segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Association of Cycling With All-Cause and Cardiovascular Disease Mortality Among Persons With Diabetes: The European Prospective Investigation Into Cancer and Nutrition (EPIC) Study

 Ried-Larsen M, Rasmussen MG, Blond K, Overvad TF, Overvad K, Steindorf K, Katzke V, Andersen JLM, Petersen KEN, Aune D, Tsilidis KK, Heath AK, Papier K, Panico S, Masala G, Pala V, Weiderpass E, Freisling H, Bergmann MM, Verschuren WMM, Zamora-Ros R, Colorado-Yohar SM, Spijkerman AMW, Schulze MB, Ardanaz EMA, Andersen LB, Wareham N, Brage S, Grøntved A.


JAMA Intern Med. 2021;181(9)

https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/fullarticle/2782014


Atividade física regular é parte integrante do tratamento do diabetes tipo 2 (DM2). O ciclismo é uma atividade potencial para substituir o transporte motorizado para viagens de curta e média distância, existindo descrição de associação inversa entre ciclismo e risco de mortalidade por todas as causas e causas específicas, como DCV, na população em geral, o que não é conhecido no diabetes.

Trata-se de estudo de coorte de pessoas com DM2 (do estudo EPIC) em 23 centros de 10 países da Europa cujo objetivo primário foi investigar as associações entre ciclismo e mortalidade por todas as causas e DCV e o objetivo secundário avaliar as associações entre as mudança no ciclismo ao longo de um período de 5 anos e mortalidade por todas as causas e por DCV. Foram avaliadas medidas antropométricas, avaliação da ingesta alimentar, consumo de álcool e hábitos de atividade física através  de questionário de estilo de vida, além de serem incluídas informações sobre a duração e a frequência do lazer e  atividade física ocupacional. O tempo semanal gasto andando de bicicleta para o trabalho e/ou lazer durante o inverno e o verão foi calculado como tempo total de ciclismo anual e categorizado (0; 1-59; 60-149; 150-299 e > 300 min/sem). Também foi avaliada a mudança do ato de pedalar do baseline para o segundo exame com base no tempo total gasto no ciclismo nas duas avaliações, categorizando em: (1) não ciclismo (2) parou de pedalar; (3) começou a pedalar; (4) ciclismo mantido. O gasto de energia LTPA (atividades de lazer sem ciclismo incluído) foi avaliado como equivalente metabólico de tarefas em horas por semana (MET-h/wk) e calculado em ambas as avaliações como a soma dos gastos de energia das atividades jardinagem, subir escadas, atividades domésticas, caminhadas e esportes. 

A análise estatística calculou os riscos de todas as causas e mortalidade por DCV como taxas de risco (HRs) com ICs de 95% de acordo com o tempo semanal gasto pedalando na linha de base estimado e posteriormente ajustado para sexo e idade (anos) e por centro de estudo para ajustar para confusão desta variável. Outros ajustes: nível educacional, tabagismo, duração do diabetes, adesão à dieta mediterrânea, ingestão total de energia (quartis de kcal/d), atividade física excluindo ciclismo (quartis de gasto de energia LTPA) e atividade física ocupacional, história de acidente vascular cerebral prevalente, infarto do miocárdio prévio, câncer, hipertensão, hiperlipidemia e obesidade central. Na análise secundária para avaliação da associações entre mortalidade por todas as causas e por DCV e mudança no ciclismo da linha de base e em 5 anos, as associações foram ajustadas para sexo e idade no segundo exame e estratificadas por centro de estudo. Um modelo multivariável foi ajustado adicionalmente para o nível educacional no início do estudo, o status de tabagismo em ambos os exames, a duração do diabetes no momento do segundo exame e gasto de energia LTPA em ambos os exames. 

