Rosenstock J, Perkovic V, Johansen OE, Cooper ME, Kahn
SE, Marx N, Alexander JH, Pencina M, Toto RD, Wanner C, Zinman B, Woerle HJ,
Baanstra D, Pfarr E, Schnaidt S, Meinicke T, George JT, von Eynatten M, McGuire
DK; CARMELINA Investigators.
JAMA
2019, 321(1):69-79.
Estudos
prévios com inibidores do DPP-4 já demonstraram a sua não-inferioridade quanto
ao desfecho composto MACE (Major Adverse
Cardiovascular Events) em comparação ao placebo, sem, no entanto,
demonstrar benefício. Questiona-se a possibilidade de heterogeneidade da
classe, uma vez que a saxagliptina foi associada a risco de hospitalização por
insuficiência cardíaca, não avaliado e/ou não confirmado com outros inibidores
do DPP-4. Além disso, esses estudos avaliaram número limitado de pacientes com
doença renal crônica, fator sabidamente associado ao aumento do risco cardiovascular.
O estudo CARMELINA é um ensaio clínico randomizado, multicêntrico, duplo-cego e
placebo-controlado, realizado de agosto de 2013 a agosto de 2016, com o
objetivo de avaliar a segurança cardiovascular e os desfechos renais da linagliptina
em pacientes com diabetes tipo 2 com elevado risco cardiovascular e renal. O estudo
foi financiado pela Lilly e Boehringer Ingelheim. O desfecho primário foi o
tempo transcorrido até o primeiro MACE, e o desfecho secundário foi o tempo
transcorrido até o desfecho renal composto (evolução para terapia de substituição
renal, morte relacionada à insuficiência renal e redução sustentada da TFG em
≥40%). Foram incluídos pacientes com HbA1c entre 6,5 e 10%, com alto risco cardiovascular
(DAC, AVC, doença arterial periférica, micro ou macroalbuminúria) e alto risco
renal (TFG de 45 a 75 ml/min/7,73 m2 e albuminúria acima de 200 mg/g
ou TFG de 15 a 45 ml/min/7,73m2, independente da albuminúria).
Pacientes com TFG inferior a 15 ml/min/7,73m2 foram excluídos. Os
pacientes foram distribuídos aleatoriamente (1:1) para receber linagliptina 5mg
ou placebo via oral uma vez ao dia, sendo reavaliados no período de 12 semanas
após a randomização e, então, a cada 24 semanas. Foi permitida a introdução de
tratamentos adicionais para o controle dos fatores de risco cardiovascular e
para o controle glicêmico, exceto outros inibidores do DPP-4, agonistas do GLP1
e ISGLT2. As análises foram por intenção de tratar, e incluíram testes de
não-inferioridade e de superioridade.
Foram
randomizados 6.979 pacientes, idade média 66 anos, 60% homens, 57% com doença cardiovascular
estabelecida, 74% portadores de DRC, 33% com DRC e doença cardiovascular, sendo
15% com TFG inferior a 30 ml/min/7,73m2. Ao final do tempo mediano
de seguimento de 2,2 anos, foi observada incidência de MACE de 5,77 e de 5,63
por 100 pessoas-ano no grupo intervenção e placebo, respectivamente (RR 1,02 IC95%
0,89-1,17), demonstrando que a linagliptina não aumenta o risco de MACE em
pacientes com alto risco cardiovascular e renal (P<0,001 para
não-inferioridade), da mesma forma que não apresenta benefício para o mesmo
desfecho (P=0,74 para superioridade). Com relação ao desfecho renal composto,
não houve diferença entre os grupos (RR 1,04 IC95% 0,89-1,22; P=0,06). Nos
desfechos exploratórios, não houve aumento da taxa de hospitalização por insuficiência
cardíaca, e foi demonstrada redução da progressão da albuminúria (P=0,003) e
redução do desfecho microvascular composto (renal e oftalmológico) (P=0,003). Em 12 semanas de linagliptina, a redução da
HbA1c foi de 0,5% em comparação ao placebo, com redução do efeito para 0,36% a
partir de então. Quanto aos efeitos adversos, houve maior número de lesões
cutâneas, incluindo penfigoide, bem como de câncer de pâncreas e de episódios
de pancreatite aguda no grupo da linagliptina. No entanto, o poder desses
eventos não foi avaliado. Durante o Clube de Revista, foram discutidos os
seguintes pontos:
·
O estudo foi realizado com suporte financeiro
da indústria farmacêutica e corrobora a segurança cardiovascular já demonstrada
com outros fármacos da mesma classe, sem adicionar efeito protetor
cardiovascular e/ou renal;
·
Apenas dois desfechos exploratórios demonstraram
diferença estatística significativa, a progressão da albuminúria (questiona-se
o valor da progressão da albuminúria como desfecho relevante atualmente) e
outro composto microvascular (sendo discutida a possibilidade de inclusão de
eventos renais maiores, como morte devido a insuficiência renal, a desfechos
menores, como redução da TFG e história de fotocoagulação);
·
O estudo demonstrou não inferioridade da
linagliptina em relação à placebo e uma redução modesta da HbA1c. Frente a
isto, questiona-se o papel desse fármaco no tratamento do diabetes.
Pílula
do Clube: a linagliptina é segura do ponto de vista cardiovascular
quando comparada ao placebo, mesmo em pacientes com doença cardiovascular
estabelecida, porém não agrega benefício quanto a desfechos cardiovasculares e
renais.
Discutido
no Clube de Revista de 08/04/2019.
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