Dodd JM, Louise J, Deussen AR, Grivell
RM, Dekker G, McPhee AJ, Hague W
Lancet
Diabetes Endocrinol2019,7(1):15-24
Trata-se de ensaio
clínico randomizado, multicêntrico, duplo cego, realizado em 3 hospitais
públicos na, Austrália, para avaliar o efeito da metformina adicionada a
orientações de mudanças no estilo de vida e dieta em gestantes com sobrepeso ou
obesidade. Foram randomizadas pacientes de 16-50 anos de idade, idade
gestacional de 10-20 semanas, IMC maior que 25 kg/m² na primeira visita
pré-natal. Eram contraindicação gestações múltiplas, diabetes prévio,
comorbidades associadas ou contraindicação à metformina. Os autores não
apresentam conflitos de interesse.A dose máxima de metformina era 2g ao dia,
divididos em 1g duas vezes ao dia, com a dose aumentada semanalmente. A dieta e
orientações de estilo de vida correspondiam a 3 sessões ao vivo (2 com
nutricionista e 1 com assistente) mais 3 telefonemas ao longo do estudo.O
desfecho primário era o peso ao nascer maior que 4000g, ademais de diversos
desfechos secundários que incluíam complicações gestacionais e obstétricas,
maternas e fetais.A análise foi por intenção de tratar (após exclusão de
natimortos e abortos antes da 20ª semana de gestação) e a amostra estimada para
um poder 80% foi de 524 mulheres.
Foram incluídas 256
pacientes no grupo tratamento e 258 no grupo placebo, de 2013 a 2016. Os grupos
foram semelhantes entre si, porém com tendência a maior número de tabagistas e
menor nível socioeconômico no grupo placebo. O IMC médio era em torno de 32,
cerca de 30% apresentavam sobrepeso, 80% eram brancas, e em torno de 30% tinha
história familiar de diabetes. Não houve diferença quanto ao desfecho primário
- o peso ao nascer foi semelhante entre os grupos. Entre os desfechos
secundários, apenas o ganho de peso materno semanal foi menor no grupo da
metformina (0,38kg/semana no grupo da metformina vs. 0,47 kg/semana no grupo placebo; P=0,007) e tendência a menor ganho
de peso durante a gestação neste grupo vs.
placebo (7,48kg de ganho de peso gestacional
no grupo da metformina vs. 8,72kg no
grupo placebo; P=0,053). Houve também maior número de cesarianas no grupo
placebo, porém essa diferença provavelmente ocorreu devido a maior número de
cesarianas eletivas, tendo em vista que as gestantes neste grupo já
apresentavam maior número de cesáreas prévias na entrada no estudo. Os efeitos
adversos foram semelhantes entre os grupos, assim como, a adesão ao tratamento.
Foi também feita metanálise incluindo estes dados a dados de estudos prévios avaliando
metformina em gestantes com sobrepeso/obesidade demonstrando impacto modesto no
ganho de peso materno (-2,27 kg, IC95% 4,45-0,08, 4 estudos, 1.278 mulheres),
sem impacto no peso ao nascer ou risco de pré-eclâmpsia. Durante o Clube os
seguintes pontos foram discutidos:
·
Apesar de ser o primeiro ECR a avaliar metformina associada à
intervenção de estilo de vida e dieta estruturada neste grupo de pacientes, os
estudos prévios que avaliaram metformina nas gestantes obesas também incluíam
orientações alimentares e de estilo de vida de maneira não estruturada, tendo
em vista que estas recomendações fazem parte do atendimento integral
assistencial de qualquer gestante com IMC elevado;
·
A adição da metformina à orientações dieta + modificações de
estilo de vida não afetou a proporção de RN >4000g em comparação ao placebo;
·
Houve uma tendência a menor ganho de peso materno durante a gestação
com uso de metformina, mas que não se refletiu em efeitos significativos em
desfechos maternos ou infantis;
·
O estudo foi metodologicamente bem desenhado e desenvolvido,
assim como a apresentação de desfechos e discussão dos dados.
Pílula do Clube: o uso de metformina em gestantes com sobrepeso e obesidade,
apesar de menor tendência a ganho de peso materno, não mostrou benefícios
clínicos em desfechos fetais ou maternos, não apresentando indicação de uso,
portanto, nessa população.
Discutido no Clube de Revista de 21/01/2019.
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