) e de cabeça (P=0,01); assim como na avaliação aos 3 anos de idade, os efeitos foram maiores naquelas crianças filhas de mães com deficiência de 25-OH-vitamina D pré-intervenção (BMC total - P=0,02 e BMD total P=0,04). Também foi investigada a possibilidade de interferência da estação do ano na data do nascimento dessas crianças e foi visto que as crianças que nasciam no inverno tinham um maior efeito na BMD da cabeça. Em relação às fraturas, se observou uma menor tendência nas crianças do grupo intervenção vs placebo (7% vs 11% - P=0,08), mas não houve diferença entre os filhos de mães com deficiência prévia de 25-OH-vitamina D. No Clube foram discutidos os seguintes pontos:

                   O estudo tem como principal limitação o fato de ter sido desenhado inicialmente para outro desfecho (influência da suplementação de vitamina D em gestantes no risco de asma da prole) ao invés da influência da vitamina D na mineralização óssea;

                   Outro fator importante levantado foi o pequeno número de DXA com imagem de qualidade a serem analisados;

                   O estudo foi feito com a população dinamarquesa, em que a incidência de sol é menor, por isso deve-se ter cautela em sua interpretação em outros países como o nosso;

                   Apesar de ter sido feito acompanhamento com DXA até os 6 anos de idade, não sabemos o verdadeiro impacto do pico de massa óssea que é na vida adulta.

 

Pílula do Clube: apesar das limitações e falhas do estudo, o estudo mostrou que a suplementação de vitamina D em altas doses nas gestantes no terceiro trimestre (período de maior desenvolvimento ósseo do feto) mostrou uma melhora no BMC e BMD de sua prole, porém sem nenhum impacto na antropometria dessas crianças. No entanto, é preciso ter cautela ao extrapolar esses resultados para outros países e populações.

 

Discutido no Clube de Revista de 17/08/2020

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