Mahshid Dehghan, Andrew Mente, Xiaohe Zhang, Sumathi
Swaminathan, Wei Li, Viswanathan Mohan, Romaina Iqbal, Rajesh Kumar, Edelweiss
Wentzel-Viljoen, Annika Rosengren, Leela Itty Amma, Alvaro Avezum, Jephat
Chifamba, Rafael Diaz, Rasha Khatib, Scott Lear, Patricio Lopez-Jaramillo,
Xiaoyun Liu, Rajeev Gupta, Noushin Mohammadifard, Nan Gao, Aytekin Oguz, Anis
Safura Ramli, Pamela Seron, Yi Sun, Andrzej Szuba, Lungiswa Tsolekile, Andreas
Wielgosz, Rita Yusuf, Afzal Hussein Yusufali, Koon K Teo, Sumathy Rangarajan,
Gilles Dagenais, Shrikant I Bangdiwala, Shofiqul Islam, Sonia S Anand, Salim
Yusuf, on behalf of the show Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE) study
investigators
Lancet 2017: S0140-6736(17)32252-3
Trata-se
de estudo de coorte prospectiva cujo objetivo foi avaliar o consumo de gorduras
e carboidratos e desfechos cardiovasculares e mortalidade. A coleta de dados
ocorreu entre 2003 e 2013. Foram incluídos indivíduos entre 35 e 70 anos de 18
países, abrangendo cinco continentes.
Foram recrutados 135.335 participantes e excluídos pacientes com doença
cardiovascular (DCV) prévia. No início
do estudo foram aplicados questionários de estilo de vida, avaliação
socioeconômica, história médica, e um QFQ (questionário de frequência
alimentar) validado para o país em questão. Os indivíduos foram avaliados no
basal e 3, 6 e 9 anos quanto ao peso, altura e relação cintura e quadril. Eram
feitas ligações anuais para avaliação dos desfechos do estudo. Os desfechos
primários foram mortalidade total e eventos cardiovasculares maiores. Os
desfechos secundários foram IAM, AVC, mortalidade por DCV e mortalidade por
doenças não cardiovasculares. Na análise estatística todos os modelos foram
ajustados para sexo, idade, educação, tabagismo, atividade física, diabetes, se
rural ou urbano e ingestão energética diária. Nos modelos foram comparados os
quintis de consumo de cada macronutriente. Durante o acompanhamento de uma
média de 7, 4 anos foram documentadas 5.796 mortes e 4.784 eventos
cardiovasculares maiores. Quando avaliado o 1º vs. O 5º quintil de consumo de carboidrato observou-se maior risco
de mortalidade (HR 1,28 IC95% 1,12-1,46) naqueles que ingeriam mais
carboidratos, sem, no entanto, haver maior número de eventos cardiovasculares
maiores e mortes por doença cardiovascular nesta comparação. O maior consumo de
gordura se associou com diminuição de mortalidade geral e mortalidade por causa
não cardiovascular [5º vs. 1º quintil
(HR 0,77 IC95% 0,67–0,87). Considerando os tipos de gorduras, todas se
associaram com menor mortalidade geral e por causas não cardiovasculares: gordura
saturada (HR 0,86 IC95% 0,76-0,89); monoinsaturada (HR 0,81 IC95% 0,71-0,92);
polinsaturada (HR 0,80 IC95% 0,71-0,89).
Não houve modificação do risco de infarto agudo do miocárdio e morte por
doenças cardiovasculares. Durante o Clube de Revistas, os seguintes pontos
foram discutidos:
·
O estudo não avaliou em separado os tipos de
carboidratos consumidos, portanto o dado de aumento de mortalidade quando
ingestão de > 60 % da dieta em carboidrato pode refletir o consumo de
alimentos de pobre valor nutritivo e não do consumo de carboidratos como um
todo;
·
Como a análise não foi
corrigida para status socioeconômico, não se pode excluir que indivíduos com
menor poder aquisitivo, oriundos de países mais pobres, consumiam mais este
nutriente e de terem tido maior mortalidade não pela dieta em si, mas pelo
contexto em geral de desigualdade social e econômica (viés de confusão);
·
O consumo de gorduras saturadas não se associou
a piora de desfechos cardiovasculares, mas se associou a menor mortalidade. Tal
dado é contrário às recomendações atuais das diretrizes, que recomendam ingestão
de gorduras saturadas de menos de 10 % da ingestão de gorduras totais;
·
Reforça a hipótese de que viés
de confusão (fator socioeconômico) foi responsável pelos achados o fato de não
ter havido maior mortalidade por causas cardiovasculares acompanhando a redução
de mortalidade geral. Tal dado desafia plausibilidade biológica
esperada, de que a redução de mortalidade ocorreria às custas de menor
mortalidade cardiovascular pelas alterações lipídicas induzidas pela dieta;
·
Não foram feitas correções estatísticas para
outros tipos de comorbidades que pudessem comprometer o padrão alimentar.
Pílula
do Clube: Dieta rica em gorduras (35%) se associou à
redução de mortalidade geral sem alteração de mortalidade cardiovascular, independente
do tipo de gordura ingerida. O consumo excessivo de carboidratos (> 60%),
que pode estar associado a piores condições socioeconômicas, se associou com
aumento da mortalidade geral.
Discutido
no Clube de Revista de 04/09/2017.
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