Jothan
Suez, Tal Korem, David Zeevi, Gili Zilberman-Schapira, Christoph A. Thaiss, Ori
Maza, David Israeli, Niv Zmora, Shlomit Gilad, Adina Weinberger, Yael Kuperman,
Alon Harmelin, Ilana Kolodkin-Gal, Hagit Shapiro, Zamir Halpern, Eran Segal,
Eran Elinav
Nature
2014, 514: 181–186
Trata-se
de estudo composto de experimentos em animais e translação dos resultados em
estudo em humanos (transversal e quasi-experimento) buscando avaliar o uso de
adoçantes artificiais e sua associação com tolerância diminuída a glicose, e
mecanismos desta relação. Quatro grandes perguntas foram respondidas com os
experimentos propostos, a saber:
1. O consumo crônico de adoçantes
artificial não calóricos (AANC) causa tolerância diminuída à glicose (TDG)? AANC
foram administrados a camundongos com 10 semanas de vida; os grupos controle
receberam água, glicose ou sacarose. Após 11 semanas, os camundongos que
receberam AANC apresentaram curvas glicêmicas sugestivas de TDG, diferentemente
do grupo controle. O maior efeito foi com sacarina, que foi usada nos
experimentos subsequentes. Os mesmos resultados foram encontrados em situação
de obesidade (mesmo experimento realizado em camundongos com obesidade por
dietas ricas em gordura).
2. A microbiota intestinal é alterada pelo
uso de AANC potencialmente causando TDG? Camundongos que receberam
AANC foram tratados com antibióticos a fim de modificar a microbiota
intestinal. Este tratamento normalizou a curva glicêmica, de forma que ela foi
semelhante entre os grupos. Para confirmar efeito causal, foi realizado
transplante de fezes de animais usuários de AANC para animais “germ-free”. Os camundongos que
receberam fezes dos que consumiram sacarina apresentaram curva glicêmica
indicativa de TDG.
3. Qual a composição da microbiota
intestinal de animais usuários de AANC? Animais que consumiram
sacarina tinham microbiota distinta dos demais, da mesma forma que os animais
que receberam transplante de fezes do primeiro grupo. Estes achados mostram que
o consumo de sacarina ocasiona disbiose. Também foi confirmado que esta
alteração microbiológica leva a alterações na disponibilidade e metabolização
de substratos energéticos das bactérias e suas enzimas.
4. O consumo de AANC em humanos determina
TDG?
Foi realizado estudo transversal com base em preenchimento de questionários de
381 indivíduos não diabéticos. Houve correlação positiva entre o consumo de
AANC e parâmetros clínicos como glicemia, peso, circunferência abdominal e TDG.
Para avaliação de causalidade, sete indivíduos que não utilizavam AANC consumiram
AANC por 7 dias. Quatro deles desenvolveram alteração glicêmica nos últimos
dias de consumo. Em análise das fezes, houve alteração da microbiota mais
pronunciada nestes pacientes. Foi realizado transplante das fezes destes
indivíduos para roedores “germ-free”.
A microbiota dos que receberam fezes desses pacientes tornou-se semelhante a dos
grupos que receberam sacarina nos experimentos anteriores.
Durante
o Clube de Revista, os seguintes pontos foram discutidos:
- Não foram avaliados outros componentes da dieta (exceto dieta rica em gordura);
- A dieta em humanos tem maior variação qualitativa que a dos roedores;
- Não foram comparados os mesmos resultados com menores doses de adoçantes, o que tornaria os resultados mais próximos da realidade;
- Possivelmente, os resultados em humanos devem-se a uma resposta personalizada (dieta e outros hábitos de saúde).
Pílula
do Clube: O uso de adoçantes em camundongos e humanos
pode aumentar o risco de tolerância diminuída à glicose. Estes efeitos
metabólicos parecem estar relacionados com alteração da composição e função da
microbiota intestinal. São necessários estudos epidemiológicos para confirmar
os dados.
Discutido no Clube de Revista de 12/01/2015.
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