Dos 492.763 participantes inscritos na coorte EPIC, a amostra analítica final foi composta por 7.459 participantes, dos quais 4.701 (63,0%)  tinham DM2 e 4.699 (63,0%) não eram ciclistas. Na amostra, a idade média (DP) foi de 55,9 (7,7) anos, a duração média (DP) do diabetes foi de 7,7 (8,1) anos e 3.924 (52,6%) eram do sexo feminino. Os participantes foram acompanhados por uma média (DP) de 14,9 (4,4) anos (110.944 pessoas-ano) com 1.673 mortes por todas as causas e 811 mortes atribuíveis a DCV. Um subconjunto de participantes (n=5.423) também completou o segundo exame e foi incluído na análise secundária que avaliou a mudança no ciclismo em 5 anos. Essa análise teve média (DP) de 10,7 (4,3) anos de seguimento, acumulando um total de 57.802 pessoas-ano com 975 óbitos por todas as causas e 429 por DCV. O HR para mortalidade por todas as causas foi menor para pessoas que relataram qualquer ciclismo (> 0 min/sem) quando comparado com não ciclistas. Andar de bicicleta também foi associado a risco reduzido de mortalidade por DCV. O ajuste para nível educacional, fatores de risco de estilo de vida e duração do diabetes não alterou a associação entre ciclismo e mortalidade por todas as causas. A diferença de risco de mortalidade cumulativa de 10 anos em relação a 0 min/sem de ciclismo para categorias ascendentes de ciclismo (1-59, 60-149, 150-299 e ≥300 min/sem) foram −1,9%, −2,0%, - 2,7% e -2,1% para mortalidade por todas as causas e -1,2%, -1,2%, -2,2% e -1,0% para mortalidade por DCV, respectivamente. A categoria mais baixa de ciclismo teve, consistentemente, a mortalidade cumulativa mais alta, mas a relação dose-resposta não permaneceu linear quando o ciclismo aumentou de 150-299 para  > 300 min/sem, havendo maior mortalidade. Os HRs para mortalidade por todas as causas foram 0,93 (IC95%, 0,72-1,19), 0,66 (IC95%, 0,45-0,95) e 0,64 (IC95%, 0,51-0,80) para pessoas que pararam, iniciaram ou mantiveram o ciclismo, respectivamente, em comparação com não ciclistas), e os HRs correspondentes para mortalidade por DCV foram 1,08 (IC95%, 0,77-1,51), 0,56 (IC95%, 0,31-0,99) e 0,54 (IC95%, 0,39-0,75). A relação dose-resposta com o ciclismo basal como uma variável contínua para mortalidade por todas as causas e mortalidade por DCV foi modelada post hoc para comparação com o gasto de energia LTPA, o que revelou associação em J invertida entre ambos os resultados e ciclismo, e associação linear para LTPA. No Clube, alguns pontos foram discutidos:

  • O fato da intensidade do ciclismo não ter sido avaliada e sim haver o pressuposto a partir de dados prévios é um ponto fraco do estudo, principalmente por ser multicêntrico, que envolveu populações de diferentes culturas, países com diferentes geografias e clima;

  • A coorte incluiu diversos países europeus e embora tenha sido corrigido para centros de estudo, não há como definir se o clima da região não contribuiu ou prejudicou a prevalência e o tempo de ciclismo em cada população;

  • A estrutura do país ou região para o ciclismo não foi avaliada. Condições propícias para a pedalada afetam a prevalência da atividade pelo risco de pedalar em áreas urbanas sem estrutura adequada , bem como a intensidade que se alcança durante o exercício;

  • Da mesma maneira, a geografia da região não foi avaliada e bem diferenciada. Uma geografia montanhosa pode aumentar a intensidade do exercício, tornando-o de moderada a alta intensidade. Já regiões planas, pelo contrário, podem transformar o ciclismo em uma modalidade de leve intensidade; 

  • A relação dose-resposta ambígua, não linear,  também gerou dúvidas em relação ao tempo e intensidades de pedalada efetiva para diminuição da mortalidade;

  • Um ponto forte do estudo é que ele diferenciou bem as atividades que geraram gasto de energia excluindo o ciclismo (LTPA), demonstrando que o indivíduo mais ativo tem menor mortalidade geral e por causa cardiovascular, com associação linear. 


Pílula do Clube: O tempo gasto no ciclismo foi associado a menor risco de mortalidade por todas as causas e por DCV em pessoas com diabetes, independente de outras atividades físicas e outros fatores de confusão avaliados. No entanto, as relações dose-resposta não foram lineares, mostrando a necessidade de mais estudos prospectivos com maior detalhamento para melhor evidência do tempo e intensidade ideal. 


Discutido no Clube de Revista de 02/08/2021.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity without Diabetes

  A. Michael Lincoff, Kirstine Brown‐Frandsen, Helen M. Colhoun, John Deanfield, Scott S. Emerson, Sille Esbjerg, Søren Hardt‐Lindberg, G. K...