Zhong VW, Van
Horn L, Cornelis MC, Wilkins JT, Ning H, Carnethon MR, Greenland P, Mentz RJ,
Tucker KL, Zhao L, Norwood AF, Lloyd-Jones DM, Allen NB.
JAMA 2019, 321(11):1081-1095.
Trata-se de um estudo para avaliar a
associação do colesterol da dieta ou consumo de ovo com a incidência de doença
cardiovascular e mortalidade. Baseou-se em 6 coortes diferentes que avaliaram
padrões de dieta do Lifetime Risk Pooling
Project, que compreende 20 coortes prospectivas dos Estados Unidos. Apenas
os relatos da linha de base foram incluídos no estudo e foram excluídos indivíduos
com doença cardiovascular prévia no início do estudo, pessoas com dietas
menores do que 500 kcal ou maiores que 6000 kcal por dia ou com dados faltantes
para qualquer uma das variáveis. O desfecho primário foi incidência de doença
cardiovascular e mortalidade. O desfecho doença cardiovascular correspondia a
um composto de infarto fatal e não fatal, doença coronariana, AVC, insuficiência
cardíaca, ou morte cardiovascular por outras causas. Os desfechos secundários
correspondiam à doença coronariana, AVC, ICC, mortalidade cardiovascular e
não-cardiovascular. Os diagnósticos foram feitos por CID (8, 9, 10),
procedimentos diagnósticos, revisão de prontuários, autópsia, e foi aferido o estado
vital de 98% dos participantes. Foram elaborados três modelos para ajustes: o
modelo 2 utilizou idade, sexo, etnia, educação, consumo energético, tabagismo,
maços/ano, atividade física, consumo de álcool, terapia hormonal. Em adição a
estas variáveis, também houve ajuste para nutrientes correlacionados ao
colesterol da dieta (gordura saturada, trans, proteína animal, carne vermelha).
Foram realizadas análises de sensibilidade e harmonização tendo em vista que as
coortes eram heterogêneas.
Foram avaliados 29.615 participantes,
524.376 pessoas-ano, média de idade no início do estudo 51 anos, maior parte
brancos, 44,9% de homens com seguimento médio de 17,5 anos. Ocorreram 5.400
eventos cardiovasculares e 6.132 mortes por todas as causas. O consumo de 300 mg
adicionais de colesterol na dieta por dia associou-se a maior risco de
incidência de doença cardiovascular (DCV) quando ajustado pelo modelo 2 (HR 1,17
IC95% 1,09-1,26), associação que perdeu significância estatística quando
ajustado também para consumo de ovos e carne vermelha, assim como para mortalidade
por todas as causas (HR 1,18 IC95% 1,10-1,26), com perda de significância após
ajuste para consumo de ovos e para consumo de ovos e carne vermelha. O consumo
de cada meio ovo adicional ao dia também se associou à incidência de DCV (HR 1,06
IC95% (1,03-1,10), com perda de significância após ajuste para quantidade de
colesterol da dieta. Esta associação demonstrou padrão dose-resposta. Essa
associação em relação aos desfechos cardiovasculares foi mais relacionada a AVC
e ICC e mortalidade cardiovascular. Foi discutido no clube
·
Apesar de tratar-se de estudo com
vantagens como longo tempo de seguimento e ajustes para muitas variáveis,
apresenta algumas limitações como: heterogeneidade das coortes que foram
agrupadas, erros por auto relato do padrão de dieta, fatores confundidores
residuais, avaliação da dieta ocorreu apenas na linha de base;
·
A validade externa é prejudicada tendo
em vista que o padrão de dieta norte americano rico em produtos
industrializados e hipercalórico, assim como a elevada prevalência de obesidade
pode ter influenciado nos resultados;
·
Os autores não realizaram metanálise
dos dados das coortes e sim uma análise única dos dados, o que não pareceu a
metodologia mais adequada;
·
Não foi relatado se pacientes com
risco cardiovascular aumentado poderiam estar tendo algum cuidado na dieta ao
longo da observação.
Pílula do Clube: este estudo que agrupou dados de 6 coortes prospectivas dos Estados
Unidos, associou um maior consumo de ovos e colesterol com doença
cardiovascular e mortalidade. As limitações inerentes ao delineamento
observacional e a baixa validade externa limitam a aplicação desses resultados.
Discutido no Clube de Revista de
29/04/2019.
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