Devin Abrahami, Antonios Douros, Hui
Yin, Oriana Hoi Yun Yu, Christel Renoux, Alain Bitton, Laurent Azoulay
BMJ 2018; 360:k872.
O
uso de inibidores da dipeptidilpeptidase-4 (DPP-4) para o tratamento de
diabetes mellitus tipo 2 aumentou consideravelmente na última década, e seu
possível efeito em condições autoimunes, como na doença inflamatória
intestinal, ainda não é bem compreendido. Alguns estudos feitos com camundongos
mostraram reduzir a atividade da doença, enquanto que outros tiveram a doença
com maior gravidade. Nenhum estudo observacional investigou especificamente a
associação entre o uso de inibidores da DPP-4 e a incidência de doença
inflamatória intestinal, sendo este o objetivo deste estudo. A fim de avaliar
essa associação, foi feito uma coorte, que usou dados do Clinical Practice Research Datalink (CPRD), um banco de dados da
atenção primária do reino unido, que registra informações demográficas e de
estilo de vida, dados de prescrição, referências e diagnósticos de mais de 15
milhões de pacientes, de mais de 700 médicos da atenção primária. Foram
incluídos 141.170 pacientes, com pelo menos 18 anos de idade, iniciando uso de
um novo antidiabéticos entre 1º de janeiro de 2007 e 31 de dezembro de 2016,
com acompanhamento até 30 de junho de 2017. A exposição primária considerada
foi uso incidente de inibidor de DPP-4, sendo seu desfecho avaliado somente
após 6 meses de exposição ao fármaco. Como exposição secundária, foram feitas
duas avaliações, uma por duração cumulativa de uso da medicação, e outra pelo
tempo desde o início do uso, os quais foram estimados usando modelos de
proporção de Cox. Todas as análises foram ajustadas para diversos fatores como:
idade, sexo, HbA1c, tempo de entrada na coorte, IMC, etc.
Nos resultados, encontrou-se um total
de 552.413 pessoas/ano de seguimento, com 208 eventos (doença inflamatória
intestinal), levando a uma taxa de incidência de 37,7 por 100.000 pessoas/ano (IC95%
32,7 a 43,1). O uso de inibidor da DPP-4 levou a aumento de 75% de risco para
doença inflamatória intestinal, com Hazard Ratio de 1,75 (IC95% 1,22 a 2,49). O
Hazard Ratio aumentou gradualmente com durações mais longas de uso do inibidor
da DPP-4, alcançando um pico após três a quatro anos de uso (HR de 2,90, IC95%
1,31-6,41) e diminuindo depois de mais de quatro anos de uso (HR de 1,45, IC95% 0,44 a 4,76). Um padrão similar foi observado
com o tempo desde o início do uso dos inibidores da DPP-4. Esses achados
permaneceram consistentes em várias análises de sensibilidade apresentadas. Como
o risco absoluto de desenvolvimento de doença inflamatória intestina foi baixo,
o NND (número necessário para causar dano) resultante é bem elevado (2291 em 2 anos e
1177 em 4 anos). No Clube de Revista, discutiram-se os seguintes pontos:
·
O
estudo apresenta uma coorte bem feita, com diversas subanálises efetuadas
confirmando o achado principal, mas mantendo os vieses inerentes a qualquer
estudo observacional deste tipo;
·
Diversas
análises foram feitas para tentar isolar o efeito dos fármacos em estudo,
destacando-se a seleção somente de pacientes com uso incidente (novos usuários)
e considerar somente indivíduos expostos após 6 meses de uso (permitindo haver
um tempo de efeito do fármaco);
·
Embora
o risco relativo seja considerável, apresenta um risco absoluto baixo, com um
NND elevado;
·
Esses
fármacos são atualmente opções de 2ª a 3ª linha para tratamento do Diabetes
Mellitus tipo 2, devendo-se individualizar sua prescrição e cogitar evitar seu
uso em paciente com alto risco para doença inflamatória intestinal (história
familiar, ou história de outras doenças autoimunes).
Pílula do Clube: O uso de inibidores da DPP-4 para
tratamento de pacientes maiores de 18 anos com Diabetes tipo 2 levou a um
aumento da incidência de doença inflamatória intestinal, porém com baixo risco
absoluto. Sugere-se cogitar o não uso dessa medicação em paciente com alto
risco para doença inflamatória intestinal.
Discutido no Clube de Revista de
23/04/2018.
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