Papaleontiou M, Hughes DT, Guo C, Banerjee M, Haymart MR
J Clin Endocrinol Metab 2017, 102(7): 2543–2551
Trata-se de estudo retrospectivo para avaliar as taxas de
complicações pós-tireoidectomia por câncer de tireoide e identificar população
em risco. Com a incidência crescente de câncer de tireóide, mais pacientes são
submetidos à tireoidectomia, entretanto estudos de base populacional avaliando
as complicações deste procedimento são poucos. Foi realizada revisão do banco
de dados SEER-Medicare (Surveillance, Epidemiology, and End
Results–Medicare), avaliando complicações gerais no primeiro mês pós-operatório
(febre, locais, cardiopulmonares e vasculares) e complicações específicas da
cirurgia da tireoide (hipocalcemia/hiparatireoidismo e paralisia de cordas
vocais) entre 30 dias e 1 ano após a cirurgia. O critério de inclusão foi tireoidectomia
por câncer de tireoide no período entre 1998 e 2011, totalizando 27.912
pacientes. Após avaliação inicial foram excluídos pacientes que não tinham
todos os dados necessários e aqueles com complicações específicas somente no
primeiro mês pós-operatório (n=12).
Dos 22.855 pacientes avaliados, 1.820 (6,5%) apresentaram
complicações gerais e 3.427 (12,3%) desenvolveram complicações específicas. Pacientes
com metástases à distância apresentaram 22,9% de complicações específicas. Na
análise multivariada, complicações gerais e específicas foram maiores em
pacientes acima de 65 anos (OR 2,61 IC95% 2,31- 2,95; OR 3,12 IC95% 2,85 – 3,42),
naqueles com escore de Charlson/Deyo maior ou igual a 1 (OR 2,40 IC95% 1,66 – 3,49;
OR 1,88 IC95% 1,53 – 2,31), e naqueles com doença regional (OR 1,18 IC95% 1,03
– 1,35; OR 1,31 IC95% 1,19 – 1,45) ou à distância (OR 2,83 IC95% 2,30 – 3,47;
OR 1,85 IC95% 1,54 – 2,21). Pacientes submetidos à tireoidectomia total tiveram
maior prevalência de complicações específicas quando comparados a pacientes que
fizeram lobectomia (OR 1,59 IC95% 1,41-1,8). Aqueles que fizeram esvaziamento
cervical também apresentaram mais complicações (OR 1,43 IC95% 1,31-1,57). A
discrepância entre estes dado e o previamente relatado na literatura
provavelmente se deve a que relatos prévios selecionaram centros de referência
com cirurgiões experientes. Há um aumento significativo das complicações
específicas de acordo com a extensão cirúrgica (tireoidectomia total vs. lobectomia e esvaziamento de
linfonodos cervicais vs. não
esvaziamento), reforçando a importância de cirurgias menos invasivas,
especialmente em pacientes de baixo risco. Durante o clube de revista foram
discutidos os seguintes aspectos:
·
O estudo reforça a impressão clínica de que as complicações pós-tireoidectomia
são mais frequentes do que o relatado previamente;
·
Tendo em vista que as complicações específicas são maiores quanto
maior a extensão cirúrgica e considerando que as diretrizes atuais recomendam
lobectomia para pacientes de baixo risco, é importante decisão conjunta da
equipe (clínica e cirúrgica) com o paciente, a fim de evitar extensão cirúrgica
desnecessária e com maior risco de complicações;
·
O tratamento de pacientes com alto risco de complicações (idosos,
com comorbidades e com doença regional ou à distância) deve ser individualizado,
considerando encaminhamento para centros de referência com cirurgiões
experientes, o que deve levar a menor morbidade para o paciente.
Pílula do
clube: As
complicações de tireoidectomia são maiores do que relatado previamente e
diretamente relacionadas com a extensão cirúrgica, reforçando a necessidade de
individualização e opção por lobectomia, quando indicado.
Discutido no Clube de
Revista de 31/07/2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário