Mohamed Abdelgadir Adam, John Pura, Lin Gu, Michaela
A. Dinan, Douglas S. Tyler, Shelby D. Reed, Randall Scheri, Sanziana A. Roman, and
Julie A. Sosa.
Ann Surg 2014,
260(4):601-5.
Trata-se
de estudo de base populacional com o objetivo de avaliar a associação entre extensão
do tratamento cirúrgico e sobrevida geral em paciente com carcinoma papilar de tireoide
(CPT) e correlação com tamanho tumoral. Os dados foram extraídos por
profissionais treinados e certificados, através do National Cancer Database, um banco de dados de grande abrangência
dos EUA, onde são registrados mais de 85% dos cânceres de tireoide recém
diagnosticados. Foram incluídos pacientes com CPT com até 4 cm de extensão que tinham
sido operados entre 1998 e 2006 (n=61.775). Foram excluídos pacientes com menos
de 18 anos, portadores de outras neoplasias e com histologia variante insular.
Os pacientes foram divididos de acordo com o procedimento realizado: lobectomia
total com ou sem istmectomia vs.
tireoidectomia total, quase-total ou subtotal. A sobrevida geral foi avaliada pelo
método de Kaplan Meier, tanto na população total, como nos grupos com tumores
de 1-2 cm e 2,1-4 cm. Foi conduzida análise multivariada com objetivo de
corrigir para confundidores relacionados ao paciente (ex. comorbidades) e ao
tumor (multifocalidade, limites cirúrgicos, extensão extratireoidiana, ect).
Foram realizadas três análises de sensibilidade: 1. Excluiu-se os pacientes
submetidos à tireoidectomia quase-total ou sub-total; 2. Excluiu-se os dados
faltantes sobre comorbidades, extensão extratireoidiana e multifocalidade
(disponíveis apenas após 2004); 3. Incluiu-se apenas os pacientes com dados
completos. Dos pacientes incluídos, 11% realizaram lobectomia e 89% tireoidectomia.
Os pacientes submetidos à tireoidectomia apresentavam mais frequentemente doença
multifocal, doença com extensão extra tireoidiana, metástases nodais e à
distância e margens positivas, quando comparados àqueles que fizeram
lobectomia. A sobrevida geral não ajustada foi maior no grupo tireoidectomia em
5, 10 e 14 anos quando comparada ao grupo lobectomia (97,2% vs. 96,9%; 92,9% vs. 91,4% e 86,6% vs. 84,4%,
respectivamente; P = 0,001). Quando realizada correção para outros fatores de
risco conhecidos, tal diferença entre os grupos tireoidectomia total vs. lobectomia não se confirmou na coorte
geral [HR 1,05 (IC95% 0,88-1,26)] e nos grupos com tumores de 1-2 cm [HR 0,98
(IC95% 0,73-1,07)] ou 2,1-4 cm [HR 0,96 (IC95% 0,84-1,09)]. Também não se
evidenciou diferença de mortalidade entre os grupos nas análises de
sensibilidades. Durante o clube foram discutidos os seguintes aspectos:
·
Pontos fortes do estudo: Grande número de
pacientes; ajustes para outros fatores de mau prognóstico;
·
Apesar de não se poder excluir viés de
aferição e possíveis dados faltantes/erros no registro dos dados, foram feitas
análises de sensibilidade com vistas a minimizar tais vieses;
·
Os resultados desde estudo discordam dos
publicados por Bilimoria et al em 2007; tal estudo foi realizado nesta mesma
base de dados entre 1985 a 1998 e mostrou redução de sobrevida global em
pacientes com CPT submetidos à lobectomia quando a lesão inicial era > 1 cm,
mas ajustes para confundidores não foram feitos.
Pílula
do clube: Não há diferença em relação à mortalidade
geral nos pacientes com CPT de até 4 cm submetidos à lobectomia vs. tireoidectomia total. Contudo, tal desfecho
não é o único parâmetro na decisão sobre a extensão da cirurgia a ser realizada;
outros desfechos importantes não avaliados por este trabalho (recidiva local e
complicações pós-operatórias) poderiam mudar a perspectiva da abordagem de
tratamento.
Discutido no Clube de Revista de 16/01/2017.
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