Trata-se de coorte prospectiva de dinamarqueses, etnia branca, que participavam de dois estudos: Copenhagen City Heart Study e General Population Study. Foram excluídos pacientes que tiveram pancreatite ou IAM prévio, sendo incluídos 116.550 indivíduos. Os eventos eram rastreados por internações hospitalares através de código de CID e morte pelo registro hospitalar dinamarquês. Os triglicerídeos foram coletados sem jejum. Os indivíduos foram categorizados de acordo com os níveis séricos de triglicerídeos: <89, 89-176, 177-265, 266-353, 354-442 e > 443mg/dL. Os participantes foram seguidos por uma média de 6, 7 anos e eram acompanhados até término do estudo (novembro de 2015), morte (17.331), evento ou emigração (598). Hazard Ratio (HR) foi estimado para avaliar IAM e pancreatite usando modelo de regressão proporcional de cox ajustado para idade e sexo OU idade, sexo e fatores de risco (educação, fumo hipertensão, uso de estatina). Outros 4 modelos de ajuste foram realizados: uso de álcool, IMC e DM, HDL, e tempo desde a última alimentação. Viés de diluição de regressão foi corrigido por métodos não paramétricos.
Dos 116.550 indivíduos incluídos, 434 desenvolveram pancreatite e 3.942 desenvolveram IAM. Quando avaliado o desfecho pancreatite, o grupo com triglicerídeos <89 mg/dL foi considerado como referência. Comparado a este grupo, os indivíduos com nível de triglicerídeos 89-176mg/dL apresentaram HR de 2,3 (IC95% 1,3-4,0); 177-265mg/dL apresentaram HR 2,9 (IC95%, 1,4-5,9) e indivíduos com triglicerídeos > 442 mg/dL HR de 8,7 (IC95% 3,7-20,0). O HR com ajuste multivariado para pancreatite foi de 1,17 a cada 89 mg/dL. Com o ajuste para diabetes e IMC o risco foi atenuado, contudo permaneceu significativo. Na análise para IAM os achados foram semelhantes. Comparado ao grupo com triglicerídeos <89 mg/dL, os indivíduos com nível de triglicerídeos 89-176 apresentaram HR de 1,6 (IC95% 1,4-1,9), entre 176-265mg/dl foi 2,2 (IC95%, 1,9-2,7); entre 265-353 foi 2,8 (IC95%, 2,0-3,9) e no grupo com triglicerídeos > 442 mg/dL o HR foi de 3,4 (IC95% 2,4-4,7). Durante o Clube os seguintes pontos foram discutidos:
- Os consensos atuais diferem quanto ao ponto de corte para tratamento de hipertrigliceridemia, e não há estudos até o momento que embasem este valor, variando conforme opinião de especialista de cada local;
- O estudo utilizou a medida dos triglicerídeos sem jejum. Estudos anteriores demonstraram uma diferença pequena entre o jejum e o pós-prandial (até 26mg/dL), o que suportaria esta prática;
- Indivíduos com triglicerídeos aumentados apresentam também outros fatores de risco para pancreatite, contudo, mesmo após ajustes permaneceu significativo, indicando aumento de risco independente;
- Apesar de não ser um ECR, o estudo é a melhor evidência até o momento sobre hipertrigliceridemia e risco de pancreatite. Estudos com outros delineamentos devem ser realizados para entender o quanto o tratamento preveniria um evento neste grupo.
Pílula do Clube: Hipertrigliceridemia leve a moderada se associa com aumento de risco de pancreatite, contudo não sabemos o quanto uma intervenção diminuiria este risco, portanto, estudos de intervenção devem ser realizados com tal objetivo.
Discutido no Clube de Revista de 21/11/2016.
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