Cameron-Pimblett
A, Davies MC, Burt E, Talaulikar VS, La Rosa C, King TFJ, Conway GS
J Clin
Endocrinol Metab 2019, 104(7):2820-2826.
Trata-se de estudo de coorte
retrospectiva com a base de dados de ambulatório de pacientes com síndrome de
Turner desde 1977 (Turner Syndrome Life
Course Project - University College
London Hospital), que teve como objetivo avaliar associações entre idade da
indução da puberdade e tipo de terapia de reposição estrogênica (TRE) na vida
adulta e desfechos de saúde. Os desfechos avaliados foram: enzimas hepáticas
(ALT, AST, FA, GGT), perfil lipídico, hemoglobina glicada (HbA1c), pressão
arterial (PA), e densidade mineral óssea (DMO).
Foram
convidadas 829 pacientes, e 799 aceitaram participar do estudo; as pacientes
tinham em média 33 anos, diagnóstico de síndrome de Turner aos 10 anos (0-61
anos), 27% tinham hipotireoidismo, 16% hipertensão e 6,6% diabetes. A idade
média de indução de puberdade foi de 14 anos (variação de 5 a 23 anos), observando-se
mudança de prática ao longo do tempo: início mais precoce do estrogênio em
dados mais recentes. Observou-se correlação negativa entre idade de início de
estrogênio e DMO no quadril (r -0,20; P<0,001) e coluna (r -0,22; P<0,001),
sem nenhuma associação entre idade da indução puberal e outros desfechos
avaliados. Quanto à análise de TRE na vida adulta, comparou-se os desfechos
entre os as pacientes que usaram anticoncepcional oral combinado (ACO),
estrogênio oral isolado (EO - valerato de estradiol ou estrogênio equino
conjugado) e estrogênio transdérmico (ET). O grupo que usou ET apresentava
maior idade, IMC, HbA1c e enzimas hepáticas em comparação ao de ACO e EO. Já as
que usavam ACO apresentavam maior colesterol total, LDL, triglicerídeos, e PA
sistólica e diastólica. A idade mediana de interrupção do estrogênio na
população total foi 57 anos. Durante o Clube de Revista, foram discutidos os
seguintes pontos:
·
O
estudo apresenta grande número de vieses que limitam a validade dos resultados:
desenho observacional e retrospectivo, realizado em centro único com manejo de
especialista, com dose, via e ajuste do estrogênio conforme avaliação clínica
(não informados no artigo), sujeito a viés de memória, já que informações
faltantes eram obtidas com as pacientes;
·
Não
avaliou desfechos duros, apenas parâmetros laboratoriais;
·
Os
resultados encontrados estão sujeitos a inúmeros vieses de confusão e
causalidade reversa: por exemplo, as pacientes que usavam ET eram as de maior
risco (maior idade, mais obesas, maior frequência de DM, e com alteração de
enzimas hepáticas), pois é o perfil de paciente em que geralmente se escolhe
essa via de administração;
·
O
uso de ACO se associou com pior perfil lipídico e PA, como já detectado em
estudos na população geral que mostraram o efeito negativo nesses parâmetros;
·
Agruparam-se
dados de diferentes décadas de acompanhamento, porém foi vista uma mudança no
manejo da síndrome de Turner com o passar dos anos, dando-se preferência para o
uso de EO e ET sobre ACO nas consultas mais recentes.
Pílula do Clube: Houve
associação entre idade mais precoce de indução da puberdade e maior densidade
mineral óssea; pior perfil lipídico e maior pressão arterial nas pacientes
usuárias de ACO; e maiores níveis de enzimas hepáticas nas usuárias de TE.
Porém, considerando os vieses presentes, os resultados devem ser interpretados
com cautela.
Discutido no Clube de Revista de
29/07/2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário