quarta-feira, 31 de março de 2021

Effects of Time-Restricted Eating onWeight Loss and Other Metabolic Parameters in Women and Men With Overweight and Obesity The TREAT Randomized Clinical Trial

 Dylan A. Lowe, NancyWu, Linnea Rohdin-Bibby, A. Holliston Moore, Nisa Kelly, Yong En Liu, Errol Philip, Eric Vittinghoff, Steven B. Heymsfield, Jeffrey E. Olgin, John A. Shepherd, Ethan J.Weiss.


JAMA Intern Med 2020, 180(11):1491-1499.

https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/article-abstract/2771095


A prevalência de sobrepeso e obesidade tem aumentado cada vez mais, e se associa com aumento de risco para doenças crônicas. Mesmo uma redução modesta de peso pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares. No entanto, a adesão a longo prazo às mudanças no estilo de vida ainda é um desafio. O jejum intermitente (JI) tem ganhado atenção como método simples de perda de peso. Significa comer em pequenos intervalos separados por períodos definidos de jejum (> 12 horas e até 48 horas). Os benefícios desta modalidade ainda não foram bem testados em humanos. O tempo restrito para comer (TRC) é um dos vários protocolos de JI, que envolve períodos de jejum e de alimentação dentro de um ciclo de 24 horas. 

Este é um ensaio clínico randomizado com objetivo de determinar o efeito do TRC sobre o peso e desfechos metabólicos em pacientes com sobrepeso e obesidade. Dados foram coletados de 116 participantes, e 105 (74,5%) completaram as 12 semanas do protocolo. A condução do estudo se deu através de um aplicativo de celular (app), pelo qual os participantes foram avaliados; e o seu peso foi registrado através de uma balança digital conectada ao app por bluetooth (fornecida aos participantes). Os pacientes foram randomizados para o grupo intervenção (comer ad libitum das 12h às 20h e fazer jejum completo das 20h às 12h, conforme lembretes do app) ou para o grupo controle (3 refeições diárias). Não houve recomendação sobre quantidade de calorias, macronutrientes nem atividade física para nenhum dos grupos. Um grupo de 50 participantes que viviam dentro de 60 milhas de distância da Universidade de Califórnia (UC), São Francisco, foi eleito para testes metabólicos completos durante o estudo, realizados presencialmente no centro de pesquisa clínica da UC. O desfecho primário foi a mudança de peso em quilogramas (kg) em relação ao início, medido diariamente em jejum pela manhã na balança fornecida pelo estudo (iHealth). Os desfechos secundários avaliados no grupo presencial foram mudanças no peso, massa gorda, massa magra, insulina em jejum, glicose em jejum, níveis de hemoglobina A1c, ingestão energética estimada, gasto energético total e gasto energético de repouso. A análise foi por intenção de tratar. 

Houve 36 participantes randomizados que não completaram o estudo, dentre eles 25 nunca registraram medidas de peso. A aderência às recomendações relatada pelos participantes foi de 83,5% no grupo intervenção (comer apenas na janela de 8h) e 92,1% no grupo controle (não pular refeições). Houve perda de peso de 0,94 kg (significativa) no grupo TRC, no final do estudo em relação ao início (intervalo de confiança [IC] 95% -1,68 a -0,2; P=0,01). Já no grupo controle essa perda foi de 0,68 kg, não significativa. Importante destacar que quando foi feita a comparação entre os grupos, a perda de peso do grupo intervenção em relação ao grupo controle foi maior, mas não estatisticamente significativa. No grupo de pacientes com avaliação metabólica presencial, houve forte concordância entre as medidas de peso presenciais e aquelas feitas em casa, conforme determinado por uma análise de Bland-Altman. Não houve diferença significativa na massa gorda no final do estudo em relação ao início em nenhum dos grupos, nem diferença entre os grupos. Porém, houve um decréscimo importante da massa magra (massa gorda livre menos conteúdo mineral ósseo) no grupo do jejum intermitente. Também houve decréscimo significativo da massa magra apendicular neste grupo, que diminuiu 0,64 kg em relação ao início (IC95%, -0,89 a -0,39; P<0,001). Esse decréscimo não foi significativo no grupo controle, e entre os grupos houve diferença significativa (−0,47 kg; IC95%, −0,82 a −0,12; P=0,009). Não houve diferenças significativas dentro dos grupos ou entre os grupos nos níveis de glicose em jejum, insulina em jejum, HOMA-IR, HbA1C, triglicerídeos, colesterol total, LDL ou HDL.

Por meio de um dispositivo para medir níveis de atividade e sono, o “oura ring” (anel com sensor), foram obtidos movimentos diários, contagem de passos, frequência cardíaca, período de sono. Ao final do estudo, em relação ao início, houve redução significativa na movimentação diária e na contagem de passos entre os participantes do jejum intermitente. Pontos discutidos no Clube de Revista:

  • O tempo restrito para comer utilizado neste estudo levou os pacientes a não ingerir o café da manhã, o que, de acordo com estudos prévios, não teve impacto na perda de peso;

  • Não há informações sobre características de base como atividade física, comorbidades, hábitos saudáveis, ingesta de proteínas e gorduras. Estes dados poderiam ter sido levados em conta no momento da randomização;

  • Não ficou claro no artigo o que significa boa aderência relatada pelos próprios pacientes; no grupo controle, por exemplo, não aderência significa pular várias refeições, pular uma refeição, comer mais de 3 refeições ao dia?

  • Possivelmente houve uma diminuição na ingesta de proteínas nos pacientes que fizeram o jejum intermitente, o que justificaria a grande perda de massa magra neste grupo.


Pílula do Clube: A prescrição de TRC não resultou em maior perda de peso quando comparada com o controle de 3 refeições por dia. Também não alterou nenhum desfecho metabólico relevante, mas levou a uma perda significativa de massa magra apendicular.


Discutido no Clube de Revista de 25/01/2021.

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