Tetsuro
Tsujimoto, Hiroshi Kajio, Martin F. Shapiro and Takehiro Sugiyama
Mayo
Clin Proc 2018, 93(4):409-418.
Diabetes
é associado ao alto risco de doenças cardiovasculares, como doença arterial
coronariana (DAC) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Os beta-bloqueadores
são uma classe de fármacos que é utilizada para diminuir mortalidade nestas
condições, porém a sua eficácia em pacientes com DM ainda é discutida. Este
estudo teve por objetivo avaliar, utilizando dados de uma coorte prospectiva, a
relação entre o uso de betabloqueadores e todas as causas de mortalidade em
pacientes com e sem diabetes. Foram utilziados dados do NHANES (National Health and Nutrition Examination
Survey 1999-2010), desde o início da coleta até 31 de dezembro de 2011,
sendo efetuada análise ajustada para múltiplas variáveis como idade, sexo,
índice de massa corporal, nível de hemoglobina glicada, duração da diabetes,
uso de insulinas ou antidiabético oral, história de doença coronariana, ICC,
entre outros.
O estudo incluiu 2.840 participantes
diabéticos e 14.684 não diabéticos. Comparando diabéticos tomando betabloqueadores
com os que não tomavam, houve maior mortalidade por qualquer causa no primeiro
grupo com um Hazard Ratio (HR) de 1,49 (IC95% 1,09 – 2,04; P=0,01). O mesmo se
viu quando se avaliou subgrupos de betabloqueadores comparando ao não uso dessa
medicação: B1-seletivos teve HR de 1,60 (IC95% 1,13-2,24; P=0,007), e betabloqueadores
específicos (bisoprolol, metoprolol e carvedilol) apresentou HR de 1,55 (IC95%
1,09-2,21; P=0,01). Em pacientes que tiveram infarto agudo do miocárdio, diabéticos
em uso de betabloqueador tiveram mortalidade maior quando comparados aos que
não usaram (HR 2,24; IC95%, 1,24-4,07; P=0.008). Por sua vez, os pacientes não-diabéticos
em uso de betabloqueador tiveram menor mortalidade (HR 0,59; IC95% 0,38-0,93;
P=0,02) quando comparados com os que não os usavam. Foram feitas também análises
ajustadas com escore de propensão, que seguiram mostrando resultados
semelhantes: aumento de mortalidade em participantes diabéticos em uso de betabloqueador
(HR de 1,65; IC95% 1,13-2,40; P=0,009). Os seguintes pontos foram discutidos no
Clube de Revista:
·
O
estudo é uma coorte, portanto, tem as limitações inerentes a um estudo observacional
deste tipo;
·
Os
dados da literatura referentes ao benefício do uso de betabloqueadores em
pacientes com DAC ou ICC são antigos, sendo importante reanalisar o papel dessa
classe de fármacos na vigência dos atuais tratamentos (estatinas, terapias de
reperfusão miocárdica), além de avaliar os novos antidiabéticos orais (inibidores
da SGLT-2, por exemplo);
·
Diversos
vieses de confusão não foram considerados ou não medidos, como fibrilação
atrial e gravidade da DAC e da ICC; também viés de imortalidade pode ter
ocorrido.
·
Não
foi avaliada a aderência, e o seguimento dos pacientes não começou no início do
uso do betabloqueador, podendo levar ao viés da imortalidade;
·
Usou-se
a “maior propensão à hipoglicemia grave” como uma das razões de betabloqueadores
aumentarem mortalidade, no entanto, alguns estudos mostram que essa classe de fármacos
não é causa de hipoglicemia, estando ainda em aberto a explicação
fisiopatológica de possível aumento na mortalidade de pacientes diabéticos em
uso desse fármaco.
Pílula do Clube: Neste estudo o uso de betabloqueadores
mostrou estar associado a risco aumentado de mortalidade por todas as causas em
pacientes com diabetes. As diversas limitações metodológicas (possíveis vieses
de confusão, de imortalidade e desenho observacional com dados oriundos de base
de dados) não permitem que esses resultados sejam incorporados à prática
clínica.
Discutido no Clube de Revista de 25/06/2018.
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