Nicklas Brustad, Juri Garland, Jonathan
Thorsen, Astrid Sevelsted, Martin Krakauer, Rebecca K. Vinding, Jakob Stokholm,
Klaus Bønnelykke, Hans Bisgaard, Bo L. Chawes.
JAMA Pediatrics 2020, published online February 24.
https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/article-abstract/2761808
A
deficiência de vitamina D vem aumentado nos últimos tempos devido a mudanças no
estilo de vida e hábitos alimentares. Sabe-se da sua importância na
mineralização óssea, a qual se inicia no período fetal e atinge seu pico de massa óssea na vida adulta, sendo o status mineral
ósseo relacionado com risco de fraturas na infância, além de determinar risco
futuro de osteoporose. Vários estudos vêm
tentando correlacionar o impacto do status de vitamina D em gestantes com a
antropometria e mineralização óssea de sua prole, porém os resultados
apresentados são contraditórios. Sendo assim, o presente estudo teve como
objetivo investigar se há correlação entre suplementação de vitamina D em altas
doses (2800 ui/dia vs. 400 ui/dia) em gestantes com antropometria e densidade
mineral óssea de sua prole.
O estudo é um ensaio clínico
randomizado, duplo-cego, no qual a
suplementação foi feita entre 24a semanas de idade gestacional até 1a
semana pós-parto e a amostra selecionada foi obtida da coorte Dinamarquesa
COPSAC2010 (Copenhagen
Prospective Studies on Asthma in Childhood 2010). Além disso, foi realizado
um ensaio de desenho fatorial 2x2 com 2,4 g/dia de LCPUFAS (ácidos graxos
poli-insaturados de cadeia longa). O desfecho primário inicial do estudo foi a incidência de asma na prole. A análise de mineralização
óssea foi um desfecho secundário
pré-especificado. Os dados de peso e nascimento ao nascer foram obtidos através
de relato dos pais e validado pelo registro de nascimento. No período fetal
foram analisadas as ecografias gestacionais e após o nascimento os dados
antropométricos foram colocados nas curvas da OMS. Estas avaliações foram
realizadas com 1 semana, 1 mês, 3 meses, 6 meses, semestral até os 3 anos e
depois anual até os 6 anos de idade. A densitometria óssea (DXA) foi realizada
aos 3 e 6 anos e forneceu dados sobre massa magra, massa gorda e óssea, sendo
esta feita de corpo total, cabeça e corpo total exceto cabeça (TBLH). As
imagens das DXA foram validadas por radiologista experiente. Em relação às
fraturas os dados foram obtidos pela informação dos pais e revisão de
prontuário, sendo o risco de fraturas adicionado como análise post hoc.
As gestantes foram randomizadas na razão
1:1. No grupo intervenção houve um n total de 294 mães
com 297 crianças, sendo que todas estas tinham pelo menos 1 avaliação de
antropometria e 262 tinham avaliação aos 6
anos; deste total de crianças 119 tinham DXA qualificáveis aos 3 anos e 187 aos
6 anos. No grupo placebo houve um n total de
286 mães com 287 crianças e todas estas também tinham pelo menos 1 avaliação
antropométrica e 255 tinham avaliação aos 6 anos; deste total de crianças 125
tinham DXA aos 3 anos e 196 aos 6 anos.
Ao serem analisados os dados, não se
observou diferença estatisticamente significativa entre o grupo intervenção e o
placebo em relação aos dados antropométricos ao nascimento e até os 6 anos de
idade, nem mesmo houve correlação com o uso de LCPUFAS. Em relação à avaliação
com DXA aos 3 anos de idade, o grupo intervenção apresentou maior conteúdo
mineral ósseo (BMC) de TBLH (P=0,05) e de corpo total (P=0,04), sendo a maior
diferença observada entre crianças nascidas de mães com níveis insuficientes de
25-OH-vitamina D pré-intervenção vs suficientes (P=0,03). Na avaliação de DXA
aos 6 anos de idade, as crianças do grupo intervenção tiveram maior BMC de TBLH
(P=0,03), de corpo total (P=0,01) e de cabeça (P=0,03); além de maior densidade mineral óssea (BMD)
de corpo total (P=0,04) e de cabeça (P=0,01); assim como na avaliação aos 3
anos de idade, os efeitos foram maiores
naquelas crianças filhas de mães com deficiência de 25-OH-vitamina D pré-intervenção (BMC total - P=0,02 e BMD total P=0,04).
Também foi investigada a possibilidade de interferência da estação do ano na
data do nascimento dessas crianças e foi visto que as crianças que nasciam no
inverno tinham um maior efeito na BMD da cabeça. Em relação às fraturas, se
observou uma menor tendência nas crianças do grupo intervenção vs placebo (7%
vs 11% - P=0,08), mas não houve diferença entre os filhos de mães com
deficiência prévia de 25-OH-vitamina D. No Clube foram discutidos os seguintes pontos:
●
O estudo tem como principal
limitação o fato de ter sido desenhado inicialmente para outro desfecho
(influência da suplementação de vitamina D em gestantes no risco de asma da
prole) ao invés da influência da vitamina D na mineralização óssea;
●
Outro fator importante levantado foi
o pequeno número de DXA com imagem de qualidade a serem analisados;
●
O estudo foi feito com a população
dinamarquesa, em que a incidência de sol é menor, por isso deve-se ter cautela
em sua interpretação em outros países como o nosso;
●
Apesar de ter sido feito
acompanhamento com DXA até os 6 anos de idade, não sabemos o verdadeiro impacto
do pico de massa óssea que é na vida adulta.
Pílula
do Clube:
apesar das limitações e falhas do estudo, o estudo
mostrou que a suplementação de vitamina D em altas doses nas gestantes no
terceiro trimestre (período de maior desenvolvimento ósseo do feto) mostrou uma
melhora no BMC e BMD de sua prole, porém sem nenhum impacto na antropometria
dessas crianças. No entanto, é preciso ter cautela ao extrapolar esses resultados para outros países e populações.
Discutido
no Clube de Revista de 17/08/2020
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