sexta-feira, 24 de março de 2023

GLP-1 Receptor Agonists and the Risk of Thyroid Cancer

 Julien Bezin, Amandine Gouverneur,  Marine Penichon, Clement Mathieu Renaud Garrel, Dominique Hillaire-Buys, Antoine Pariente e Jean-Luc Faillie


Diabetes Care 2023, 46(2):384-390.

https://diabetesjournals.org/care/article-abstract/46/2/384/147888/GLP-1-Receptor-Agonists-and-the-Risk-of-Thyroid?redirectedFrom=fulltext


Os análogos de GLP-1 (aGLP-1) são medicamentos de grande relevância e muito utilizadas no tratamento do diabetes tipo 2 e obesidade. Há receptores de GLP-1 no tecido tireoidiano e estudos de carcinogênese pré-clínicos demonstraram aumento do risco de câncer medular de tireoide associado ao uso de aGLP-1, mas não há evidência do aumento deste risco em humanos. O objetivo deste estudo foi avaliar o risco de câncer de tireoide associado ao uso de aGLP-1. 

Trata-se de um estudo observacional caso-controle, realizado na França com dados do Systeme National des Donnees de Sante que abrange 98,8% da população da França. Foram incluídos pacientes com diabetes tipo 2 em uso de medicamentos de segunda linha (aGLP-1, inibidores de DPP4) ou combinação de drogas (metformina, sulfonilureia, repaglinida, inibidores α-glucosidase ou tiazolidinedionas) excluindo monoterapia com insulina ou combinação de insulinas entre 2006 e 2018. Os casos de câncer de tireoide foram identificados por meio do CID nas notas de alta e procedimentos médicos realizados entre 2014 e 2018. Para definição do tipo de câncer medular, dentre os casos de câncer previamente definidos, foram utilizados os critérios de duas dosagens de calcitonina ou uma dosagem de calcitonina mais uma de CEA em 18 meses ou então tratamento com vandetanibe. A data do primeiro registro era considerada a data índice. Para reduzir o viés protopático, foi realizado um lag time, modificando a data índice dos casos e controles para 6 meses antes. A exposição nos últimos 6 anos foi classificada em ≤ 1 ano, 1 a 3 anos e mais que 3 anos. Cada caso foi combinado com até 20 controles de acordo com a idade, sexo e tempo de diabetes. O risco de câncer de tireoide associado ao uso de aGLP-1 foi estimado por regressão logística com ajuste para bócio, hipotireoidismo, hipertireoidismo, outras drogas antidiabéticas e índice de privação social.

Foram incluídos 2.562 casos de câncer de tireoide e combinados com 45.184 controles. A mediana da idade na data índice era 64 anos (IQR 56-71 para os casos e 57-71 para os controles) e quase 2/3 eram mulheres (67% e 67,2% respectivamente). Antes do período de lag time, 307 (12%) dos casos e 4,348 (9,6%) dos controles haviam sido expostos aos aGLP-1. O uso de aGLP-1 por 1 a 3 anos se associou com aumento do risco de todos os tipos de câncer de tireoide [hazard ratio (HR) ajustado de 1,58 (IC95% 1,27-1,95) e câncer medular de tireoide [HR ajustado de 1,79 (IC95% 1,04-3,05)]. No Clube de Revista foram discutidos os seguintes pontos:

  • Os resultados deste estudo divergem dos resultados de ensaios clínicos randomizados e revisão sistemática prévia sobre o assunto;

  • O diagnóstico de câncer avaliado por meio do CID e procedimentos realizados parece adequado, entretanto ainda assim está sujeito a erros. Além disso, a relevância clínica (gravidade) dos casos de diagnóstico de câncer de tireoide não foi informada;

  • O diagnóstico de câncer medular de tireoide com base nas coletas de calcitonina/CEA são critérios que ficam mais suscetíveis a vieses e causa estranhamento a alta taxa deste tipo de neoplasia na coorte; 

  • Fatores de risco para câncer de tireoide como história familiar e exposição a irradiação de cabeça ou pescoço não foram descritos;

  • Um potencial fator confundidor que não foi corrigido no modelo de risco foi a presença de obesidade, que é sabidamente um fator de risco para câncer de tireoide;

  • Trata-se de um estudo observacional, não permite avaliar causalidade.


Pílula do Clube: O uso de aGLP-1 pode estar associado a um maior risco de todos os tipos de câncer de tireoide e câncer medular de tireoide e estes medicamentos devem ser utilizados com cautela em pacientes com risco aumentado ou com história dessa neoplasia.


Discutido no Clube de Revista em 21/11/2022.

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