Walker
RF, Zakai NA, MacLehose RF, Cowan LT, Adam TJ, Alonso A, Lutsey PL.
JAMA Intern Med 2019, Nov 11.[Epub
ahead of print]
O atual estudo, um case-crossover, avaliou
se a exposição ao tratamento com testosterona está associada ao risco aumentado
de tromboembolismo venoso (TEV) e o estratificou de acordo com presença ou não
de hipogonadismo, bem como por idade (menor ou ≥ 65 anos) e via de
administração (transdérmica ou intramuscular). Os dados foram obtidos do IBM
Market Scan Commercial Claims and Encounter Database e do Medicare
Supplemental Database (IBM Watson Health), que contém informações de
cuidados de saúde de empregados, planos de saúde, hospitais e Medicare, de
janeiro de 2011 a dezembro de 2017. A coorte inicial incluía 93.205 homens, de
18 a 99 anos, com pelo menos um registro de internação por TEV ou 2 registros
ambulatoriais com 7 a 184 dias de diferença, identificados através dos códigos
de Classificação Internacional de Doenças, com uma prescrição de anticoagulante
em 31 dias da data do evento. Restaram 52.203 homens após restringir a amostra àqueles
com pelo menos 12 meses de seguimento antes do TEV e outros 12.581 homens foram
excluídos por neoplasia.
Neste desenho de estudo, cada homem serviu como
seu próprio controle. Foram definidos períodos de exposição antes do evento (1,
3, 6 meses) e períodos de controle equivalentes. Regressão logística
condicional foi utilizada para estimar odds
ratio (OR) e correspondentes IC95%; modelos multivariáveis controlaram
número de pacientes hospitalizados, consultas ambulatoriais e hospitalizações
na emergência que ocorreram em períodos de caso e controle, visto que a
hospitalização está associada ao TEV e o número de consultas médicas poderia
ser um indicador da saúde geral. Foi realizada também análise exploratória,
classificando uso da testosterona de forma diferente (<1, 1-3, 3-6 meses).
No total, 39.662 homens foram arrolados, com
idade média 57,4 anos, sendo que 7,8% (n=3.110) tinham diagnóstico de
hipogonadismo. Nos modelos ajustados para a idade, o tratamento com
testosterona em todos os períodos foi associado ao aumento de TEV nos homens
com hipogonadismo (2,32; IC95% 1,97-2,74) e sem hipogonadismo (OR 2,02; IC95% 1,47-2,77).
Nos homens sem hipogonadismo, o risco no período de 3 meses foi maior nos
menores que 65 anos (OR 2,99; IC95% 1,91-4,68) do que nos mais velhos (OR 1,68;
IC95% 0,90-3,14), apesar da interação não ser significativa (P=0,14). Não houve
interação significativa quando uso estratificado por via de administração em
ambos grupos. Os seguintes pontos foram discutidos no Clube da Revista:
·
O desenho do estudo (case-crossover) foi
utilizado visando mitigar possíveis confundidores. Já que os pacientes são seus
próprios controles, fatores como obesidade, tabagismo, entre outros, permanecem
relativamente constantes durante os períodos;
·
No entanto, uma limitação do desenho proposto é
que dentro do período controle os pacientes poderiam estar usando testosterona,
o que insere viés nas análises propostas. Para mitigar este viés, os autores realizaram análise de sensibilidade
avaliando os períodos de controle onde não havia uso de testosterona versus
períodos de controle onde havia uso de testosterona. Estas análises mostraram
resultados similares, sugerindo que o resultado obtido é real.
·
O fato de todos os pacientes terem tido TEV
pode ter selecionado uma população com maior risco para este desfecho, não
sendo os resultados aplicáveis para todos os homens em uso de testosterona;
Pílula
do Clube: Homens
em tratamento com testosterona, com e sem hipogonadismo, têm aproximadamente o
dobro de risco de tromboembolismo venoso em curto prazo (especialmente nos
primeiros 3 meses de uso), sendo o risco potencialmente maior em homens ≤ 65 anos. Sendo assim, sua prescrição deve ser
considerada apenas nos casos de real necessidade, ou seja, em casos de hipogonadismo,
e este efeito adverso ser monitorado mais de perto pelo prescritor,
especialmente nos primeiros meses de uso.
Discutido no Clube de 20/01/2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário