Frank M. Sacks; Vincent J.
Carey; Cheryl A. M. Anderson; Edgar R. Miller III; Trisha Copeland; Jeanne
Charleston; Benjamin J. Harshfield; Nancy Laranjo; Phyllis McCarron; Janis
Swain; Karen White; Karen Yee; Lawrence J. Appel
JAMA 2014, 312(23):2531-2541.
Trata-se de um ensaio clínico
randomizado (ECR) cruzado conduzido de abril de 2008 a dezembro de 2010,
cujo propósito era determinar o efeito do índice glicêmico nos fatores de risco
para doença cardiovascular em uma população adulta com sobrepeso e/ou obesidade
e hipertensão estágio I (ou pré-hipertensão). Eram elegíveis aqueles maiores de
30 anos, com os fatores supracitados, sem doença cardiovascular (DCV), diabete
melito (DM) ou doença renal crônica e que não estivessem em uso de
anti-hipertensivos ou hipolipemiantes. Foram propostas quatro combinações de
dieta: (1) alto índice glicêmico + alto aporte de carboidratos, (2) baixo
índice glicêmico + alto aporte de carboidratos, (3) alto índice glicêmico +
baixo aporte de carboidratos e (4) baixo índice glicêmico + baixo aporte de
carboidratos. Considerou-se índice glicêmico baixo ≤ 45 e alto ≥ 65, e aporte
total diário de carboidratos baixo 40% e alto 58%, tendo como base para o plano
alimentar as dietas DASH e OmniHeart. A dieta DASH consiste em cardápio rico em
frutas e vegetais (5 e 4 porções diárias, respectivamente), pobre em gordura
saturada (7% do aporte total diário de calorias), porém com alta oferta de
carboidratos (58% das calorias totais), que provou, em ECR publicado em 1997,
reduzir significativamente a pressão arterial (PA), quando comparada a dieta
usual americana. A dieta OmniHeart é derivada de outro ECR, publicado em 2005
no JAMA, para definir qual o macronutriente ideal para substituir gorduras
saturadas na dieta DASH, mostrando que a permuta do carboidrato (redução do
aporte total diário de 58% para 40%) por proteínas ou gorduras insaturadas pode
acentuar a redução da PA e melhorar a dislipidemia.
Assim, 189 pacientes foram
randomizados para receber uma das quatro dietas, cada uma durando cinco
semanas. Todos os alimentos eram fornecidos aos participantes, que mantinham um
diário alimentar, além da monitorização direta do consumo por equipe treinada. No
total, 163 pacientes foram incluídos na análise comparativa, considerando a
meta de 160 participantes completarem pelo menos duas dietas de alto e baixo
índice glicêmico. O estudo teve alta aderência, havendo uniformidade entre os
grupos de dieta em relação à perda de peso, consumo de álcool e excreção
urinária de Na e K. Observou-se que na dieta com alto aporte de carboidratos
(58%), baixo índice glicêmico reduziu a sensibilidade à insulina (de 8,9 para 7,1 unidades, −20%, P =0,002) e
promoveu aumento do LDL (139 para 147 mg/dL, +6%, p ≤ 0,001), sem alterar
demais desfechos. Quando da dieta de baixo aporte de carboidratos (40%), a
redução do índice glicêmico não afetou os desfechos, exceto pela redução dos
triglicerídeos de 91 para 86 mg/dL (-5%, p=0,02). Comparando-se as dietas de
baixo índice glicêmico e baixo aporte de carboidratos com alto índice glicêmico
e alto aporte de carboidratos, não houve alteração na PA, HDL, LDL e
sensibilidade à insulina, apenas redução dos triglicerídeos (111 para 86 mg/dL,
-23%, p ≤ 0,001).
Os quatro tipos de dieta foram associados à redução de 7-9 mmHg na PA sistólica
e de 4-6 mmHg na PA diastólica. Durante o Clube de Revista, os
seguintes pontos foram discutidos:
- O estudo teve elevado rigor metodológico considerando a intervenção dietética e maneira de aferição da aderência;
- Compor uma dieta DASH com alimentos de baixo índice glicêmico não melhora fatores de risco cardiovasculares, e poderia, ainda que por mecanismo não bem compreendido, reduzir a sensibilidade à insulina e aumentar o LDL;
- Como limitação, apontou-se a não avaliação do papel do índice glicêmico em uma dieta convencional;
- Estes resultados não podem ser extrapolados para a população com diabetes, já que há evidência bem estabelecida nesta do benefício da dieta de baixo índice glicêmico.
Pílula
do Clube: em uma população sobrepeso/obesa,
hipertensa ou pré-hipertensa e não diabética aderente a uma dieta saudável (tipos
DASH ou OmniHeart), selecionar alimentos de baixo índice glicêmico não promove
melhora dos fatores de risco cardiovascular.
Discutido no Clube em 05/01/2015.
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