Mihoko Yoshino, Brandon D. Kayser, Jun Yoshino, Richard I. Stein,
Dominic Reeds, J. Christopher Eagon, Shaina R. Eckhouse, Jeramie D. Watrous,
Mohit Jain, Rob Knight, Kenneth Schechtman, Bruce W. Patterson, and Samuel
Klein.
N Engl J Med 2020; 383:721:32.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2003697
O tratamento cirúrgico da obesidade e seus
efeitos metabólicos tem sido alvo da investigação científica nas últimas
décadas. Considerando o bom controle glicêmico e a expressiva remissão que
pacientes com diabetes tipo 2 (DM2) apresentam após serem submetidos à cirurgia
bariátrica, muitos estudos sugerem que procedimentos que alteram o trânsito
gastrointestinal, como o bypass
gástrico em Y-de-Roux, tem vantagens terapêuticas únicas quando comparado ao
tratamento clínico e farmacológico do diabetes. Porém, até hoje não há
evidências de boa qualidade que confirmem se os efeitos do bypass gástrico nos principais fatores metabólico envolvidos na
fisiopatologia do DM2 se devem ao
procedimento cirúrgico independentemente da perda de peso observada nessa
população de pacientes. Assim, o presente estudo foi delineado com o objetivo
de comparar os efeitos da perda de peso acentuada induzido pelo bypass gástrico com os efeitos da mesma
perda de peso induzida por dieta hipocalórica na sensibilidade insulínica
hepática (desfecho primário) e na sensibilidade insulínica do tecido adiposo e
muscular, resposta metabólica ao teste de refeição mista, função de células
beta, e parâmetros laboratoriais de 24 horas (glicemia, insulina e ácidos
graxos livre) e composição corporal (desfechos secundários).
Os pacientes foram recrutados entre novembro de
2014 e outubro de 2018 em um único centro em St Louis, Louisiana, Estados
Unidos. Dos 33 pacientes considerados elegíveis, um total de 11 pacientes foi
submetido a dieta hipocalórica e 11 pacientes submetidos ao bypass gástrico.
Previamente às intervenções e após alcançarem a estabilidade de uma média de
18% de perda de peso corporal após a intervenção, os pacientes foram submetidos
a diversos testes padronizados: análise de composição corporal (por
densitometria de corpo total e espectroscopia por ressonância magnética),
estimativa de gasto energético basal, clamp euglicêmico hiperinsulinêmico de
três fases, teste metabólico de refeição mista, coleta de 24h de parâmetros
laboratoriais (dosagens séricas de glicemia, insulina, peptídeo C, ácidos
graxos livres) e amostra de fezes para análise de microbiota.
Analisando os resultados, a perda de peso foi
associada a um aumento na supressão da produção de glicose endógena comparada
ao baseline de 7,04 µmol por quilo de massa magra por minuto (IC95% 4,74 a
9,33) no grupo dieta e de 7,02 µmol por quilo de massa magra por minuto (IC95%
3,21 a 10,84) no grupo bypass durante
a primeira fase do clamp e de 5,39 e 5,37 nos dois grupos, respectivamente,
durante a segunda fase do clamp – não houve diferença significativa entre os
grupos. Já em relação à variação de sensibilidade insulínica no tecido
muscular, a perda de peso foi associada a um aumento de eliminação de glicose
estimulada por insulina de 30,5 ± 15,9 para 61,6 ± 13,0 µmol por quilo de massa
magra por minuto no grupo dieta e de 29,4 ± 12,6 para 54,5 ± 10,4 µmol por quilo
de massa magra por minuto no grupo bypass
– sem diferença estatisticamente relevante entre os grupos. A perda de peso
aumentou a função de célula-beta (avaliada pela secreção insulínica em relação
a sensibilidade insulínica) em 1,83 unidades (IC95% 1,22 a 2,44) no grupo dieta
e em 1,11 unidades (IC95% 0,08 a 2,15) no grupo bypass – também sem diferença entre os grupos. Também houve a
diminuição das áreas sob a curva para medidas de glicemia e níveis de insulina
em 24 horas em ambos os grupos, sem diferença significativa. Não ocorrem
complicações graves em nenhum dos grupos ao longo do estudo. Os seguintes
pontos foram discutidos no Clube:
●
Apesar
do estudo ser bem elaborado e dispendioso quanto aos métodos utilizados para
aferir os desfechos metabólicos, não houve randomização e o estudo não alcançou
o n de 18 participantes em cada grupo segundo o cálculo de tamanho amostral;
●
Estudo
apresentou altas taxas de perda e apresenta número de participantes faltantes
no grupo bypass nas tabelas e gráfico
de resultado apresentadas, não deixando claro quantos e porque participantes
foram excluídos das análises;
●
Diversos
detalhes em relação ao delineamento e à condução do estudo só estão claros
quando acessado o material suplementar, deixando o artigo original de certa
forma incompleto;
●
Apesar
da cirurgia não ter se mostrado superior ao grupo dieta quando controlada a
perda de peso, o tratamento cirúrgico ainda é uma opção importante a ser
considerada quando pensamos em perda ponderal a longo prazo.
Pílula do
Clube: Apesar de não ter alcançado
o tamanho amostral previsto, o estudo avaliou rigorosamente desfechos
metabólicos envolvidos na patogênese do DM2 e encontrou benefícios quase
idênticos na melhora de sensibilidade insulínica após perda de peso induzida
por bypass gástrico quando comparada
à mesma perda ponderal induzida por dieta hipocalórica.
Discutido no Clube de Revista de 31/08/2020.
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