Bethany Warren, James S Pankow, Kunihiro Matsushita,
Naresh M Punjabi, Natalie R Daya, Morgan Grams, Mark Woodward, Elizabeth Selvin
Lancet Diabetes Endocrinol 2017, 5(1):34-42
Trata-se de um estudo de coorte prospectivo
com o objetivo de comparar a capacidade de predizer complicações clínicas
maiores entre as diversas definições de pré-diabetes. Foram utilizados os
seguintes critérios diagnósticos: glicemia de jejum (GJ) 100-125 mg/dL, teste
oral de tolerância a glicose com 75 g (TOTG) 140-199 mg/dL e hemoglobina
glicada (HbA1C) 5,6-6,4% definidos pela ADA; GJ 110-125 mg/dL da OMS e HbA1C
6,0-6,4% do International Expert
Committee (IEC). Os dados avaliados fazem parte do banco do estudo ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities),
cuja população foi composta por 15.972 indivíduos americanos de 45 a 64 anos.
Tais indivíduos foram incluídos entre 1987 e 1989 e seguidos até 2010 a 2013
com visitas a cada 3 anos. Os critérios de exclusão foram diagnostico definido
de diabetes (DM2), doença arterial coronariana (DAC), doença arterial
periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC). Foram dosadas GJ e HBA1C em 10.844
pacientes que atenderam à visita 2 do estudo ARIC e realizados GJ e TOTG em outros
7.194 pacientes que compareceram a visita 4. Calculou-se a sensibilidade,
especifidade, valor preditivo positivo e negativo, razão de verossimilhança
positiva e negativa e estatística C (área sob a curva ROC) para cada um dos
critérios de pré-diabetes vs. normoglicemia para a avaliação dos seguintes
desfechos: incidência de DM, DRC, DAC (único desfecho adjudicado), DAP e morte
por todas as causas.
Em relação à prevalência de pré-diabetes no baseline, observou-se um maior número de
casos quando utilizado o critério de glicemia de jejum da ADA (38% do grupo
incluído na visita 2 e 30% do grupo da visita 4), quando comparado à HBA1C,
principalmente utilizando o critério do IEC (9% do grupo incluído na visita 2).
Os critérios de HBA1C definido pela ADA (5,6-6,4%) e pelo IEC (6,0-6,4%), bem
como a glicemia de jejum da OMS (110-125 mg/dL) foram mais específicos na
predição de incidência de DM2, DAC, DRC e DAP e morte por todas as causa; já a
definição da ADA para GJ e TOTG foram mais sensíveis para tais desfechos. Em
relação à estatística C, o uso da HBA1C como critérios de pré-diabetes se
mostrou estatisticamente melhor do que GJ (definida tanto pela ADA como OMS)
para predição de DRC, DAC, DAP e mortalidade de todas as causas; contudo tal
diferença se manteve <0,02 pontos na maioria dos desfechos analisados, sendo
considerada pequena e possivelmente não relevante. Utilizando o critério de
HBA1C da ADA, houve uma melhora do Continuous
net reclassification index (cNRI) para
DAC, DAP e mortalidade de todas as causas quando comparada à GJ definida pela
ADA ou OMS; tal melhoria foi principalmente às custas de reclassificação dos
não-eventos devido à maior especificidade da HBA1C. Durante o clube foram
discutidos os seguintes aspectos:
· Uma limitação importante do estudo foi o seu
desenho algo confuso. Não houve uma comparação direta entre glicemia de jejum,
hemoglobina glicada e teste oral de tolerância à glicose na população geral do
baseline;
· Outra limitação foi a disponibilização de
resultados importantes apenas no apêndice, como por exemplo, o cNRI e os
valores de estatística C ajustados (o apêndice não se está facilmente
disponível);
· Pelo
fato de HBA1C ter sido dosada em amostras de sangue armazenadas a posteriori, os pacientes não foram
informados do seu resultado, diferentemente dos pacientes com diagnostico de
pré-diabetes definido pela glicose em jejum e TOTG. Isso possibilitaria um
maior controle dos fatores cardiovasculares no grupo que foi informado.
Pílula
do clube: Os pacientes com diagnostico de pré-diabetes
definido pela HBA1C parecem ter maior risco de complicações crônicas em longo
prazo, quando comparados aos que foram diagnosticados somente pelo critério de
glicemia de jejum.
Discutido no Clube de Revista de 12/12/2016.
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