Andrea M Isidori, Mary Anna Venneri,
Chiara Graziadio, Chiara Simeoli, Daniela Fiore, Valeria Hasenmajer, Emilia
Sbardella, Daniele Gianfrilli,
Carlotta Pozza, Patrizio Pasqualetti,
Stefania Morrone, Angela Santoni, Fabio Naro, Annamaria Colao, Rosario
Pivonello, Andrea Lenzi
Lancet Diabetes
Endocrinol 2018, 6(3):173-185.
O tratamento de
pacientes com insuficiência adrenal consiste em reposição de glicocorticoide,
sendo o uso de hidrocortisona ou cortisona várias vezes ao dia a opção mais
utilizada no mundo atualmente. No entanto, sabe-se que essa reposição está
associada a ganho de peso e alterações metabólicas, então o presente estudo
buscou avaliar como peso corporal, parâmetros metabólicos e perfis de células
do sistema imune de pacientes com insuficiência adrenal são afetados pelo ritmo
circadiano da administração de glicocorticoides. Para isso, foi feito um ensaio clínico randomizado, grupo paralelo, no qual os pacientes eram
randomizados para receber terapia padrão de reposição de corticoide (duas ou três
vezes ao dia) ou hidrocortisona de liberação modificada (1 vez ao dia). Além
disso, foi incluído um grupo controle de indivíduos saudáveis. O desfecho primário
foi mudança no peso corporal do baseline até 24 semanas; e como desfechos
secundários mudança do baseline até 12 e 24 semanas no perfil metabólico
(glicemia, insulina, HbA1c, IMC, circunferência da cintura e lipídios, HOMA);
perfil imunológico (imunofenotipagem de PBMCs e medição de concentrações de
CD16 e ADAM17 solúveis, proteína C-reativa, entre outros); e qualidade de vida
(questionário AddiQoL da doença de Addison).
Foram incluídos 46 pacientes no grupo
que trocou a medicação, 43 no que manteve o tratamento vigente, e 25 controles
saudáveis. Os resultados demonstraram melhora no desfecho primário com –4.0 kg
(–6.9 a –1·1; p=0·008); e alguns resultados estatisticamente significativos
também nos desfechos secundários, com redução de glicada –0.3% (–0.5 a –0.1;
p=0.001); melhora no questionário de qualidade de vida; melhora no padrão de
células imunes normais e redução nas infecções. Na análise de subgrupos
(insuficiência adrenal primária vs. secundária), não houve diferença entre
os grupos. Discutiram-se os seguintes pontos no clube de revista:
- O estudo usou uma medicação
de liberação modificada ainda não disponível no Brasil, o que limita nosso
uso;
- O desfecho primário usado
foi de perda de pelo menos 1 kg de peso corporal, questionou-se a
relevância clínica desta alteração e da escolha deste desfecho primário;
- Os pacientes não eram
cegados, podendo levar a viés de recordação, e também afetar o resultado
de mudança de qualidade de vida;
- Os dados sobre infecção eram
informados pelo paciente, sem avaliação médica formal;
- A avaliação do perfil imune
é muito ampla, não se pode ter certeza se as mudanças encontradas
realmente refletirão em redução de mortalidade por infecções;
- Seria válido considerar
algum estudo comparando com prednisona, amplamente usada em nosso meio, e
que também se usa dose única diária.
Pílula do Clube: Em pacientes com insuficiência adrenal primária ou secundária, a
reposição de glicocorticoide de liberação modificada, uma vez ao dia, melhorou
algumas funções metabólicas e alguns parâmetros imunológicos quando comparado
com reposição em múltiplas doses.
Discutido no Clube de Revista de 12/08/2019.
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