quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Single-blind, placebo controlled randomised clinical study of - for body weight reduction

VR Trivedi, MC Satia, A. Deschamps, V. Maquet, RB Shah, PH Zinzuwadia and JV Trivedi

Nutr J 2016, Jan 8;15:3. 

Trata-se de ensaio clínico randomizado, simples-cego, placebo-controlado, multicêntrico, objetivando avaliar a eficácia do medicamento quitosan vs. placebo na perda de peso em pacientes com sobrepeso ou obesidade. Os pacientes foram randomizados para receber quitosan 2.5g (500 mg no café, 1g no almoço e 1g no jantar) ou placebo ao longo de 90 dias sem restrição dietética associada. Os critérios de inclusão eram idade 18-65 anos e IMC 26-35 kg/m². Eram critérios de exclusão: pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos nos últimos 6 meses, procedimentos redutores de gordura no último ano, uso de injeções subcutâneas no último mês, uso de doses estáveis de metformina, pioglitazona ou análogos do GLP-1, história de sangramento, alergia ao quitosan, uso de vitaminas lipossolúveis ou outros suplementos, portadores de DM ou HAS não controlados, doença inflamatória intestinal, gravidez ou lactação e uso de medicamentos para emagrecer no último mês. Os pacientes eram orientados a manter a dieta habitual e a relatar os padrões de ingestão nos dias 1-5, 41-45 e 86-90. O desfecho primário foi redução do peso em relação ao basal nos dias 45 e 90 do estudo. Desfechos secundários incluíam mudança no IMC, na composição corporal, nas medidas antropométricas, no perfil lipídico, na HbA1c e na qualidade de vida. Foram randomizados 96 pacientes (64 no grupo do quitosan e 32 no grupo placebo), porém apenas 86 pacientes completaram o estudo (56 no grupo do quitosan e 30 no grupo placebo) e foram analisados. A idade média dos participantes era de 35,5 no grupo do quitosan e 36,3 no grupo placebo. O peso médio era de 80.1 vs. 80.5 quilos. Não houve diferença entre os dados demográficos no basal. Ao final de 45 dias o peso reduziu 1,78 kg em relação ao basal no grupo intervenção vs. 0,31 kg no grupo placebo (P<0,0001). Após 90 dias, o peso reduziu 3,10 kg em relação ao basal no grupo intervenção vs. 0,33 kg no grupo placebo (P<0,0001). O IMC do grupo intervenção reduziu 0,69 kg/m2 aos 45 dias e 1,20 kg/m2 aos 90 dias, enquanto que no grupo placebo essa redução foi de 0,11 kg/m2 nos dois momentos examinados (P<0.0001). Também houve redução discreta na gordura corporal e visceral. O grupo do quitosan teve uma perda maior de massa magra em relação ao placebo, sendo -0,45 kg aos 45 dias e -0,74 kg aos 90 dias, enquanto que o grupo placebo perdeu 0,2 kg aos 45 dias e 0,08 aos 90 dias (P=0,0008). Não houve diferença no perfil lipídico ou na HbA1c entre os grupos. Durante o clube foram discutidos os seguintes aspectos:
·         Os autores classificam o ensaio clínico como de fase IV, no entanto o delineamento direcionado à eficácia, a curta duração do estudo e a incerteza sobre a aprovação do medicamento para o tratamento da obesidade talvez indiquem que o estudo é de fase III;
·         Há descrição de cegamento dos pacientes e dos investigadores, portanto a denominação “simples cego” está inadequada;
·         O estudo questiona a eficácia dos trabalhos anteriores com a droga quanto à eventual variabilidade da dieta dos pacientes, mas o fato de permitir uma dieta irrestrita não controlada também poderia acarretar variações alimentares entre os participantes;
·         A análise dos resultados foi por protocolo;
·         O fluxograma do estudo poderia ter explicitado melhor as razões da não inclusão dos pacientes na fase inicial. Também poderia omitir a separação por sexo dos pacientes incluídos no estudo, dado melhor informado na descrição dos dados demográficos;
·         A tabela 1 descreve pobremente os dados demográficos. Não há sequer menção ao IMC basal dos pacientes, dado de extrema importância em estudos de obesidade. Também não há estratificação entre pacientes com sobrepeso e com obesidade, bem como não há estratificação quanto às comorbidades, que são listadas em conjunto apenas no corpo do texto;
·         Os autores enfatizam diversas vezes a significância estatística das diferenças em variáveis dentro do mesmo grupo, quando na verdade a avaliação importante clinicamente é aquela que compara o grupo intervenção com placebo. O uso excessivo de asteriscos e outros símbolos na tabela para denotar tais diferenças deixa a apresentação dos dados confusa;
·         O número de participantes em cada ponto de análise (dia 0, 45 e 90) variou e como em cada momento houve perdas a comparação dos dados é feita com grupos diferentes de pessoas nos diferentes momentos;
·         O uso da HbA1c como desfecho é questionável já que variações em períodos menores que 90 dias não se traduzem em informação clínica relevante. Os autores alegam que houve redução da HbA1c para menos de 6%, no entanto os valores basais já eram inferiores a 6%;
·         A ingestão calórica foi em torno de 1.700 kcal ao longo dos diversos momentos do estudo. Isso corresponde a uma dieta de menos de 22 kcal por quilo de peso. Dificilmente indivíduos obesos têm como padrão dietético habitual tamanha restrição energética. Provavelmente os pacientes incluídos no estudo estavam fazendo algum tipo de restrição calórica, ainda que não orientada diretamente pelos investigadores;
·         Os efeitos adversos foram pobremente descritos.

Pílula do Clube: O presente estudo é incapaz de responder à pergunta clínica proposta, já que as inúmeras falhas metodológicas comprometem a interpretação dos resultados. O uso de quitosan para tratamento da obesidade não pode ser recomendado com base na evidência deste trabalho.


Discutido no Clube de Revista de 23/01/2017.

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